quarta-feira, 11 de maio de 2016

Ayahuasca: Efeitos adversos e interações - PLANFAVI Nº 37 janeiro/março 2016

A ayahuasca é uma bebida psicodélica que tem seu uso ritual regulamentado no Brasil. Seu uso terapêutico vem sendo pesquisado em nosso país e no Exterior. Ela é preparada por meio da decocção de ramos lenhosos do cipó Banisteriopsis caapi e das folhas do arbusto Psychotria viridis. P. viridis contém dimetiltriptamina, um psicodélico que é ativo oralmente pelo bloqueio da enzima monoamina-oxidase A, exercido pelas betacarbolinas, alcaloides presentes em B. caapi.

Os efeitos subjetivos e físicos da ayahuasca costumam surgir em cerca de 20 a 40 minutos, têm o pico cerca de uma hora e uma hora e meia da ingestão e costumam desaparecer ou ficar bastante reduzidos após cerca de quatro horas.

Sintomas comuns, considerados como adversos do ponto de vista biomédico, são entendidos como parte da experiência ritual da ayahuasca. Náuseas, vômitos e diarreia são interpretados como parte do processo de ‘limpeza’ induzido pela preparação. Outros sintomas neurovegetativos comuns como palidez, tremores, sensação de frio e midríase são considerados banais pelos usuários rituais. No pico da experiência também são esperados aumentos discretos da pressão arterial e da frequência cardíaca. Não há relatos de mortes relacionadas ao uso da ayahuasca e os estudos disponíveis sobre toxicidade indicam uma grande margem de segurança.

O efeito adverso mais grave parece ser psiquiátrico: o desencadeamento de episódios psicóticos breves ou, mais raramente, de psicoses crônicas, em indivíduos com predisposição. Pacientes com sintomas psicóticos e maníacos devem ser desencorajados a utilizar a ayahuasca, e essa é a recomendação da legislação que regulamenta o seu uso no Brasil. Segundo a melhor evidência disponível, quando estes cuidados são seguidos, o risco parece ser reduzido. No caso da apresentação de sintomas maniformes ou psicóticos após o uso da ayahuasca, é aconselhável interromper o uso da preparação até o melhor esclarecimento do quadro.

Em relação a interações medicamentosas, embora tenha sido levantado o risco teórico de que a combinação com antidepressivos ISRS pudesse levar a toxicidade serotonérgica, nunca houve relatos que confirmassem esse risco, embora seja sabido que diversos bebedores rituais de ayahuasca utilizem estas medicações. A combinação com IMAOs, no entanto, deve ser rigorosamente contraindicada.

Texto escrito, a convite, pelo Dr L. F. Tófoli

Leituras recomendadas:

Lima, F. A. S., & Tófoli, L. F. (2011). An Epidemiological surveillance System by the UDV: Mental health recommendations concerning the religious use of Hoasca. In B. C. Labate & H. Jungaberle (Eds.), The Internationalization of Ayahuasca (pp. 185–189). Zurich: LIT Verlag.

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