24 Agosto 2014
Hoje é comemorado o Dia Nacional da Infância, momento da vida que exige atenção redobrada e cuidados especiais na saúde e participação dos pais e responsáveis que garantam o bem estar físico e psicológico de suas crianças. A infância é o momento inicial de formação dos cidadãos e, por isso, traz situações de fragilidade, que exigem acompanhamento e amparo.
Um dos temas que mais tem chamado a atenção de pais e professores são as crianças e jovens diagnosticados com Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). A doença é relacionada com situações de desatenção, hiperatividade e impulsividade, que se manifestam antes dos 7 anos e provocam dano ao desenvolvimento infantil e à função social, acadêmica ou em outras esferas. Esse transtorno só é identificado quando a disfunção comportamental ocorre em pelo menos dois contextos diferentes, por exemplo, em casa e na escola.
A professora titular do Departamento de Pediatria da UNICAMP, Maria Aparecida Affonso Moysés, explica que o diagnóstico do transtorno requer uma avaliação abrangente e deve ser feito por uma equipe multidisciplinar, além de levar em consideração diversos fatores. “Em alguns casos, o problema que a criança apresenta pode não ser o TDAH, mas a falta de uma escola adequada, um contexto social específico e o relacionamento com a família. É necessário perguntar o que essa criança está querendo dizer com o comportamento e tentar não se prender a um diagnóstico e a uma medicação”, defende.
Não há um consenso em relação às causas do transtorno e deve-se ressaltar que não existe nenhum exame laboratorial ou de imagem que comprove o diagnóstico. O tratamento é realizado com o medicamento metilfenidato, popularmente conhecido como ritalina. Uma pesquisa realizada pelo Instituto de Medicina Social da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) apontou que o consumo do medicamento no Brasil cresceu 775% nos últimos 10 anos, o que é tido como preocupante por alguns educadores e profissionais de saúde.
Em junho deste ano, a Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo publicou a Portaria 986/2014, que regulamenta o uso do metilfenidato na rede pública. De acordo com a publicação, o tratamento farmacológico deve ser indicado apenas após avaliação por uma equipe multidisciplinar e combinado com intervenções terapêuticas de natureza psicossocial e de educação. Antes da portaria, o metilfenidato podia ser receitado por qualquer médico sem que fossem ouvidos outros profissionais de saúde.
A mesma Portaria justifica que, embora exista prova de que a medicação reduza os sintomas de TDAH, melhore a cognição e problemas de aprendizado e também o ajustamento social e da família, não há prova nítida de benefícios a longo prazo. “É arriscado dar um estimulante para o sistema nervoso central de uma criança. Surtos psicóticos, problemas de transtorno bipolar, surtos maníacos e crises de depressão são alguns dos efeitos do uso irrestrito de metilfenidato”, afirma a pediatra Maria Aparecida Affonso Moysés.
A pediatra defende, ainda, que pais e professores precisam se reapropriar de suas competências e sabedoria, e não procurar se apoiar em um diagnóstico para lidar com o comportamento diferenciado das crianças e jovens. “Existem pessoas com esse comportamento, embora possa se comprovar que a maioria são crianças mais agitadas, mais inquietas, mais questionadoras ou mais sonhadoras. E tem um número menor que chama mais atenção”, explica.
Pais, familiares e professores podem estar mais próximos e entender que as crianças se expressam para o mundo através do comportamento. Captar esses sinais é fundamental para auxiliar na formação dos futuros adultos.
Fonte: Bia Magalhães / Blog da Saúde
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