18 de julho de 2012
Um grupo internacional de pesquisadores demonstrou que os
neandertais que viviam no sítio arqueológico de El Sídron, na Espanha,
conheciam as propriedades medicinais e nutricionais de algumas plantas, como a
camomila, e incluíam vegetais em sua dieta.
A pesquisa, que contou com a participação de especialistas
do Conselho Superior de Pesquisas Científicas (CSIC) da Espanha, da
Universidade Autônoma de Barcelona (UAB) e da Universidade de York (Reino
Unido), chegou a estas conclusões a partir da análise do tártaro presente nos
dentes de cinco indivíduos adultos e de um jovem da espécie. Até pouco tempo atrás,
pensava-se que os neandertais, que foram extintos há cerca de 30 mil e 24 mil
anos, eram predominantemente carnívoros.
No entanto, cada vez mais estudos, como este publicado na
revista alemã Naturwissenschaften, mostram que a espécie também se
alimentava de vegetais, sobretudo em latitudes mais ao sul, disse Antonio
Rosas, diretor do grupo de paleoantropologia do Museu Nacional de Ciências
Naturais e um dos autores do trabalho. "Está se observando que sobretudo em
latitudes mais ao sul da Europa, como em El Sidrón, os neandertais tinham um
componente vegetal nada desdenhável em sua dieta", explicou.
Os pesquisadores encontraram nos dentes da espécie moléculas
de amido, presentes em tubérculos, legumes e frutas secas. O tártaro cresce nos
dentes por uma superposição de camadas e entre elas ficam armazenadas moléculas
e compostos químicos.
Além disso, o estudo constatou que pelo menos um dos
indivíduos analisados tinha ingerido plantas de sabor amargo, concretamente
aquiléa e camomila, disse em uma nota de imprensa Stephen Buckley, do centro
BioArCh, da Universidade de York. "O fato de usarem este tipo de planta
com pouco valor nutritivo é surpreendente. Nós sabemos que os neandertais as
usavam amargas, portanto provavelmente a espécie selecionava as plantas por
razões que vão além de seu sabor", afirmou Buckley.
Antonio Rosas compartilha da opinião e disse que a partir da
descoberta de compostos químicos derivados da camomila se conclui que a espécie
sabia de suas propriedades medicinais. Karen Hardy, da UAB, ressaltou que
"a variedade de plantas que identificamos sugere que os indivíduos
neandertais que viveram em El Sidrón tinham um conhecimento sofisticado do meio
natural, que incluía a habilidade para selecionar e usar certas plantas por seu
valor nutricional e curativo". "A carne era claramente primordial,
mas nossa pesquisa evidencia uma alimentação bastante mais complexa do que
sabíamos até agora", explicou Karen.
A presença de componentes vegetais na dieta da espécie não é
a única descoberta do trabalho. Segundo Rosas, foram encontradas evidências de
fumaça no tártaro, provenientes, ao que tudo indica, de alimentos feitos à
lenha. O sítio arqueológico de El Sidrón, descoberto em 1994, possui a maior
coleção de neandertais da Península Ibérica.
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