Lenita Wannmacher
Vitaminas são usadas para prevenção e tratamento de estados de deficiência específica ou quando a dieta não traz aporte suficiente desses elementos. Há enorme consumo de preparações vitamínicas, o que não mostra valor maior do que com placebo411. Vitaminas hidrossolúveis são comparativamente não tóxicas, mas o uso prolongado de altas doses de retinol, piridoxina e vitamina D pode acarretar efeitos adversos graves. Suplementação de minerais por via oral serve para prevenção e tratamento de algumas condições freqüentes, como fraturas osteoporóticas e cáries.
Ácido fólico serve para repor os estados deficitários, corrigindo a anemia megaloblástica decorrente. Não deve ser administrado sem vitamina B12 concomitante em anemia megaloblásticas não-diagnosticadas, pois pode precipitar neuropatia. Diversos estudos demonstraram que 50% ou mais dos defeitos do tubo neural podem ser prevenidos se as mulheres receberem, além do ácido fólico usual da dieta, suplementos contendo ácido fólico antes e durante as primeiras semanas de gravidez. Para mulheres sem história prévia de concepto com defeitos do tubo neural, mas com potencialidade de engravidar, recomenda-se suplementação alimentar de 400 microgramas diários de ácido fólico. Casais que têm uma criança afetada por defeitos do tubo neural apresentam risco de 2% a 3% em outras gestações. A suplementação com 4.000 microgramas/dia de ácido fólico, iniciada um mês antes do período em que a mulher deseja engravidar e prolongada pelos três primeiros meses de gravidez, resulta em diminuição de 71% nas recorrências de defeitos do tubo neural.412-414 Metanálise415 envolvendo 6.425 mulheres estudou a suplementação de folato no período de periconcepção, verificando efeito protetor forte para a incidência de defeitos do tubo neural (RR = 0,28; IC95% 0,15-0,53). Tal suplementação não determinou aumento significativo de aborto espontâneo e gravidez ectópica, mas pode estar relacionada com gestações múltiplas. Também pode ser útil como suplementação em anemias hemolíticas, síndromes de má-absorção, em pacientes em nutrição parenteral total e naqueles recebendo metotrexato416. (ver item 14.1 – Antianêmicos)
Calcitriol é a forma ativa de vitamina D. Sua principal função é aumentar a absorção intestinal de cálcio e fósforo para promover mineralização óssea. Em países continuamente ensolarados, os estados carenciais de vitamina D estão geralmente associados a insuficiências hepática e renal, daí a inclusão da forma ativa (calcitriol). Em revisão do Clinical Evidence,417 a suplementação de vitamina D para prevenção de fratura em mulheres pós-menopáusicas foi classificada como benefício provável, em função da discrepância de resultados na literatura. Inclui metanálise418 em que altas doses orais de vitamina D (colecalficerol e ergocalciferol; 700-800 UI/dia), associadas ou não à suplementação de cálcio, reduziram o risco de fraturas não-vertebrais (quadril e outras) em idosos, comparativamente a placebo e cálcio isolado, o mesmo não acontecendo com dose de 400 UI/dia. Em revisão Cochrane,419 vitamina D sozinha não protegeu idosos contra fraturas não vertebrais, vertebrais ou quaisquer outras. Não houve diferenças significativas de eficácia entre análogos de vitamina D comparados a ela. Calcitriol associou-se a incidência aumentada de efeitos adversos. Um ensaio clínico randomizado420 não evidenciou que a suplementação de cálcio mais vitamina D reduza o risco de fraturas clínicas em mulheres com um ou mais fatores de risco para fraturas. Comparativamente a cálcio e a placebo, alfacalcidiol e calcitriol, analisados em conjunto, reduziram significativamente qualquer fratura, fraturas não-vertebrais e vertebrais. Não houve diferença significativa entre os dois análogos de vitamina D421. Comparando os análogos calcitriol e alfacalcidiol à vitamina D combinada com placebo ou cálcio, uma revisão sistemática mostrou que os primeiros reduziram todas as fraturas em maior proporção de mulheres (diferença de 10% dos análogos vs. placebo; diferença de 2% de vitamina D vs.placebo; P < 0,01). Os análogos demonstraram eficácia em fraturas não-vertebrais e vertebrais, superando a vitamina D. Em prevenção secundária, os achados não fundamentam a suplementação oral de rotina com cálcio e vitamina D3, isoladamente ou em combinação, para evitar novas fraturas em idosos423. Em osteoporose induzida por corticóides, a associação de cálcio e vitamina D previne a perda óssea em vértebra lombar e punho. Por ter preço baixo e reduzida toxicidade, a terapia profilática deve ser instituída em todos os pacientes que iniciam corticoterapia424. Vitamina D deve ser dada por 24 meses a crianças de pele escura por sua inabilidade de produzir suficiente vitamina D3 pela pele. Vitamina D também é usada em estados deficitários causados por síndrome de má-absorção ou doença crônica hepática, bem como na hipocalcemia associada a hipotireoidismo411.
