Araucária. Foto: Wikipedia
25 de Abril, São Carlos, SP
Dia Municipal da Araucária
Data Adverte sobre o Risco de Extinção da Espécie Símbolo da Cidade Devido ao Aquecimento Global
[Por Paulo Mancini] Estabelecido em 2002, pela Câmara Municipal de São Carlos, através da Lei Municipal 12.988/02, no dia 25 de abril comemora-se (ou, pelo menos legalmente, deveria comemorar) em nossa cidade, o Dia Municipal da Araucária.
O motivo da escolha desta data foi o fato de que 25 de abril situa-se bem no meio da Festa do Clima, que oficialmente celebramos entre os dias 21 de abril e 01 de maio.
A árvore, que compõe a bandeira e o brasão do município, cujas matas (os pinhais que viraram título nobiliárquico do fundador da cidade, Conde do Pinhal) originalmente ocupavam pelo menos cerca 50 km2(ou cerca de 5.000 hectares, que equivalem a 5000 campos de futebol) do território de São Carlos (1140 km2); como vicejavam principalmente em áreas recobertas pela fértil ‘terra roxa’ (do italiano ‘rossa’ que significa ‘vermelha’), foram completamente derrubadas durante o século XIX e início do século XX, para o cultivo do café, principal produto de exportação do Brasil naquele período.
A Araucária, o Aquecimento Global e a Urgência Negligenciada
É sintomático de um mal também global, o fato de nossa cidade ter inicialmente devastado suas matas de araucárias; convertido-as em símbolo, e depois as esquecido, especialmente de recuperar, pelo menos parte, do patrimônio natural suprimido.
Há poucos dias o IPCC – Painel Intergovernamental para Mudanças Climáticas, da ONU – Organização das Nações Unidas, publicou seu terceiro relatório sobre a crise climática global, que devido às emissões de gases de efeito estufa (GEE), a maioria devido à poluição originária de atividades humanas, tem elevado a média da temperatura em todo o Planeta.
Neste relatório, que reúne conclusões a partir do exame de dados colhidos por mais de mil cientistas de todos os continentes, o IPCC faz advertências ainda mais fortes sobre a gravidade do aquecimento global que ameaça nosso futuro e já nos impõe tragédias que poderiam ter sido evitadas casos as advertências feitas, há, pelo menos, quatro décadas, pelos ambientalistas tivessem sido ouvidas com alguma sensibilidade.
Agora não são mais ecologistas – malucos, eivados de emocionalismos catastrofistas, ecochatos e viados – que profetizam horrores para humanidade e toda vida na Terra: são previsões científicas que asseguram que se em até 2030 a humanidade não conseguir cortar pelo menos 40% das emissões de GEE (dióxido de carbono, metano, ósidos de nitrogênio, etc) não conseguiremos evitar que a temperatura média global, que já subiu cerca de um (01) grau célsius, se eleve além de dois graus célsius. Acima disto, advertem, são imprevisíveis e incontroláveis os transtornos climáticos e suas consequências à vida humana.
Mas os governos dos países-membros da ONU continuam agindo sem levar a sério as advertências, especialmente os que mais poluem. E, principalmente, sem implementar as recomendações dos cientistas para que adotem medidas drásticas para redução das emissões de gases de efeito estufa.
O modelo econômico dominante de desregulação global e grande voracidade rentista, parece não combinar com a regulação ambiental e ecológica global necessária para sustarmos a degradação do presente, promovermos, pelo menos parte, da recuperação do já consumido, para legarmos um futuro saudável aos nossos descendentes.
E as araucárias? Que elas significam nesta tragédia anunciada, mas ainda evitável, se, enquanto humanidade, agirmos com prontidão?
Esta espécie vetusta, que existe há pelo menos 250 milhões de anos no continente americano (a espécie humana, como tal, tem no máximo 150 mil anos) vive, idealmente, numa faixa de temperatura variável entre dez (10) e dezessete (17) graus célsius. Por isso as matas de araucária são um bioma, que praticamente só existe ainda no Brasil, vêm sendo monitoradas como indicador das mudanças climáticas globais, pois o aquecimento global, que pode até favorecer outras espécies de árvores, poderá ser fatal para esta espécie que já convivia com os primeiros dinossauros (que desapareceram há 65 milhões de anos) e sobrevive até hoje.
