quarta-feira, 7 de maio de 2014

De dentro para fora

Talvez seja estranho que tenha levado tanto tempo, mas a impressão que se tem atualmente é que a ideia de que saúde é mais do que simplesmente a ausência da doença está começando a ganhar espaço de verdade no cotidiano de muita gente, indo além da dupla “obrigatória” academia-e-corridinha. Especialmente a equação alimentação = saúde tem ganho muito destaque e alguns hábitos alimentares vem sendo alvo de debates constantes. Parte desta atenção vem das polêmicas envolvendo os transgênicos, frangos com esteróides; crueldade para com os animais confinados ou a revelação de que o que é servido por alguns fast-foods, como há muito se suspeitava, não é exatamente o que se possa chamar de alimento. Por diversas frentes, a consciência alimentar vem ganhando espaço, seja através da nutrição esportiva, da alimentação vegana ou da nutrologia funcional, que pretende alinhar alimentação de um modo que corresponda ao que o indivíduo efetivamente necessita para o seu estilo de vida.

A tendência em direção à alimentação baseada em vegetais incorpora uma visão de saúde que vai além do estrito cuidado com o corpo, como explica a médica e nutróloga Dra. Luiza Savietto: “Meu objetivo como médica é fornecer ao indivíduo a chance de ser o autor principal de sua própria cura, através de uma dieta saudável, que nutra corpo, mente e espírito e também disseminar o conhecimento de alimentos específicos que podem otimizar muito o processo diário de cuidado de si mesmo, numa espécie de retorno as raízes e ritual diário de respeito e devoção ao corpo, possibilitando assim bem-estar, alegria, disposição, bom funcionamento do sistema imune e longevidade.” Como se vê, passa longe da cartilha “onde é que dói / tome aqui a receita”. Claro que, diferente da abordagem convencional, a busca da saúde através da alimentação demanda atitude, e pode levar à necessidade de preparar a própria comida com muito mais freqüência do que a maioria das pessoas faz. Mas longe de ser um problema, para os adeptos dessa nova forma de alimentação, isso é “parte do ritual” e denota justamente a atenção e dedicação para com a saúde. Em metrópoles como São Paulo, comer fora não é necessariamente um problema para vegetarianos, veganos (quem não consome nenhum alimento de origem animal; leite, ovos ou mel, por exemplo) e adeptos de dietas alternativas. Curiosamente, apensar de os Estados Unidos serem o berço do fast-food, Los Angeles foi eleita recentemente numa pesquisa mundial como a cidade mais amigável e com mais opções para os vegetarianos. Já em cidades menores, se por um lado pode ser mais restritivo comer fora, por outro, em muitas delas, as pessoas ainda conservam o hábito de almoçar em casa.

Esporte e espiritualidade

Além da alimentação como prevenção de doenças, outros caminhos tem levado muita gente a novos hábitos alimentares e são, pelo menos aparentemente, bem distantes um do outro. Os adeptos do esporte tem prestado cada dia mais atenção ao que consomem, como uma forma de melhorar desempenho esportivo, trazendo para o cotidiano dos amadores um conjunto de conhecimentos sobre alimentação que antes fazia parte apenas das dietas de atletas profissionais. Aliás, se muitos esportistas amadores ainda encontram dificuldades para disciplinarem-se sozinhos, há um novo “personal” no mercado: o “personal-diet”. De acordo com a consultora e especialista em fisiologia do exercício Luciana Rossato: “ o Personal Diet é um profissional da nutrição que presta atendimento personalizado de acordo com a necessidade e objetivo do paciente. O atendimento pode ser individual, para a família ou para grupos e empresas; e eu realizo o atendimento nutricional na residência, na academia ou no local de trabalho. Isso gera melhor aproveitamento do tempo e melhores resultados.”

Já o aspecto espiritual entra no assunto da alimentação por uma outra via; geralmente relacionada à compaixão aos animais. Religiões como o hinduísmo e diversas correntes da filosofia budista recomendam abster-se de carne por uma questão de respeito à vida dos outros seres, o que também está na origem desta recomendação para os praticantes de yoga, por exemplo.

Por qualquer um dos caminhos, o fato é que até mesmo a Organização Mundial de Saúde e a ONU têm investido forte para recomendar a redução do consumo de carne, por razões bem mais pragmáticas: os números de produção agrícola indicam que desde 2006, o volume anual de grãos cultivados no planeta seria suficiente para que não houvesse um único ser humano passando fome. A maior parte dos grãos produzidos no mundo, entretanto, é usada para alimentar o rebanho bovino, o que cria uma situação no mínimo chocante: crianças morrem de fome na África para que não faltem bifes e hambúrgueres nos países ricos.

O que pode indicar uma alternativa mais positiva é que, a contar todas as novas tendências de alimentação e inúmeras fontes de proteínas à disposição, talvez possa ser ignorada uma outra recomendação recente da ONU que foi muito mal recebida no ocidente: a que de se considere consumir insetos como fonte alternativa de proteína.
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Paulo Ferreira é escritor, coach e consultor em desenvolvimento organizacional do bem estar humano; conselheiro e representante do Nikola Tesla Institute em SP. © 2014.

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