quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

Alelopatia e a produção de princípios ativos em plantas medicinais

Texto: 

Giovanna Brito Lins - Bacharelado em Ciência e Tecnologia e bacharelado em Biologia - UFABC - Universidade Federal do ABC

A alelopatia é um fenômeno caracterizado pela liberação de substâncias químicas sintetizadas por um organismo que possam afetar direta ou indiretamente a coexistência de outros seres vivos em um ambiente.

Estes compostos bioativos, denominados por aleloquímicos, estão comumente associados aos mecanismos de defesa fisiológica nas plantas, determinando algumas relações ecológicas entre animais (geralmente insetos), bactérias, fungos e outras plantas. Desta forma, possuem aplicabilidade na agricultura, como na área dos defensivos agrícolas, principalmente. 

Os aleloquímicos também podem estar associados à medicina. O eucalipto (Eucalyptus sp.) produz óleo essencial que apresenta efeito inibitório sobre a germinação de sementes e o desenvolvimento de outras plantas, ou reduzem a produção destas (CREMONEZ et al., 2013) (1). Este mesmo óleo é explorado por suas propriedades antibióticas, analgésicas e expectorantes, devido à presença de terpenos, além de efeitos antioxidantes causados por flavonoides envolvidos nos sistemas de defesa da planta (2). 

Outro exemplo é a pesquisa de Bitencourt (2011), que demonstrou que o extrato de pinhão-manso (Jatropha curcas L.) é eficiente para tratamento de dermatites, comprovando a ação bactericida contra Staphyloccocus aureus, S. saprophyticus e S. epidermidis (3). Sousa et al. (2009) comprovaram que o extrato de pinhão-manso apresenta uma efetiva toxidez a alguns grupos de insetos considerados pragas agrícolas no Brasil (4). 

Picão-preto (Bidens pilosa L.), espécie com ação alelopática comprovada, possui vários componentes químicos tóxicos que eliminam bactérias e fungos (5). Pereira et al. (1999) verificaram ação anti-inflamatória de extratos de picão-preto e concluíram que o extrato pode ajudar a fortalecer e proteger seres humanos de lesões. Além disso, o extrato é capaz de inibir a síntese de ciclooxigenase (COX) e prostaglandinas, as quais estão relacionadas ao processo inflamatório (5).

Portanto, muitas das substâncias liberadas no fenômeno da alelopatia possuem também ação medicinal. Pode-se concluir que quando uma planta é estimulada para se defender de outra, ocorre aumento na produção das substâncias alelopáticas e, consequentemente, aumento na eficácia medicinal.

Fontes: 

1. CREMONEZ et al. Principais plantas com potencial alelopático encontradas nos sistemas agrícolas brasileiros.

2. Eucalipto.


3. BITENCOURT. Desenvolvimento de cosmecêuticos a partir de extratos bacterianos de pinhão manso (Jatropha curcas L.)



4. SOUSA et al. Atividade inseticidade de genótipos de pinhão manso para insetos-praga de produtos armazenados
Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/228453715_Atividade_inseticidade_de_genotipos_de_pinhao_manso_para_insetos-praga_de_produtos_armazenados



5. Plantas medicinais e suas indicações terapêuticas.


6. PEREIRA et al. Immunosuppressive and anti-inflammatory effects of methanolic extract and the polyacetylene isolated from Bidens pilosa L.

Um comentário:

  1. Não fazia ideia dessas propriedades medicinais nessas plantas. Muito informativo e bem escrito :)

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