RODRIGO DE OLIVEIRA ANDRADE | Edição Online 6 de agosto de 2013
Formigas patrulhando o tronco da Crotalaria pallida
Pesquisadores do Instituto de Biologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) verificaram que algumas formigas, ao contrário do que se pensava, podem prejudicar a capacidade da Crotalaria pallida gerar novas sementes. Segundo eles, isso pode acontecer por um motivo inusitado: as formigas, acostumadas à função de guardiãs da planta, espantam, além dos insetos herbívoros, algumas vespas que também as visitam. “Ocorre que essas vespas removem e matam as larvas de predadores naturais de insetos dispersores de sementes, sendo elas, por isso, muito mais eficientes como protetoras da crotalária”, conta o biólogo José Roberto Trigo, autor principal do artigo publicado na edição de agosto na revista Acta Oecologica.
Formigas podem desempenhar funções importantes na ecologia de certas espécies de plantas, contribuindo, por exemplo, com a dispersão de sementes para locais mais adequados ao seu desenvolvimento (ver Pesquisa FAPESP n°161) ou inibindo a presença de insetos herbívoros. Mas pouco se sabia sobre os impactos da ação dessas patrulheiras na reprodução de plantas como a C. pallida, um tipo de arbusto bastante comum em áreas próximas a campos de pastagem.
Esses insetos, explica Trigo, são atraídos por uma estrutura conhecida como nectário extrafloral, que produz uma substância doce e repleta de nutrientes vitais à dieta de diversas espécies de insetos. Essa substância também é responsável por atrair inimigos naturais de insetos herbívoros, como aranhas, vespas e formigas. Assim, o papel das formigas como protetoras da crotalária há anos é bem estabelecido entre pesquisadores. “Mas não é universal!”, comenta o biólogo. Isso porque poucos estudos se preocuparam em analisar as interações entre seus diferentes guarda-costas e como essas interações poderiam afetar a proteção dessa planta.
No estudo, Trigo e sua equipe observaram ao longo de um ano vários exemplares de C. pallida, todos mantidos em vasos num terreno baldio de Campinas, interior de São Paulo. As plantas foram divididas em dois grupos: em um deles eram patrulhadas por formigas das espécies Camponotus crassus, C. blandus e Pheidole sp.; no outro, as formigas eram impedidas de visitar a planta. Para isso, os pesquisadores aplicaram uma resina na base de seus troncos. “Acompanhamos essas plantas desde o momento em que começaram a florir”, diz o biólogo. “Esperávamos que as formigas as afetassem positivamente, já que, teoricamente, elas removeriam as larvas da mariposa Utetheisa ornatrix, um inseto herbívoro que se alimenta das sementes dentro das vagens da crotalária. Logo, quanto mais formigas, menos mariposas; quanto menos mariposas, mais sementes a planta produziria.”
Ao compararem a quantidade de vagens atacadas, veio a surpresa: as plantas patrulhadas pelas formigas foram três vezes mais atacadas. “Já o número de sementes aumentou quase cinco vezes nas plantas não patrulhadas pelas formigas”, conta Trigo. Paralelamente, os pesquisadores verificaram que os nectários extraflorais dessas mesmas plantas também eram constantemente visitados por vespas, que logo em seguida eram enxotadas pelas formigas.
“Nossas evidências sugerem que as formigas prejudicam a planta por espantarem um inimigo dos insetos herbívoros mais eficientes do que elas”, afirma. “Essa interação antagônica entre formigas e vespas pode diminuir a proteção da crotalária,desencadeando um efeito negativo na capacidade dessa planta de se reproduzir.” Mas segundo ele o potencial das formigas para espantarem as vespas pode variar de população para população. “Se as formigas forem menos agressivas com as vespas, ou se as vespas patrulharem as plantas com menos frequência, o efeito da formiga pode ser, na maioria das vezes, benéfico para as plantas.”
Projetos
1. Defesas químicas em plantas e insetos neotropicais (n° 2011/17708-0);Modalidade: Auxílio Pesquisa Regular; Coord.: José Roberto Trigo/Unicamp;Investimento: R$ 686.485,93(FAPESP).
Artigo científico
PEREIRA, M. F. e TRIGO, J. R. Ants have a negative rather than a positive effect on extrafloral nectaried Crotalaria pallida performance. Acta Oecologica. v. 51, p. 49-53. ago 2013.
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