sexta-feira, 27 de junho de 2014

Mulheres: garimpeiras da natureza

Educação Popular

Por Rosângela Angelin*

A Associação Regional de Educação, Desenvolvimento e Pesquisa (AREDE) vem desenvolvendo, nos últimos anos, projetos com mulheres, em especial agricultoras, sendo trabalhados e debatidos temas envolvendo a geração de renda, bem como outros mais pontuais como o papel das mulheres na sociedade, mulheres no mercado de trabalho e a violência contra a mulher. 

Neste mês de março, quando a “mulher” encontra-se mais em voga, pretendemos abordar vários aspectos da vida destes seres humanos misteriosos.

Sendo assim, nesta edição do COOPERJORNAL, abordaremos o motivo pelo qual as mulheres, mais que os homens, têm um grande conhecimento sobre as ervas medicinais (chás) e passam isso de geração a geração, para suas filhas, netas e amigas.

É muito comum em nossa região, usarmos primeiramente o tratamento de chás para curar doenças e só depois recorrermos a cuidados médicos. A grande maioria das mulheres conhece vários tipos de chás para cada tipo doença e, com isto, conseguem resolver, em casa, a maioria dos problemas de saúde da família. Mas, esta arte de conhecer as ervas medicinais tem uma explicação histórica.

Depois que a humanidade deixou de ser nômade e começou a viver fixa em determinados locais, as mulheres permaneceram mais ligadas ao lar e aos filhos, enquanto os homens se ocupavam, prioritariamente, com as caçadas. Assim, as mulheres descobriram a agricultura e passaram a ter uma relação mais próxima com a natureza. Elas usavam a natureza para alimentar a família e também para curar e tratar as pessoas doentes da família e comunidade.

Na Idade Média, as mulheres eram as responsáveis pelos partos, atuando também como enfermeiras e assistentes de pessoas doentes. Conheciam e entendiam sobre o emprego de plantas medicinais para curar enfermidades e epidemias nas comunidades em que viviam e, conseqüentemente, eram portadoras de um elevado poder social. Essas mulheres representavam, muitas vezes, a única possibilidade de atendimento médico para pessoas pobres.

Elas foram, por um longo período, “médicas sem título”. Elas aprendiam o ofício umas com as outras e passavam esse conhecimento para suas filhas, vizinhas e amigas. Podemos dizer, portanto, que as mulheres foram as primeiras médicas do mundo. Com o surgimento dos médicos com título e por estas mulheres representarem um poder muito grande em suas comunidades, já que possuíam um enorme respeito social, elas foram perseguidas, condenadas e a maioria delas assassinadas. Mesmo assim, o conhecimento milenar das plantas medicinais foi mantido e passado de geração a geração por mulheres em todo o mundo.

Atualmente, as ervas medicinais continuam sendo muito usadas pela sociedade e encontramos também muitos grupos de mulheres que trabalham no processamento de plantas medicinais, fazendo elixires ou extraindo extratos das plantas e produzindo tinturas. Essas mulheres, como vimos no decorrer da história, seguem sendo reprimidas por parte dos médicos, pelo setor farmacêutico tradicional (que fatura bilhões por ano e também é contrário aos fitoterápicos) e pelo Estado, por usarem as plantas medicinais e fazerem medicamentos. Mesmo assim, elas resistem e lutam pela legalização das chamadas “farmácias alternativas” ou “farmácias naturais”. Uma luta, sem dúvida, mais do que justa.
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* Doutora em Direito pela Universidade de Osnabrueck (Alemanha), Docente do Curso de Direito das Faculdades Integradas Machado de Assis (FEMA) e Colaboradora da AREDE.

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