Maria Libinita de Carvalho, 82 anos
Benzedeira, ela conta que morava em uma área rural e vivia da lavoura quando descobriu que, assim como a mãe e a avó, tinha o dom de amenizar as dores e ajudar as pessoas através do benzimento e da oração. Desde então começou a praticar e a conhecer mais sobre ervas medicinais. Atualmente atende muita gente no bairro onde mora, o Campo Grande. Ela se diz uma pessoa que tem a missão de ajudar o próximo, principalmente as crianças, e por essa razão nunca cobrou para benzer.
Manoel Alves Coutinho, 89 anos
Há mais de 15 anos trabalha com plantas medicinais, cultivando espécies nativas e exóticas em sua residência. Ele conta que a paixão pelas ervas começou por curiosidade: “plantava hortaliças e decidi conhecer mais sobre ervas medicinais, me encantei com a variedade de espécies e mudei de ramo”. Atualmente seu conhecimento sobre as plantas medicinais já virou referência, atraindo muitas pessoas que buscam a cura para alguns males.
José Moreira, o Paco, 92 anos
Artesão, desde os 12 anos de idade fabrica balaios e cestas. Ele conta aprendeu a arte de tecer cipó e bambu com em uma fazenda onde trabalhava na região da cidade de Bananal. Apesar da idade, Paco não se cansa de aprender e sempre tenta aprimorar a técnica e os materiais utilizados na confecção das cestas – atualmente, ele usa cipó reciclado. Paco comercializa seus produtos na feira livre do bairro Jardim Didinha, onde pode ser encontrado aos domingos.
Milton Bezerra dos Santos, o Beija-Flor, 72 anos
Com 5 anos começou a cantar, e descobriu a vocação para o “repente”. Nascido no estado de Alagoas, ele conta que aprendeu cantar ouvindo duplas de repentistas em uma feira-livre que frequentava com a sua mãe. “Comecei a cantar por imitação, mas com 7 anos aprendi a tocar pandeiro e, a partir daí, a me apresentar, ainda em Alagoas. Há 42 anos vim para Jacareí e continuei trabalhando como repentista”, diz. Atualmente se apresenta em eventos e em escolas.
Paulo Roberto Braga, o Paulo Caipira, 67 anos
Músico e compositor, mantém uma oficina no Jardim Emília, onde conserta viola caipira, cavaquinho e violão, um verdadeiro “luthier caipira”. Paulo começou a tocar viola influenciado pelo avô, que também era músico e compositor. O talento da composição lhe rendeu a autoria de 382 músicas, algumas já gravadas em CD. Além de se apresentar em festivais, o músico é professor de viola e rege uma orquestra de música de raiz.
Fotos: Valter Pereira/PMJ
Saberes e fazeres quase imemoriais, repassados de geração a geração e que se mantêm vivos em tempos de alta tecnologia – mas que trazem, em si, o embrião e o alimento das tecnologias: o conhecimento. Da arte de manusear plantas medicinais à técnica de tecer cipós e bambus, passando pelo ritmo e rima do repentista alimentado pelo puro som da viola caipira, tudo abençoado pelos ritos próprios da benzedeira, exemplos da riqueza imaterial que ajudou a moldar tradições ganham em Jacareí o devido reconhecimento.
Resgatar e valorizar pessoas que cultivam esses conhecimentos de origens quase imemoriais que se traduzem em cantos, danças, artesanatos é o objetivo da Fundação Cultural de Jacarehy José Maria de Abreu. Cinco representantes das mais legítimas expressões populares simbolizam a riqueza desse universo e, na sexta-feira, 6 de janeiro, durante os festejos de outra tradição milenar, a Folia de Reis, eles foram agraciados com o Prêmio Mestre Cultura Viva, no Museu de Antropologia do Vale do Paraíba.
Em comum, todos têm a “missão” de compartilhar esses conhecimentos e mantê-los vivos. Seja o encanto pelas plantas medicinais do sr. Manoel, o eterno aprendizado do artesão Paco, do alto de seus 92 anos, a alegria dos repentes do Beija-Flor, a técnica singular do Paulo Caipira ou os dons e a solidariedade da benzedeira Maria Libinita, são algumas das expressões que revelam a riqueza cultural do Brasil e, mais especificamente, do Vale do Paraíba e Jacareí.
“Com essa ação, a Prefeitura de Jacareí atende ao dispositivo legal de salvaguardar o patrimônio cultural de bens de natureza material e imaterial. Jacareí é uma cidade rica culturalmente e a Fundação Cultural, com essa premiação, conseguiu conhecer alguns de nossos mestres”, afirma a presidente da Fundação Cultural de Jacarehy, Sônia Ferraz.
As inscrições para o concurso foram abertas em agosto e, entre os critérios, havia a necessidade de ter acima de 60 anos e residir em Jacareí há pelo menos dois anos. Cada um dos mestres recebeu R$ 2.000, um certificado de Mestre Cultura Viva de Jacareí e uma placa de madeira com os dizeres: “Aqui mora um Mestre da Cultura Popular de Jacareí”.
O Prêmio Mestre Cultura Viva de Jacareí faz parte das estratégias de ação prevista no Plano Nacional de Cultura, que propõe a criação de políticas de transmissão dos saberes e fazeres das culturas populares e tradicionais nas mais variadas manifestações como a língua, a literatura, a música, a dança, os jogos, a mitologia, os rituais, os costumes, o artesanato e a arquitetura, entre outras.
“Nossa proposta sempre foi a de resgatar a diversidade de manifestações culturais e artísticas, e valorizar artistas e artesãos de Jacareí. É uma obrigação que temos para repassar às novas gerações essa riqueza”, comenta o prefeito Hamilton.
[Reportagem publicada no jornal Diário de Jacareí, edição de 7 e 8 de janeiro de 2012]
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