Pinhões: Sementes de Esperança
Pinhas e sementes. Foto: Wikipedia
Muitos não sabem que os pinhões, que agora começam a chegar às prateleiras e são mais consumidas nas festas juninas, são as sementes das araucárias.
As araucárias são plantas primitivas, pouco evoluídas, sua reprodução é exigente: existem árvores machos e árvores fêmeas. Nos órgãos sexuais masculinos (estróbilos masculinos) nascem os polens, que só pelo vento são transportados para as ‘pinhas’ (estróbilos femininos) das árvores fêmeas, ali promovem a fecundação dos óvulos, donde nascem os pinhões.
As pinhas caem ao solo quando maduras. Se ali ficarem, como numa espiga de milho jogada ao chão, dos numerosos pinhões brotariam muitas mudas todas juntas e nenhuma delas sobreviverá. É preciso que animais como gralhas, esquilos, outros e o próprio ser humano, espalhem as sementes, que são os pinhões, muitas vezes os enterrando para esconder e comer posteriormente, os quais, esquecidos pelos animais, brotarão após alguns dias, fazendo vingar novas árvores.
Cidade do Clima/Capital da Tecnologia
São Carlos, que já foi “Atenas Paulista”, “Cidade Sorriso”, “Cidade do Clima”, nas duas últimas décadas converteu-se na “Capital da Tecnologia” e, recentemente foi aprovado o epíteto de “Capital do Conhecimento”.
É indispensável que São Carlos dê exemplo e forte contribuição, especialmente nas áreas de C&T, no combate ao aquecimento global, em conexão com os esforços mundiais que se fazem necessários para superarmos a crise climática global, uma que na década de 60 do século passado, instituiu, pioneiramente, a sua “Festa do Clima”, um calendário para comemorar a qualidade de seu clima agradável para os seres humanos.
São as araucárias que sinalizam esta excepcional qualidade climática.
Plantemos araucárias, onde for possível e adequado, hoje e sempre. Plantar árvores é um ato concreto para redução de gases de efeito estufa. Plantar araucária é um ato de fé. Não há hoje, segundo climatologistas, cientistas sociais e economistas, nada que indique, por enquanto, que elas sobreviverão em São Carlos e região, se nossa temperatura média subir acima de dois graus nos próximos anos.
Mas é preciso que tenhamos fé, especialmente quando vemos brotar novas vidas no nosso horizonte.
Por isso os pinhões são, hoje, sementes da esperança. Da esperança de que, além de celulares de última geração, automóveis top de linha e óculos 3D, tenhamos ar saudável para respirar; água em qualidade e quantidade suficientes para beber; terra saudável para plantar, colher e comer; sol e calor como alegria para viver e não para nos torrar os miolos e nos arrebatar o futuro.
São Carlos, 25 de abril de 2014
Paulo J.P. Mancini
ReenvoltaSocioambiental
Plantio de pinhão
Texto extraído do site: www.ambientebrasil.com.br
Escolha boas sementes, ou seja, adquira uma boa quantidade de pinhão.
“Na verdade, a Araucária é uma espécie tão fácil de ser reproduzida que, normalmente, são feitas campanhas de reflorestamento com crianças usando o pinhão como semente”.
Passos:
1 – Escolha boas sementes, ou seja, adquira uma boa quantidade de pinhão. Cozinhe alguns e, enquanto você os vai comendo, enterre os melhores – maiores e mais redondos. O plantio da semente da araucária é feito quando os pinhões estão novos. O detalhe mais importante é que eles deverão ser enterrados deitados em um saco ou pote com terra rica em húmus (terra preta), cuidando para que esta terra permaneça úmida, mas nunca encharcada.
2 – Quando as mudas atingirem mais ou menos 20 cm, podem ser transferidas definitivamente para o solo em projetos de ajardinamento, reflorestamento com vistas a reabilitação de florestas ou plantio de talhões comerciais.
3 – Esta espécie não gosta de sol direto quando nova (menos de 1,5 m.), portanto, pode-se plantar as mudas sob a sombra de eucaliptus, em um espaçamento bom -3 m entre as árvores. É uma boa maneira de começar a substituir o eucalipto, que é uma árvore barata, por uma mais preciosa, o pinheiro brasileiro.” (Fundação Gaia)
EcoDebate, 25/04/2014
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