[Por Larissa Straci, para o EcoDebate] Monitoramento de parâmetros relaciona alterações nas características físicas, químicas e biológicas da água. Processo é fundamental para mensurar os índices de qualidade dos recursos hídricos, especialmente da água direcionada ao abastecimento público
A água do planeta sofre constantes transformações, se renova e é reutilizada. Uma das principais transformações que a água sofreu no último século é a crescente contaminação, problema que afeta especialmente as grandes áreas urbanas e zonas litorâneas. Em razão do aumento da importância da água para a segurança de populações e devido ao risco de contaminação decorrente das atividades humanas surge a necessidade de um controle mais rígido para o abastecimento público. Neste cenário, destaca-se a importância do monitoramento da qualidade da água para a gestão dos recursos hídricos.
De acordo com a Agência Nacional de Águas (ANA), o monitoramento é o conjunto de práticas que visam o acompanhamento de determinadas características de um sistema. No monitoramento da qualidade das águas naturais são acompanhadas as alterações nas características físicas, químicas e biológicas da água, decorrentes de atividades antrópicas e de fenômenos naturais. As práticas relacionadas ao monitoramento incluem a coleta de dados e de amostras em locais específicos, feita em intervalos regulares de tempo, de modo a gerar informações que possam ser utilizadas para a definição das condições presentes de qualidade da água.
Para Mauro Banderali, especialista em instrumentação hidrometeorológica da Ag Solve, os problemas com a qualidade da água começam, quase sempre, na captação. “As águas dos rios e barragens ou as subterrâneas, quando contaminadas, trazem consigo uma carga de substâncias tóxicas. Tais substâncias podem atingir até 80 mil diferentes organismos ou moléculas químicas originárias de processos industriais, dos agroquímicos, da indústria de fármacos, entre outros. Por isso, monitorar a qualidade da água a ser distribuída é uma questão de saúde pública.”
Monitoramento em São Paulo
Fábio Netto Moreno, gerente do Setor de Águas Interiores da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (CETESB) explicou, durante o workshop “Água e Saúde”, promovido pelo Centro de Vigilância Sanitária de São Paulo e pela Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP), que a companhia alimenta dados da Rede Básica de Monitoramento de Águas Superficiais e Subterrâneas, visando fornecer um diagnóstico geral dos recursos hídricos no estado. “Atualmente, a Rede conta com 384 pontos de monitoramento, com uma frequência bimestral e compreende uma análise de aproximadamente 60 variáveis físicas, químicas e biológicas. Essa Rede Básica está sendo incorporada à Rede Federal de Monitoramento da ANA”, pontua.
A CETESB também é responsável pelo monitoramento automático para o controle de fontes poluidoras e da qualidade da água destinada ao abastecimento púbico. O monitoramento automático é realizado a cada hora e mede parâmetros como Oxigênio Dissolvido (OD), pH, Temperatura, Condutividade e Turbidez. “Em relação às aguas subterrâneas, a Rede conta com 272 pontos e gera um diagnóstico das águas subterrâneas brutas, visando também subsidiar ações de prevenção e controle da poluição do solo e da água subterrânea”, detalha Moreno. O monitoramento das águas subterrâneas é realizado semestralmente e mede mais de 40 parâmetros físicos, químicos e biológicos.
Índices apontam qualidade da água
O gerente do Setor de Águas Interiores da CETESB, Fábio Netto Moreno, também falou sobre a importância dos índices de qualidade da água, que sistematizam um grande número de variáveis. “Os índices são números utilizados para classificar os corpos hídricos em faixas de qualidade. Eles possibilitam ao órgão responsável pela gestão da água identificar as áreas prioritárias, que merecem algum tipo de atividade de controle. Também permitem uma interface com o público, comunicando sobre a qualidade no corpo hídrico, além de colaborar na investigação científica. Uma desvantagem da utilização de índices é que, quando você abrange um grupo de variáveis, fica difícil individualizar aquela variável que está sendo responsável pela classificação, ruim ou boa, deste índice”, aponta.
Segundo Moreno, o Índice de Qualidade das Águas para Fins de Abastecimento Público (IAP) é o índice utilizado pela CETESB para indicar as condições de qualidade da água bruta captada pela Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (SABESP) e também por outras concessionárias. “O IAP permite classificar a água com a finalidade de abastecimento ao público. Ele vai avaliar a qualidade do manancial e integrar variáveis que influenciem a qualidade da água para este público. O IAP é produto de multiplicação do Índice de Qualidade das Águas (IQA) pelo Índice de Substâncias Tóxicas e Organolépticas (ISTO)”.
“O IQA é importante, pois indica a presença de esgoto doméstico no corpo hídrico, através de variáveis como Temperatura da Água, pH, Oxigênio Dissolvido, Demanda Bioquímica do Oxigênio (DBO), Coliformes Termotolerantes/ E. coli, Nitrogênio Total, Fósforo Total, Sólidos Totais e Turbidez”, comenta Moreno. “Já o ISTO, compreende as Substâncias Organolépticas (SO), aquelas que vão conferir gosto ou odor à água e vão impactar o estímulo sensorial de quem a consome. Dentro dessas variáveis estão: Ferro, Manganês, Alumínio, Cobre e Zinco. Também dentro do ISTO estão as Substancias Tóxicas (ST), que são mensuradas pelas seguintes variáveis: Potencial de Formação de Triahalometanos, Número de Células Cianobactérias e os metais Cádmio, Chumbo, Cromo, Mercúrio e Níquel. Para o cálculo deste risco se utilizam curvas de qualidade, onde são atribuídos valores de 0,5 à 1 ao limite inferior e ao limite superior”, detalha o gerente.
IAP aponta pior índice em três anos
A qualidade da água captada para abastecimento no estado de São Paulo registrou, em 2013, o pior índice em três anos. De acordo com relatório da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) divulgado em maio de 2014, o Índice de Qualidade das Águas para Fins de Abastecimento Público (IAP) verificado em 72 pontos de captação foi considerado bom em 46% das amostras, regular em 35% e ruim ou péssimo em 17%. Para efeito de comparação, em 2012 o total percentual de pontos com qualidade boa foi de 61%.
O relatório da Cetesb aponta pontos de captação com qualidade considerada ruim durante a média das coletas no ano passado em trechos dos rios Acaraú, Atibaia, das Conchas, Capivari, Corumbataí, Cubatão, Jaguari, Jundiaí, Mogi Mirim, Tietê, Sorocaba, Sorocabuçu, Paraíba do Sul, da Prata, Piaçaguera, Piracicaba, Piraí e São José dos Dourados e Una. Também foram identificados pontos de qualidade ruim nos reservatórios Billings, de Barra Bonita, Cachoeira de Cima, Cascata, do Guarapiranga e do Rio Grande.
Ao todo, a Cetesb monitora a qualidade da água bruta usada para abastecimento público para 23 milhões de habitantes em 69 municípios. Segundo o relatório, o lançamento de esgotos domésticos in natura, ou coletado e não tratado, consiste ainda numa das principais causas da poluição das águas no Estado de São Paulo. Atualmente, 40% do esgoto é despejado em cursos d’água sem tratamento no estado.
Iniciativa importante – O tema “Segurança Hídrica” foi debatido por especialistas durante o Workshop Água e Saúde, promovido pelo Centro de Vigilância Sanitária de São Paulo e pela Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP), na capital paulista.
Colaboração de Larissa Straci, da Ag Solve, para o EcoDebate, 25/06/2014
Link:
Nenhum comentário:
Postar um comentário