domingo, 14 de agosto de 2016

Uso da Ibogaína na dependência de drogas - PLANFAVI n.38 abril/junho 2016

Foi recentemente divulgado na mídia a informação que um jovem de 29 anos teria morrido após o uso de ibogaína no tratamento de dependência química em uma clínica no interior de São Paulo. Há também relatos de mortes no tratamento não-controlado de toxicodependentes com ibogaína na Holanda, na França e na Suíça. No caso brasileiro, o jovem era usuário de cocaína e estava se tratando em uma clínica não autorizada, a qual foi interditada por não possuir licença sanitária e condições de higiene. O laudo de sua morte ainda não foi divulgado e, assim, não se sabe se a morte está relacionada diretamente ao uso do produto.

A ibogaína é o principal alcaloide indólico obtido da raiz da Iboga, planta africana denominada como Tabernanthe iboga, de onde podem ser extraídos vários alcaloides psicoativos. Derivados dessa espécie são utilizados em rituais religiosos há anos para alterar a consciência e purificar os usuários, sendo atualmente utilizada no tratamento de dependentes químicos por reduzir os sintomas da abstinência e o desejo de retornas às drogas.

Embora já tenham sido feitos estudos com o uso da espécie e seus derivados, ainda não existe nenhum medicamento aprovado no Brasil contendo a iboga ou seus derivados. A espécie Tabernanthe iboga e seus derivados não fazem parte da lista de plantas/substâncias proscritas no Brasil, porém, seu uso como medicamento não está regulamentado, uma vez que a Anvisa não recebeu nenhum pedido de registro. Dessa forma, o único modo de utilizar a substância no país é por meio da manipulação em farmácias autorizadas, a partir da prescrição de profissional habilitado. Como se trata de uma planta estrangeira, a importação é prejudicada por não ter sido demonstrada ainda sua segurança e eficácia no Brasil aos órgãos de vigilância sanitária.

O produto usado no caso ocorrido foi importado do Canadá, o qual, por não estar regulamentado, não se conhece a real composição, se contém apenas a ibogaína ou outros ativos da espécie Tabernanthe iboga. Essa é uma complicação comum no uso de produtos importados, ocorrendo também com os derivados da maconha, os quais apresentam composição muito variável a cada lote produzido, assim, a situação ideal era a regulamentação destes produtos no país. A toxicodependência é uma condição social muito preocupante, a qual poderia ser muito beneficiada com uma alternativa vinda da Iboga, mas com produtos padronizados e em clínicas de tratamento adequadas

Referências:

Paciente morre durante tratamento com ibogaina em Paulinia.http://correio.rac.com.br/_conteudo/2016/06/campinas_e_rmc/432345-paciente-morre-durante-tratamento-com-ibogaina-em-paulinia.html#. Acesso em: 10 jun 2016.

A droga, ibogaína. http://super.abril.com.br/ciencia/a-droga-ibogaina. Acesso em: 10 jun 2016.

Bartlett, M. F., Dickel, D. F., Taylor, W. I. The Alkaloids of Tabernanthe iboga. Part IV. The Structures of Ibogamine, Ibogaine, Tabernanthine and Voacangine. Disponível em: http://pubs.acs.org/doi/abs/10.1021/ ja01534a036. Acesso em: 10 jun 2016.

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