segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Conhece o cranberry? » Revista Herbarium

Texto: Raquel Marçal, de Curitiba |15 de outubro de 2012


Originária do hemisfério Norte, essa fruta vermelha pode ser uma alternativa eficaz e segura para quem sofre com infecções urinárias


As frutinhas vermelhas da foto acima são pouco comuns no Brasil. O cranberry – este é o nome da fruta em inglês – é típico de países frios. E seus maiores produtores – o Chile, os Estados Unidos, o Canadá e a Polônia – estão tendo de aumentar suas colheitas desde que começaram a ser divulgadas dezenas de pesquisas comprovando que o cranberry (Vaccinium macrocarpon) é eficaz na prevenção de infecções urinárias.

Esse é um problema que afeta principalmente as mulheres (entre 27% a 40%), crianças, mulheres na pós-menopausa e gestantes. Homens também podem ser vítimas, mas, por uma questão de anatomia, nesse caso elas é que são mesmo o sexo frágil: têm a uretra mais curta e mais próxima à vagina e ao ânus. Pior: estudos revelam que cerca de um quinto das mulheres tratadas de infecção urinária podem passar pelo sufoco novamente. É que existem as chamadas infecções recorrentes, que atacam pelo menos duas vezes a cada seis meses. Para essas pacientes, o cranberry pode ser a solução. “A prevenção com cranberry é hoje uma opção segura e eficaz, com a vantagem de não causar resistência bacteriana, a exemplo do que acontece com os antibióticos”, afirma o urologista Wagner Eduardo Matheus, diretor da Sociedade Brasileira de Urologia de São Paulo.

A responsável pelo efeito preventivo é uma substância chamada proantocianidina tipo A (PAC A), que tem o poder de impedir que a bactéria Escherichia coli (E.coli), principal causadora desse tipo de infecção, grude no trato urinário (uretra, bexiga, ureter e rins). Quando consegue aderir à região, a bactéria provoca redução do jato urinário, dores na bexiga e ardência na hora do xixi. Mas, se fica à deriva, ela acaba sendo eliminada junto com a urina.

A ação da PAC A foi comprovada em 1998 pela pesquisadora Amy Howell e sua equipe na Rutgers University de Nova Jersey, nos Estados Unidos. Eles descobriram que a PAC A encontrada no cranberry proporciona um efeito antiadesão que pode durar até 10 horas após a ingestão da fruta.

Em 2007, o grupo comparou a PAC A do cranberry com outras proantocianidinas, estas do tipo B, presentes na uva, na maçã, no chá verde e no cacau. A PAC A já começou a mostrar serviço a partir da dose de 60 microgramas/mL, enquanto a PAC tipo B só apresentou atividade a partir de 1.200 microgramas/mL, portanto, uma dose 20 vezes maior. Em geral, os estudos recomendam que sejam consumidos de 30 a 60 mg de PAC A por dia para efeito de prevenção.

O mais recente estudo sobre o cranberry é fresquíssimo. Em julho, cientistas da Universidade Nacional de Taiwan publicaram no Archives of Internal Medicine uma análise de mais de 10 testes clínicos feitos para checar, mais uma vez, a capacidade da fruta para prevenir infecções urinárias. No total, 1.616 voluntários participaram dos testes. A conclusão: os que não consumiram cranberry tiveram um risco 62% maior de ter a infecção.

Como a fruta não é cultivada no Brasil, dificilmente você vai encontrá-la fresca na feira. Mas dá para consumir o cranberry com a dose certinha de PAC A na forma de sachês. Se, no entanto, você estiver tomando algum anticoagulante, converse com seu médico. Não é consenso, mas alguns estudos sugerem que o cranberry não deve ser consumido por quem faz uso desses medicamentos.

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