Área de seringueiras é também aproveitada para a criação de galinhas
Apesar da importância inegável do setor agrícola na economia brasileira, o atual modelo de desenvolvimento agrário deverá passar por importantes transformações nos próximos anos. “O fato de que nesse modelo predominam lavouras monoculturais, uso excessivo de maquinário, de fertilizantes químicos e de agrotóxicos, tem sido bastante questionado pela sociedade, por levar à degradação do meio ambiente. No caso da agricultura familiar, os estudos têm mostrado, principalmente nos assentamentos, degradação dos solos, baixa produtividade, baixa capacitação nos processos produtivos, baixa capacidade de gestão e organização, e quase nenhum conhecimento sobre o escoamento da produção no mercado. Com isso, os pequenos agricultores acabam desenvolvendo uma série de atividades para complementar sua renda, sem nenhuma conexão entre si”, alerta o engenheiro agrônomo da Empresa de Pesquisa Agropecuária do Estado do Rio de janeiro (Pesagro-Rio), Aldo Bezerra de Oliveira.
Pensando numa solução para o problema, Aldo Oliveira e sua equipe, composta pelos pesquisadores Renato Barbosa e Givanilda Miguel, vêm desenvolvendo experiências participativas com agricultores familiares num modelo de produção que associa árvores, campos de cultivo e criação de animais. É o chamado sistema agrossilvopastoril, iniciativa que conta com recursos do edital Apoio ao Desenvolvimento de Modelos de Inovação Tecnológica Social, da FAPERJ. “Na primeira etapa, que teve início em 2011, escolhemos a comunidade de Vala Preta, no município de Magé, na região metropolitana do Rio. Ali, os agricultores mantinham uma rotina de cultivo de hortaliças, com problemas tanto na produção quanto na comercialização. A grande maioria deles complementava sua renda com trabalhos eventuais no entorno da comunidade”, lembra Oliveira.
Segundo o pesquisador, aproveitando o novo método em áreas pouco utilizadas de sua propriedade, o casal de produtores familiares Romeu Alves e Gilsa Silva passou a cultivar seringueiras em meio a espécies nativas da Mata Atlântica, integradas à fruticultura, ao plantio da cana-de-açúcar, do feijão caupi e da pupunha para a produção de palmito. Embora só produzam látex a partir do sétimo ano, as seringueiras servem para proteger o solo da erosão e da degradação, além de gerar sombra natural contra os efeitos nocivos do excesso de sol sobre a plantação. No mesmo espaço, há criação de galinhas caipiras poedeiras, gerando renda imediata durante o ano todo.
Antes, vendido em tronco por R$ 2, o palmito mudou de embalagem e passou a ser comercializado por R$ 6
Como exemplifica o pesquisador, o sítio de Romeu Alves conta com 360 galinhas, que produzem 25 dúzias de ovos por dia. “Cada dúzia é vendida a R$ 4, o que totaliza uma renda diária de R$ 100″, explica Oliveira. Ele descreve a rotina do sítio. “As aves, adquiridas com quatro semanas e meia de vida, após receberem todas as vacinas, começam a pôr ovos após quatro meses. Durante o dia, as galinhas ciscam na área das seringueiras e à noite vão para um galinheiro de 60m², onde se alimentam com ração complementar.”
Em outra área, de pouco menos de um hectare do seringal, o cultivo das seringueiras foi associado ao do feijão caupi e posteriormente ao da cana-de-açúcar. “Ali, foram produzidas cerca de 50 caixas de feijão caupi, que geraram uma renda de R$ 2.500″, explica Oliveira. Na parte mais alta da propriedade, o sistema agrossilvopastoril associa seringueiras, a criação de galinhas caipiras e espécies nativas da Mata Atlântica. Ali também será formada futuramente a reserva ambiental da propriedade, de acordo com a legislação vigente. “Antes do início do trabalho, minha renda bruta mensal era de aproximadamente R$ 1 mil”, afirma o produtor Romeu Alves. Hoje, essa renda subiu para R$ 5 mil por mês.
Aldo Oliveira demonstra ainda como vem acontecendo esse aumento da renda de Romeu Alves. “Isso foi possível pela melhora e diversificação da produção, bem como pela comercialização de produtos com melhor apresentação. Só com os ovos, o casal está tirando R$ 3 mil reais mensais. No caso do palmito, dos mil pés plantados anteriormente, agora são cinco mil pés. Isso possibilita que a cada semana sejam comercializadas 400 bandejas de palmito a R$ 6, cada. Isso gera mais uma renda mensal de R$ 2.400. Antes, esse palmito era negociado a R$ 2 por tronco. Agora, apenas embalando em bandejas, ele passou a ser comercializado a R$ 6. Tudo isso se soma à comercialização do aipim e do quiabo, que, numa avaliação econômica feita em 2013, representaram uma média mensal de R$ 5 mil, totalizando renda anual de cerca de R$ 60 mil. Eram as atividades mais lucrativas”, descreve.
Para Aldo Oliveira e equipe, a ideia agora é divulgar o projeto e levá-lo a outras comunidades de pequenos agricultores familiares. “Além de preservar o meio ambiente, o sistema recupera áreas degradadas, promove o desenvolvimento sustentável e possibilita gerar renda durante todo o ano”, destacam. Eles frisam que o objetivo agora é qualificar outros produtores da região. “Precisamos difundir esse conhecimento para várias outras propriedades rurais do estado”, concluem.
Fotos: Divulgação/Pesagro-Rio
Fonte: FAPERJ – Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro
EcoDebate, 17/06/2014
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