quarta-feira, 23 de abril de 2014

Causa Indígena:Uma paixão que nunca acaba...

Qualquer pessoa que estuda a maneira de viver do índio e sua cultura tradicional, torna-se um eterno enamorado por que descobre que eles respeitam o outro, vivem coletivamente sem conhecer o egoísmo e se mantém puros em espírito pela relação direta com a natureza.


Neste grupo de pessoas eu me identifico entre tantas que sentem um amor eterno, sem culpas, satisfeitas de conhecer a sabedoria ancestral destes povos tribais. Um caso de amor que começou quando recebi um convite para fazer uma pesquisa sobre plantas medicinais nas Reservas Indígenas do Paraná. Um trabalho feito para o Governo do Paraná, onde, na época, era a jornalista que atuava na Assessoria de Imprensa da Secretaria da Saúde. A ideia era fazer uma exposição fotográfica e divulgar a importância das plantas e de suas propriedades curativas. Mostrar que a floresta é uma verdadeira farmácia. O grupo, eu como jornalista, uma fotógrafa e um índio que fazia a vez de um tradutor, foi percorrer áreas onde viviam índios que sabiam sobre plantas medicinais.

Uma experiência fascinante! Uma oportunidade única de conhecer pessoas inesquecíveis como o seo Domingues, um índio já civilizado e casado com uma branca, mas muito sábio no seu conhecimento de como a floresta é uma verdadeira farmácia. Com este senhor percorri trilhas dentro da floresta e de tempos em tempos ele parava para apontar com o dedo uma árvore ou uma planta que servia para tratar uma ou outra doença.

Neste caminhada foram muitas plantas e muitas receitas de como fazer o chá da casca ou macerar a folha para iniciar um tratamento. Na diversa e exuberante flora brasileira encontramos "Amora Branca", para tratar o colesterol. Mamica de Cadela, um excelente antídoto para mordidas de aranhas e serpentes e também para curar enurese noturna de crianças. Escada de Macaco, que serve para tratar ulcera e outras tantas infinitas plantas medicinais.

Na Reserva Indígena de Ortigueira, uma índia Kaingang que não falava nada em português e indicava as plantas medicinais com a mão, dizendo esta, exemplo, é a urtiga e serve como depurativa do sangue (traduzia o índio). As plantas medicinais que os índios conhecem são inúmeras e eles tratam de tudo. Existem as contraceptivas, as bactericidas, as indicadas para depressão e stress. Eles sabem que o Universo esconde dentro da floresta um tesouro inestimável, a maior e mais completa farmácia a céu aberto.

O chefe da tribo, o pajé, nunca permanece com alguma coisa somente para si. Quando recebe uma doação, seja em comida ou outra coisa, ele divide com toda a tribo. A regra tribal é o bem comum, pensar coletivamente. Todos os dias o povo Guarani vai a Casa da Reza para se reunir em torno de uma fogueira, cantar e dançar em um ritual espiritual, usando a música em comunhão com o ritmo dos passos, para limpar a alma. O som de uma rabeca mais a dança e o canto, que se assemelha a um lamento ou uma saudade de algo que se manifesta numa dimensão misteriosa, arrepia até o último fio de cabelo do espectador curioso. "É para falar com o invisível", explica um Guarani.

Algumas tribos Guaranis que ainda vivem no Sul do Brasil, por serem mais arraigadas às suas crenças espirituais, se mantiveram genuínos e fiéis à sua cultura. O que relatei é um pequeno exemplo do modo de viver de um povo nativo que eu vivenciei por um período, e posso dizer que Debret foi equivocado em sua classificação, definindo homens brancos como civilizados e índios como selvagens. Uma de suas aquarelas apresenta homens, com armas, aprisionando índios, mulheres e crianças. Este desrespeito ocorreu e ainda permanece até hoje com uma sociedade tribal que deveria ser exemplo para outros povos que se alojaram neste vasto território e usufruem de suas riquezas. O índio continua ser desrespeitado dentro da sua casa e na sua condição de vida neste mundo contemporâneo. Hoje as armas são outras.

Os selvagens somos nós!

Mari Weigert
21/04/2014

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