sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Chegou a hora desses frutos tropicais?

27/08/2014

Eles podem ser oportunidades à espera de empreendedores. Frutos tropicais como umbu, cajá, camu-camu estão hoje nos laboratórios e acenam com o apelo de oferecerem aos consumidores altos teores de substâncias antioxidantes ou mesmo novos produtos industriais - que tal um “vinho” de umbu?. Antes de as promessas chegarem aos consumidores é necessário, entretanto, vencer etapas. Uma delas foi encarada pelos pesquisadores da Embrapa Agroindústria Tropical, em Fortaleza (CE). Durante os últimos anos eles têm se dedicado a estudar esse frutos em laboratório, considerando seu aproveitamento comercial. 

O que existe hoje é um conjunto de blends (misturas) de sucos de frutas planejados para alcançarem a melhor formulação. Isto é, reunir, em uma mesma bebida, as propriedades funcionais mais interessantes de cada fruto, como alto teor de vitamina C ou compostos (flavanóides, carotenóides ) com propriedades benéficas para a saúde humana. Mas não só isso, os blends precisam também ter sabor agradável, o que os técnicos chamam de “aceitabilidade”. Para chegar às vantagens nutricionais, “você precisa que as pessoas consumam o produto”, lembra o consultor da Embrapa, Nédio Wurlitzer, um dos responsáveis pelas pesquisas. 

Antioxidantes. Ao longo do projeto cerca de 90 formulações misturando sucos de frutas foram avaliadas. E dois desses blends testados in vivo. Eles trazem proporções diferentes de camu-camu, acerola, açaí, cajá, caju e abacaxi. A pesquisa teve a participação da Universidade Federal do Ceará (UFC) e Universidade de São Paulo (USP). Os resultados mostram como efeitos benéficos o aumento do colesterol bom, HDL, e a ação de enzimas antioxidantes em animais saudáveis, que receberam a bebida durante 30 dias. 

O trabalho partiu da literatura científica já existente e caminhou para um levantamento estatístico destinado a avaliar o quanto de polpa de cada fruta deveria entrar na composição para tornar o blend efetivo do ponto de vista nutricional. O projeto envolve também procedimentos pós-colheita, processamento e estabilização da matéria-prima, pasteurização e estocagem. 

Mercado. A Embrapa torna disponível a tecnologia aos interessados em ingressar nesse mercado. Entre outras tarefas, os candidatos precisarão construir a imagem de tais produtos e equacionar preços, com certeza mais altos que os dos sucos de frutas convencionais vendidos nos supermercados. De acordo com a empresa, existem poucos cultivos comerciais das espécies e, portanto, a principal forma de obtenção ainda é o extrativismo, forma de produção que não impediu o açaí de tornar-se um sucesso internacional.

A pesquisa com frutos tropicais abre, além disso, outros caminhos. Eles podem ser vistos no trabalho do INCT, Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Frutos Tropicais sediado na Universidade Federal de Sergipe, em Aracaju. Criado em 2009, o INCT vem gerando pesquisas com algumas das espécies, sob coordenação do professor e químico industrial Narendra Narain. Parte do trabalho consiste em identificar e quantificar as substâncias bioativas das frutas que apresentem propriedades antioxidantes. Para isso os pesquisadores precisam aprimorar as técnicas de isolamento. Algumas substâncias são difíceis de isolar, em parte porque ocorrem em concentrações muito baixas, como as que conferem aroma à fruta, explica. . 

Saldo importante do trabalho do INCT é o olhar da economia sustentável. Em geral, os frutos tropicais são comercializados na forma de polpa, extraída, congelada e depois distribuída para diversos mercados. O processamento gera um grande volume de resíduos que são descartados e tornam-se problema ambiental. “Estamos descobrindo que muitos desses resíduos têm substâncias bioativas”, observa Narain e assim a pesquisa a buscar formas de aproveitá-los comercialmente. 

Congresso. Outro caminho a seguir é descobrir as possibilidades de transformar as frutas em bebidas fermentadas. Aqui, os laboratórios do INCT querem respostas para saber, por exemplo, como o processo de fermentação altera as propriedades dos frutos, entre elas o sabor. As boas respostas resultariam na produção de “vinhos” - designação restrita para o produto da uva -, ou bebidas fermentadas com sabores até então desconhecidos. Dois candidatos a essa empreitada são o cajá e o umbu, informa o pesquisador, lembrando que outro desafio é passar do conhecimento de laboratório para a produção em escala. 

O trabalho do INCT e os frutos tropicais estarão no foco das atenções durante o 24º Congresso da Sociedade Brasileira de Ciência e Tecnologia de Alimentos, SBCTA, que será realizado de 25 a 29 de setembro, em Aracaju. O encontro, reúne a cada dois anos pesquisadores de universidades brasileiras e do exterior para apresentar a pesquisa de ponta no setor. 

A sessão de abertura trata de um tema muito especial, ressalta Narendra Narain, também presidente da SBCTA. Vai discutir as relações entre governo, academia e indústria alimentícia. Há uma lacuna no diálogo entre esses agentes, constata, e vários pontos a serem debatidos. No âmbito do governo, a legislação que regulamenta o lançamento de novos produtos e também as normas de acesso à biodiversidade, que interessam tanto à academia quanto à indústria. No campo da universidade, o diálogo inclui as limitações para aquisição de equipamentos e a necessidade de profissionais qualificados para operá-los. A indústria, por sua vez, observa, demonstra pouco interesse e ousadia diante das possibilidades surgidas com a pesquisa acadêmica. 

Com informações da Assessoria de Comunicação da Embrapa Agroindústria Tropical 

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