Utilização excessiva de drogas na produção de alimentos tem provocado o aumento da resistência de micróbios, trazendo novos riscos à saúde das pessoas e dos animais. Fortalecimento de agentes infecciosos também ameaça produtividade dos meios rurais. Segundo a FAO, sete a cada dez doenças humanas recém-descobertas são de origem animal.
Na agropecuária, a resistência dos micróbios aos antibióticos é normalmente mais elevada em animais criados em sistemas de produção intensiva. Foto: FAO / Hoang Dinh Nam
A Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) destacou que o uso excessivo de antibióticos no setor agropecuário tem provocado o aumento da resistência dos micróbios que as drogas deveriam eliminar. Para a agência da ONU, a crescente dificuldade em combater agentes infecciosos é uma “ameaça global emergente de saúde pública”, capaz de afetar, também, a segurança alimentar. Conjuntura exige esforços coordenados em escala global.
Em conferência que reuniu ministros europeus da Agricultura e da Saúde, a vice-diretora-geral da FAO, Helena Semedo, ressaltou os riscos associados à utilização desmedida de remédios na produção de alimentos. Considerando-se que sete a cada dez doenças humanas recém-descobertas são de origem animal, a agência da ONU acredita que as práticas da agropecuária e os sistemas alimentares ocupam uma posição central no combate à resistência microbiana.
De acordo com a dirigente, embora o fortalecimento de agentes infecciosos frente às drogas seja parte de uma adaptação natural, o processo tem sido acentuado pelo uso inapropriado de fármacos. Na agropecuária, a prevalência da resistência é geralmente mais alta em espécies animais criadas em sistemas de produção intensiva.
A resistência dos micróbios, precipitada pelo tratamento com remédios, ameaça reverter “um século de progresso na saúde animal e humana”, além de prejudicar a produtividade dos meios rurais.
Semedo lembrou que pequenos agricultores com poucos recursos nem sempre podem optar por métodos de produção livres de antibióticos, apesar de a FAO estabelecer regulações prudentes para a distribuição de remédios, a fim de estimular sua redução. O consumo, cada vez maior, de drogas falsificadas entre os próprios produtores familiares também é um problema de saúde que afeta o meio rural.
“Como nós podemos eliminar a fome ou melhorar a sustentabilidade quando nós não podemos curar animais doentes? Como nós podemos reduzir a pobreza rural quando as drogas dadas para agricultores doentes e suas famílias não mais têm efeito?”, questionou a vice-diretora.
A dirigente da FAO elogiou esforços como os verificados na Holanda, que reduziu o volume de drogas utilizadas na pecuária em cerca de 60%, nos últimos anos. No entanto, Semedo alertou que o verdadeiro desafio é levar essas políticas para países com recursos escassos. Em nações onde a legislação, a vigilância e a prevenção são inadequadas, os riscos de fortalecimento da resistência dos micróbios é particularmente mais alto.
Melhorias na higiene, na prevenção de doenças e no monitoramento veterinário da criação, bem como o fornecimento de alimentos nutritivos para os animais da pecuária e para os peixes, são fundamentais para reduzir o uso excessivo de antibióticos na produção alimentar, segundo a FAO.
Da ONU Brasil, in EcoDebate, 22/02/2016
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