Foto: ICMBio
Caça é apontada como principal fator responsável pela redução das populações da espécie no bioma mais ameaçado do país
A jaguatirica (Leopardus pardalis), felino com poucas populações remanescentes na Mata Atlântica, está sendo estudada no Parque Estadual da Serra do Mar (SP). A espécie foi escolhida para estudo por ser predador de topo de cadeia alimentar, desempenhando importante papel na manutenção dos ecossistemas. Outro fator que levou a pesquisá-la foi o fato de ela estar fortemente associada à cobertura vegetal, sendo consequentemente muito sensível a perdas do seu habitat. Além disso, a espécie consta na lista nacional dos animais ameaçados de extinção.
A conservação da jaguatirica está sendo avaliada num projeto realizado pelos pesquisadores Fernando dos Santos Fernandez e Patrícia Mendonça, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, com financiamento da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza.
O Parque Estadual da Serra do Mar foi a região escolhida para o projeto, porque a unidade de conservação (UC) está localizada dentro da maior área contínua preservada de Mata Atlântica do Brasil e também é a maior área de proteção integral desse bioma. Segundo os pesquisadores, provavelmente nesse parque esteja uma das maiores populações de jaguatirica ainda existentes na Mata Atlântica. Por esses motivos, a UC é o cenário ideal para avaliar o status de conservação do felino.
O processo para determinar quantos indivíduos existem no parque é minucioso. “Fazemos captura, marcação e recaptura fotográfica (visualização por meio de armadilhas fotográficas). A primeira vez que você detecta um bicho é como se o estivesse capturando e quando o detecta novamente é como se o estivesse recapturando. Assim, estimamos o tamanho populacional das jaguatiricas na região”, explica o pesquisador Fernandez. Esse método não invasivo é eficaz e possibilita o estudo de felinos identificáveis individualmente pelo seu padrão de manchas nos pelos.
De acordo com o pesquisador, foram encontrados cerca de 160 felinos, um número que indica a necessidade de ações efetivas de conservação. “Essa é uma situação que não é desesperadora, mas merece muita atenção. Essa população requer cuidados para que não venha a diminuir ainda mais”, ressalta. Fernandez afirma que não existe um número específico de indivíduos que caracterize o perigo de extinção. “Nossa mente tende a classificar tudo, mas atribuir um valor abaixo do qual a situação seria ‘crítica’ seria meramente arbitrário. O que precisamos é agir para conservar a espécie antes que esse momento crítico chegue”, destaca.
Para Fernandez, um grande fator de ameaça aos felinos é a caça ilegal de animais dentro da unidade de conservação. “O Parque Estadual da Serra do Mar tem 315 mil hectares e sofre com a caça ilegal, então o maior problema que eu vejo é a redução da quantidade de indivíduos pela falta de alimento, pois as pessoas caçam e eliminam as presas naturais das jaguatiricas, como roedores, tatus, aves, gambás e macacos”, destaca.
Segundo o Plano de Ação Nacional (PAN) de Conservação dos Pequenos Felinos, do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), outras pressões que a jaguatirica sofre além da caça são as alterações de habitat e conflitos com atividades antrópicas como expansão agrícola, silvicultura e queima de pastagens. O documento afirma ainda que a lacuna de conhecimento sobre as espécies de pequenos felinos como a jaguatirica é um fator que dificulta a aplicação de ações de conservação, pois os conhecimentos básicos da biologia, ecologia e distribuição são determinantes para a priorização de ações locais de mitigação das ameaças.
Com esse foco de geração de conhecimento, o projeto de Fernandez obteve uma estimativa de tamanho populacional confiável para a população de jaguatiricas da região. Assim, foi possível avaliar o status de conservação da espécie na região e detectar algumas ameaças a ela.
O resultado da pesquisa, juntamente com recomendações para a conservação da jaguatirica, serão entregues à direção do Parque Estadual da Serra do Mar para complementação dos esforços públicos de conservação já realizados no local.
Sobre a jaguatirica
Também chamada de gato-maracajá ou maracajá-verdadeiro, a jaguatirica é um felino de pequeno-médio porte que habita regiões de Mata Atlântica, Cerrado, Caatinga e Pantanal que tenham cobertura vegetal mais densa. Ela é o terceiro maior felino das Américas, ficando atrás apenas da onça-pintada e do puma. O comprimento da espécie pode chegar a 1,35 metro (incluindo o rabo) e o peso varia entre oito e 16 quilos. Com hábitos noturnos, a espécie é exímia caçadora, tendo grandes unhas que são constantemente afiadas nas cascas de árvores. A alimentação é variada e inclui aves, anfíbios e répteis e pequenos mamíferos como macacos, morcegos e roedores.
Sobre a Fundação Grupo Boticário – A Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza é uma organização sem fins lucrativos cuja missão é promover e realizar ações de conservação da natureza. Criada em 1990 por iniciativa do fundador de O Boticário, Miguel Krigsner, a atuação da Fundação Grupo Boticário é nacional e suas ações incluem proteção de áreas naturais, apoio a projetos de outras instituições e disseminação de conhecimento. Desde a sua criação, a Fundação Grupo Boticário já apoiou 1.377 projetos de 472 instituições em todo o Brasil. A instituição mantém duas reservas naturais, a Reserva Natural Salto Morato, na Mata Atlântica; e a Reserva Natural Serra do Tombador, no Cerrado, os dois biomas mais ameaçados do país. Outra iniciativa é um projeto pioneiro de pagamento por serviços ambientais em regiões de manancial, o Oásis. Na internet: www.fundacaogrupoboticario.org.br, www.twitter.com/fund_boticario e www.facebook.com/fundacaogrupoboticario.
Colaboração de Maria Luiza Campos, NQM, para o EcoDebate, 12/05/2014
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