[EcoDebate] O Brasil está acabando com o verde da sua bandeira. O desflorestamento do país é um crime de ecocído e um crime de especismo, que provoca a extinção de incontáveis espécies vegetais e animais. Em uma região tão rica em biodiversidade, os brasileiros – para atender a demanda interna e internacional – já destruíram 93% da Mata Atlântica. Para piorar, os mesmos crimes estão sendo cometido nos demais ecossistemas brasileiros, sendo que 20% da Floresta Amazônica já foi eliminada e a destruição continua a passos largos.
O Estado do Paraná é um exemplo da eliminação da cobertura vegetal em um lapso de tempo de apenas 100 anos. Até 1890, a exploração econômica do Paraná estava restrita à Serra do Mar (especialmente Paranaguá e Curitiba) e a população do Estado era de apenas 250 mil habitantes, no início da República e menos de um milhão de pessoas no fim da República Velha. A população chegou a 2,1 milhões de habitantes em 1950, 8,4 milhões em 1991 e 10,4 milhões de habitantes em 2010. A atual densidade demográfica do Paraná é de 53 habitantes por km2, mais do dobro da densidade nacional.
Nos primórdios do desmatamento do Paraná estavam a exportação de madeiras de lei e a produção de erva-mate. Porém, até meados do século XIX o território paranaense era uma região pouco povoada e a interiorização era dificultada pela resistência indígena e à falta de mão de obra, advinda das restrições da conjuntura abolicionista. Mas a ocupação territorial foi acelerada com expansão da imigração europeia, após o fim legal do trabalho escravo.
A partir de 1930, com o avanço das rodovias, da indústria madeireira (antes dependente das estradas de ferro), a ocupação humana espalhou-se pelo interior. As serrarias foram fundamentais para a criação dos núcleos populacionais. A população cabocla foi ocupando o interior do Paraná, dedicando-se à criação de suínos no interior da floresta e para alimentar as pessoas e as criações havia a necessidade de lavouras anuais, sendo que o meio utilizado foi o desmate, seguido da queima dos resíduos e após o esgotamento da fertilidade do solo, a área de lavoura era abandonada.
No final do século XIX teve início a intensificação do processo de colonização via imigração européia e a instalação dos novos colonos pressupunha a derrubada da floresta e plantio de culturas anuais e a expansão da pecuária. O processo de desflorestamento foi acelerado, especialmente a partir de 1935, pela expansão da cultura do café, rumo ao oeste do Estado.
Depois da Segunda Guerra Mundial, o processo de destruição florestal foi ainda mais acelerado pela conjugação do aumento das atividades da agricultura e pecuária tradicional, com a “indústria” do agronegócio, as mineradoras, as madeireiras, a expansão rodoviária, as hidrelétricas, a urbanização e a especulação imobiliária urbana e rural, etc. O resultado foi a eliminação progressiva da cobertura verde do Estado.
A construção da hidrelétrica de Itaipu (construída entre 1976 e 1982) foi um ponto central para a ocupação e o desmatamento do extremo oeste do Paraná. A usina de Itaipu, impediu o livre fluxo das águas, criou uma enorme área de floresta destruída pelo lago, além de provocar o crime ecológico do alagamento do salto de Sete Quedas, no rio Paraná, em Guaíra. O crescimento das cidades, da agricultura e da pecuária decorrente do desenvolvimento do Oeste do Paraná completaram o processo de destruição da floresta e redução da biodiversidade. Ao mesmo tempo, o estado desmatado contribui mais para a emissão de gases de efeito estufa e contribui menos para o sequestro de carbono, o que agrava o processo de aquecimento global do Planeta.
Das poucas manchas verdes, encontra-se o Parque Nacional do Iguaçu, localizado na região do extremo oeste do Paraná, possuindo uma área total de 185 mil hectares (incluindo as cataratas do Iguaçu). O Parque Nacional foi criado em 1939, através de Decreto-Lei do presidente Getúlio Vargas. Até a década de 1950, a região oeste paranaense mantinha-se bem preservada ambientalmente. Mas a partir daí, o processo mais intenso de devastação foi isolando o Parque Nacional do Iguaçu e, em 1980, já estava praticamente ilhado pelas atividades antrópicas. A cada ano as manchas verdes remanescentes da antiga Mata Atlântica são reduzidas e a mobilidade dos animais da vida selvagem fica completamente comprometida.
Por exemplo, a quantidade de onças-pintadas no Parque Nacional do Iguaçu tem se reduzido drasticamente devido a falta de espaço para a vida selvagem, os ataques dos caçadores que invadem o parque e os tiros dos fazendeiros que matam os animais selvagens para proteger os animais domesticados que servem para a alimentação humana. Entre 1995 e 2010 o número de onças, da espécie Phantera onca, foi reduzido de 164, para 18 indivíduos. Pesquisadores e estudiosos do projeto Carnívoros do Iguaçu consideram que as onças do Parque Nacional do Iguaçu podem desaparecer em até 80 anos.
Segundo declaração da pesquisadora Marina Xavier da Silva, ao G1, o oeste do Paraná é o último habitat natural da onça-pintada no Sul do país. Sem comida, as onças tendem a deixar a reserva e na falta de corredores ecológicos, atacam animais domésticos e de criação. Assim, a ação dos caçadores e o abate por retaliação estão entre as maiores causas da possível extinção das onças do Parque do Iguaçu.
O fato é que a erradicação da Floresta Atlântica e da Floresta de Araucária significou e significa a extinção de inúmeras espécies vegetais e animais. As onças-pintadas são o símbolo maior da mesquinhez do modelo de desenvolvimento humano que não respeita o meio ambiente e se enriquece na base de uma política de terra arrasada.
Este modelo egoísta e anti-ecológico só tem fôlego no curto prazo, pois no ciclo longo da vida a destruição da biodiversidade e da biocapacidade vai se voltar contra os próprios agressores maiores da natureza.
A destruição não é só da cobertura vegetal, mas da própria Mãe Terra que está perdendo a diversidade da vida, resultado da evolução ocorrida durante milhões de anos e que pode, praticamente, desaparecer em poucos séculos.
Referências:
Programa Mata Ciliar
Margit Hauer. As Florestas no Paraná: um processo de involução
Fabiula Wurmeister. Onças do Parque Nacional do Iguaçu podem ser extintas em até 80 anos, 25/06/13
José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado em Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br
EcoDebate, 23/10/2013
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