domingo, 24 de agosto de 2014

Juventude elabora moção pelo seu direito de permanecer no campo

Juventudes de várias partes do Brasil elaboraram este ano, durante o III ENA, moçao para lutar por Plano Nacional pelo Direito da Juventude Permanecer no Campo

Por Débora Britto (Centro Sabiá)

A Juventude é, por excelência, momento e lugar de descobertas, afirmações e construção daquilo que pode ser o futuro. Os jovens presentes no III Encontro Nacional de Agroecologia, que aconteceu entre 16 e 19 de maio de 2014, debateram caminhos e estratégias para garantir sua permanência no meio rural. A partir desse diálogo, foi elaborada uma moção para lutar por Plano Nacional pelo Direito da Juventude Permanecer no Campo e exigir do Governo políticas públicas direcionadas à Juventude do campo.

A pauta da permanência da Juventude no campo não é nova, mas tomou ares de renovação no III ENA. Segundo Erica Galindo, da CONTAG (Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura), o evento foi importante para articulação dos movimentos sociais e ONGs que já debatiam, entre si, políticas e estratégias para os jovens do meio rural. ”Essa pauta inclusive já vem sendo dialogada com o Governo. A expectativa das organizações agora é construir um processo de mobilização em torno dela”, explicou.

No campo, a Juventude é sinal de esperança, de renovação e, também, de continuidade dos saberes, das vivências e dos mais diversos modos de vida. Por este motivo, movimentos sociais ligados ao meio rural e jovens da agricultura familiar, camponesa, indígena e de povos e comunidades tradicionais enfrentam, por um lado, a falta de políticas que incentivem e melhorem a vida no campo e, de outro lado, a pressão não verbalizada para sair do meio rural e migrar para os centros urbanos, seja em busca de melhores oportunidades de emprego ou à procura de serviços básicos como acesso à educação e saúde.

Getúlio Roberto, jovem de Cumaru, município do Agreste Setentrional de Pernambuco, conta que um dos maiores desafios à permanência dos jovens no campo é a falta de políticas públicas de educação. Ele conta que muitos jovens deixam suas raízes em busca de uma vida melhor, mas na cidade se deparam com uma realidade ainda mais dura. “A gente vê também um sistema educacional que incentiva o jovem a sair do campo sendo que existe possibilidade, perspectivas de permanência no campo desde que as políticas públicas que lhe são ofertadas sejam definitivamente cumpridas pelo poder público tanto municipal, tanto estadual”, conta.

Após o protagonismo da Juventude no ENA, Galindo acredita ser preciso aprofundar a articulação por um Plano Nacional pelo Direito à Permanência da Juventude no Campo, que seria um eixo pelo qual pode-se garantir políticas públicas em vários campos para permanência dos jovens nas suas regiões de origem.

Para falar do desejo de ficar no local onde nasceram e se criaram, Jovens Multiplicadores de Agroecologia contam, com suas palavras, porque não querem sair do campo. Confira no vídeo!

Confira na íntegra a Moção da Juventude por um Plano Nacional pelo Direito à Permanência no Campo:

MOÇÃO PELO DIREITO DAS JUVENTUDES PERMANECEREM NO CAMPO

As juventudes comprometidas com a agroecologia, que se fazem presente no III Encontro Nacional de Agroecologia, ocorrido entre os dias 16 e 19 de maio, em Juazeiro/BA, quer denunciar o contexto de ampla expulsão das e dos jovens da agricultura familiar, camponesa, indígena e de povos e comunidades tradicionais de seus territórios, que decorre do modelo de desenvolvimento rural hegemônico baseado no agronegócio.

O contexto de concentração de terras combinado ao modelo de produção agroexportador, que se baseia no monocultivo, na utilização de tecnologias de alto custo econômico e de nocivo impacto ambiental e na exploração da mão-de-obra da classe trabalhadora, influenciam as dinâmicas econômicas, sociais, territoriais e culturais vivenciadas pelas juventudes no âmbito das comunidades rurais, aprofundando as desigualdades no campo brasileiro.

As relações capitalistas estendem seu efeito perverso a partir da desterritorialização dos povos do campo, em especial das juventudes, na medida em que desqualifica a cultura e identidade camponesa e destitui o povo do campo do acesso aos direitos.

É preciso destacar, ainda, que este fenômeno migratório se manifesta de forma mais intensa entre as jovens mulheres, devido às desigualdades de gênero, consolidadas a partir da cultura patriarcal.

A negação do direito da juventude permanecer no campo é incompatível com a construção de um Brasil agroecológico, afinal ele só é possível a partir da diversidade e protagonismo dos sujeitos do campo. Neste sentido, a luta dos movimentos e organizações que constituem o campo da agroecologia deve compreender a disputa de modelo de desenvolvimento, partindo também da afirmação das e dos jovens como sujeitos estratégicos da vivência agroecológica, que devem ter o direito de permanecer no campo tendo acesso ao conjunto de direitos que promovam sua autonomia e emancipação.

Neste sentido, a juventude do campo afirma o direito à terra, por meio da reforma agrária, como demanda central que deve estar articuladas ao conjunto de políticas voltadas a produção, comercialização e geração de renda, bem como às políticas de educação, saúde, esporte, cultura e lazer contextualizados com a realidade camponesa. Portanto, exigimos que o governo brasileiro estruture e implemente o Plano Nacional pelo Direito da Juventude Permanecer no Campo, onde conste as ações, metas e orçamento de políticas públicas que alcance os e as jovens da agricultura familiar, camponesa, indígena e de povos e comunidades tradicionais.

Assinam esta moção:
• ACESA - Associação Comunitária em Educação Saúde e Agricultura
• Actionaid Brasil
• ASSEMA – Associação em Áreas de Assentamento no Estado do Maranhão.
• ASA – Articulação do Semiárido Brasileiro
• Caatinga – Centro de Assessoria e Apoio aos Agricultores e Instituições não-governamentais.
• Centro Sabiá
• CETRA – Centro de Estudos do Trabalho e de Assessoria ao Trabalhador
• CONTAG - Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura
• CPT – Comissão Pastoral da Terra
• EFASE Monte Santo - Escola Família Agrícola do Sertão de Monte Santo 
• FEAB – Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil
• FETRAF/Brasil – Federação dos Trabalhadores Agricultura
• IRPAA – Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada
• Levante Popular da Juventude
• MMC – Movimento de Mulheres Camponesas
• MPA – Movimento de Pequenos Agricultores 
• MST - Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-terra
• PJR - Pastoral da Juventude Rural

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