terça-feira, 10 de maio de 2016

Agricultura sinantrópica, parte III (Final), artigo de Roberto Naime

[EcoDebate] Continuando o manejo descrito por ANDRADE e PASINI (2014), a jaqueira e o sombreiro estavam quase acompanhando o crescimento da acácia e do eucalipto. Os abacateiros já estavam bem estabelecidos e o margaridão, foi importante para ajudar a disponibilizar fósforo e nitrogênio.

Começavam a aparecer as embaúbas indicando a transformação do solo. Quando foi feita a colheita da mandioca, constatou-se que rendeu pouco mais de 28.000 kg por ha.

A partir desse momento as árvores deixaram de ser podadas. Conclui-se que a mandioca cumpriu um papel fundamental na criação das condições para o crescimento do grupo de plantas.
São dessa época também os primeiros registros da presença de minhocas puladeiras. Constatou-se que as raízes de acácia plantadas na área experimental já se estendiam até as bordas, começando a modificar o ambiente. A espécie de “carpete” que era formado pelas raízes de feto-de-gaiola estava ali mais permeável e desconectada.

Outra observação que pôde ser feita foi no momento da cavação, quando então foram encontrados exemplares de minhocas. Foi feito o plantio de mudas de bananeira com a intenção de usá-las como indicadores para analisar as possíveis modificações no solo, provocadas pela experiência em andamento.

As poucas acácias que não foram submetidas às podas regulares estavam nessa época cerca de 20% menores do que aquelas que foram podadas, evidenciando os efeitos benéficos da intervenção. Todas essas observações são exemplos do efeito da Agricultura Sintrópica.

Ao invés de gastar recursos, o homem reintegrado à sua função no sistema promove a fertilidade, a melhoria do solo, a produção de alimentos, o aumento da biodiversidade, melhorando assim as condições de vida para todos os presentes.

ANDRADE e PASINI (2014) observam que o trabalho de manutenção, com capina seletiva e podas, diminuiu gradativamente sua frequência. Posteriormente constatou-se a presença de cajá, cana-de-macaco ou cana-de-brejo e ipê . Observou-se que o chão se encontrava tomado de matéria orgânica principalmente oriunda da poda da acácia que, em breve, passaria por raleamento de modo a privilegiar seu potencial madeireiro.

As plântulas de santa bárbara apareceram tardiamente, demonstrando que não são uma boa escolha para esses tipos de solo.

Outra conclusão que se pôde tirar da secção em que foram plantadas as bananeiras foi a de que estas não são suficientemente eficientes para promover modificações naquelas condições.

Infere-se isso pelo fato de que a matéria orgânica oriunda da remoção inicial das raízes do feto de gaiola não foram tão bem digeridas como nos demais locais.

Apesar disso, as bananeiras se desenvolveram e produziram alguns cachos. Embora o manejo da área experimental seja relativamente rápido, a implantação demandou um alto custo de mão de obra.

Deve-se isso ao tempo de roçagem da área de feto-de-gaiola e o afofamento do solo. No entanto, Ernst Götsch afirma que estas etapas poderiam ser mecanizadas, diminuindo drasticamente os custos de implantação.

De um modo geral a experiência é avaliada de forma positiva por Ernst Götsch que acredita que em breve poderá colher cacau dessa área, onde há pouco predominava o feto-de-gaiola.

Os primeiros sinais de melhoria das condições de vida naquele ambiente já começaram a aparecer, as primeiras colheitas já foram feitas e, assim, o sistema bem manejado seguirá seu curso no sentido da complexificação até que se estabeleça uma floresta que por sua auto-dinâmica será capaz de se manter.

ANDRADE e PASINI (2014) assinalam que a prática da agricultura sintrópica revela um novo patamar para o conceito de sustentabilidade.

Referências:

PENEIREIRO, F. M. Sistemas Agroflorestais dirigidos pela sucessão natural: um estudo de caso, São Paulo. 1999. 13 f. Dissertação (Mestrado em Ciências Florestais) – Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Universidade de São Paulo, Piracicaba. 1999.

GÖTSCH, E. Projeto Agenda Götsch, Bahia, 2012. Disponível em http://agendagotsch.com/texts/, acesso em: 10 agosto 2014.

ANDRADE, Dayana Velozo Pastor PASINI, Felipe dos Santos. Implantação e Manejo de Agroecossistema Segundo os Métodos da Agricultura Sintrópica de Ernst Götsch. Cadernos de Agroecologia – ISSN 2236-7934 – Vol 9, No. 4, Nov 2014

Dr. Roberto Naime, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em Geologia Ambiental. Integrante do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale.

Sugestão de leitura: Civilização Instantânea ou Felicidade Efervescente numa Gôndola ou na Tela de um Tablet [EBook Kindle], por Roberto Naime, na Amazon.

Nota da Redação: Sugerimos que leiam, também, os artigos anteriores desta série:



in EcoDebate, 06/05/2016
"Agricultura sinantrópica, parte III (Final), artigo de Roberto Naime," in Portal EcoDebate, ISSN 2446-9394, 6/05/2016, https://www.ecodebate.com.br/2016/05/06/agricultura-sinantropica-parte-iii-final-artigo-de-roberto-naime/.

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