Especialistas apontam benefícios que tecnologias do Plano ABC podem trazer para conservação do solo e da água
Por Rodolfo Mondoni, do Observatório ABC
O Brasil concentra cerca de 12% de toda água doce do planeta e a maior parte desse recurso, aproximadamente 70%, é utilizado em atividades agrícolas. Em meio à crise hídrica que atinge o Brasil, principalmente a região Sudeste, implantar técnicas que ajudem a conservar esse recurso é fundamental.
“Algumas das tecnologias oferecidas pelo Plano ABC possuem um peso conservacionista muito grande. O plantio direto e a integração lavoura-pecuária, por exemplo, facilitam a infiltração da água no solo. Há um aproveitamento melhor desse recurso”, afirma Eduardo Assad, pesquisador da Embrapa Informática Agropecuária.
O plantio direto é a técnica de semeadura na qual a semente é colocada no solo não revolvido (sem prévia aração ou gradagem) usando semeadeiras especiais. Esse processo diminui o risco de erosão e aumenta a capacidade de infiltração da água e de retenção de umidade, melhorando o rendimento em anos secos. Segundo dados da Federação Brasileira de Plantio Direto e Irrigação (Febrapdp), a técnica pode trazer uma economia de até 30% no uso de água para irrigação.
A integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) promove a recuperação de áreas de pastagens degradadas, agregando na mesma propriedade diferentes sistemas produtivos, como grãos e pecuária de corte, por exemplo. Além disso, as árvores protegem o solo e também diminuem o risco de erosão e melhoram a infiltração da água.
Tratamento de dejetos
É preciso considerar que a disponibilidade da água não está somente relacionada com a quantidade, mas também com a qualidade da água. Nesse caso, o tratamento de dejetos animais, outra tecnologia oferecida pelo Plano ABC, também traz benefícios. “Essa tecnologia tem um aspecto ambiental importante, porque evita que os coliformes sejam jogados diretamente no solo e assim contaminem o lençol freático”, explica Assad.
Estudo realizado pelo Centro de Energia Nuclear na Agricultura (Cena/USP) verificou que os dejetos gerados por 140 bovinos confinados por 90 dias, podem recuperar em média 700 kg de nitrogênio, o que representa o potencial de cerca de 400 kg de nitrogênio via fertilizantes sintéticos. Somado a isso, é possível gerar 1.500 m3 de biogás, que geraram cerca de 2300 kWh.
Isso significa que essa tecnologia pode trazer economia ao produtor, pois ele gasta menos com adubo e energia, e ainda reduz as emissões de gases-estufa e impactos ambientais como contaminação do solo e da água.
Produção de energia
O Brasil é conhecido por ter uma matriz energética predominantemente limpa, centrada na produção hidroelétrica. Porém, a crise hídrica está levando o país a sujar a sua matriz, com o aumento da produção de energia vinda das termoelétricas, que queimam combustíveis fósseis (óleo, carvão, gás natural), altamente poluentes.
“Podemos aproveitar a própria agricultura para colaborar com a conservação dos recursos hídricos e também para produzir energia, sem sujar a nossa matriz”, ressaltou Luis Fernando Guedes Pinto, do Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora).
O pesquisador também concordou que “é possível correlacionar algumas práticas do ABC com a conservação do solo e da água”. E ainda disse que os resíduos das atividades agrícolas podem gerar energia, o que diminuiria a dependência do país em relação às hidrelétricas.
Como alternativa, Luis Fernando citou a bioeletricidade, atividade não relacionada ao Plano ABC, mas que tem um potencial muito grande de geração de energia. A bioeletricidade é uma energia limpa e renovável feita a partir de subprodutos da cana-de-açúcar (bagaço e palha). Segundo o Portal Bioeletricidade, 1 tonelada de palha pode gerar 500 kWh. Em 2010, o consumo médio de uma residência brasileira foi de 154 kWh. Isso significa que com apenas 1 hectare de cana é possível através da bioeletricidade abastecer oito residências o ano todo.
Publicado no Portal EcoDebate, 06/03/2015
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