Hidroxocobalamina (vitamina B12) corrige a anemia megaloblástica resultante de deficiência de vitamina B12. Como a causa da deficiência é na maior parte das vezes absortiva, sua reposição deve ser feita por via parenteral.425(ver item 14.1 – Antianêmicos)
Piridoxina (vitamina B6) tem indicação empírica nas neurites periféricas, como a induzida por hidrazida que impede a absorção intestinal de vitamina B6. Altas doses são dadas em hiperoxalúria e anemia sideroblástica. A suplementação na gravidez e no parto não parece trazer benefícios sobre desfechos, tais como fenda palatina, malformações cardíacas, desenvolvimento neurológico, parto prematuro e pré-eclâmpsia426. Também não se encontrou evidência de melhora de curto prazo em depressão, fadiga, sintomas de tensão e funções cognitivas. Não se conhece os efeitos da vitamina em idosos sadios no sentido de prevenir demência427.
Retinol (vitamina A) é utilizado na profilaxia e tratamento de carência de vitamina A, cujos principais sintomas são xeroftalmia, cegueira noturna e ceratomalácia. Essa consiste em queratinização e predisposição para perfuração de córnea, causando cegueira em 250.000 crianças por ano, nos países subdesenvolvidos. Faz-se tratamento por um ano quando há sinais graves de xeroftalmia. A suplementação também é eficaz para se contrapor ao aumento de suscetibilidade a infecções, particularmente sarampo e diarréia. Vitamina A deve ser dada durante epidemia de sarampo para reduzir as complicações411. Indica-se o tratamento de crianças maiores de seis meses com sarampo, aonde a suplementação de vitamina A por dois dias diminuiu a morbimortalidade428. Em regiões de alto risco, deve haver distribuição universal periódica a pré-escolares e crianças entre seis meses a três anos, bem como a todas as gestantes a oito semanas do parto. Tendo em vista a comprovação de efeito teratogênico, o uso de retinol deve restrito em mulheres grávidas.
Tiamina (vitamina B1) é indicada para reposição em situações de deficiência desse nutriente, tais como: beribéri, síndrome carencial clássica; encefalopatia de Wernicke, emergência médica que ocorre na desintoxicação alcoólica; síndrome de Korsakoff e polineuropatia que são manifestações de deficiência acentuada em etilistas; encefalomiopatia necrosante subaguda (síndrome de Leigh). A deficiência também ocorre em doenças metabólicas genéticas. Para o tratamento de situações emergenciais em alcoolistas crônicos, com indisponibilidade de via oral, foi disponibilizada a forma injetável, a ser administrada intravenosa e lentamente, em doses até 300 mg/dia. Reações alérgicas podem ocorrer, precoce e tardiamente, devendo haver a possibilidade de ressuscitação, se necessário.
Carbonato de cálcio é usado como suplemento da dieta em estados hipocalcêmicos moderados, sozinho ou em associação com vitamina D. Pode ser também empregado para reduzir a absorção de fosfatos em pacientes com insuficiência renal crônica. A associação de cálcio e vitamina D tem provável benefício na prevenção de fraturas em osteoporose da menopausa (ver em vitamina D)417. O uso de cálcio isoladamente não parece trazer benefício na redução de risco de fraturas em mulheres pós-menopáusicas417. Revisão sistemática430 não encontrou diferença significativa entre cálcio (600–2.000 mg) e placebo em fraturas vertebrais e não-vertebrais em mulheres pós-menopáusicas. Um ensaio clínico randomizado431 que comparou carbonato de cálcio (1.200 mg/dia) a placebo em idosas não encontrou diferença significativa entre eles sobre fraturas vertebrais após 5 anos de seguimento. Outro ensaio clínico423 comparou quatro tratamentos: cálcio isolado (2.000 mg/dia); vitamina D isolada (800 UI/dia); cálcio mais vitamina D; e placebo. As estratégias isoladas não diferiram significativamente do placebo. Em crianças sadias, a suplementação de cálcio não encontra fundamentação, embora tenha havido aumento de massa óssea nos membros superiores. Esses resultados não podem ser extrapolados para crianças com alteração do metabolismo ósseo.
Fluoreto de sódio é solução bucal, administrada como bochechos, com eficácia comprovada na prevenção da doença cárie e na melhora clínica da sensibilidade dentinária. Os fluoretos possuem propriedades preventivas e terapêuticas em relação à cárie dentária, embora seu uso isolado não impeça o desenvolvimento desta, por ser doença multifatorial. Recomendam-se bochechos diários com solução de fluoreto de sódio a 0,2% (920 ppm) em pacientes com alta atividade de cárie. Lesões dentárias cervicais não-cariosas também vêm sendo tratadas com fluoretos, pois resultam em hipersensibilidade, com grande desconforto ao paciente433. Em revisão sistemática Cochrane,434 o uso regular e supervisionado de bochechos com fluoreto associa-se a redução de cáries em crianças. Comparação entre bochechos, pastas e géis com fluoretos mostrou similar eficácia435. Não há clara sugestão de que vernizes sejam mais eficazes que bochechos. Fluoretos tópicos (bochechos, géis, vernizes) adicionados a pastas com fluoreto induziram modesta redução de cáries em comparação a pastas isoladamente436.
Referências e outros textos sobre saúde:
Nenhum comentário:
Postar um comentário