segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Fitoeconomia » Revista Herbarium

Texto: Raquel Marçal, de Curitiba |29 de outubro de 2012


Com base em estudos feitos em Madagascar, pesquisador de Harvard calcula o valor, em dinheiro, de remédios preparados com plantas medicinais


A especialidade do ecologista e epidemiologista americano Christopher Golden, de 29 anos, é avaliar quanto vale tudo o que os ecossistemas, como as florestas, dão à humanidade. Seja energia, comida ou remédios. “É possível estabelecer um valor econômico para o serviço que o meio ambiente presta às pessoas”, diz Golden em entrevista, por e-mail, a Revista Herbarium. “Uma vez que monetarizamos isso, podemos tomar decisões mais bem informadas sobre o que fazer a respeito das práticas de uso da terra”, explica.

Pesquisador do Harvard University Center for the Environment, nos Estados Unidos, Golden conduz seus estudos há mais de dez anos na Ilha de Madagascar, no sudeste da África. A fluência no malagasy, o idioma oficial do país, foi fundamental para o trabalho que acaba de publicar. Golden conseguiu determinar o valor em dinheiro das plantas medicinais utilizadas pelos habitantes de uma área de preservação do país – gente que, na ausência de hospitais e farmácias, conta com os recursos da floresta para obter seus remédios.

Por cinco anos, Golden e sua equipe entrevistaram os moradores de mais de 600 casas em 24 vilas do Parque Nacional Makira, no nordeste da ilha, para saber quais doenças eram tratadas com as espécies da mata e com que frequência eram administradas. De posse das informações, os pesquisadores identificaram os medicamentos que seriam normalmente usados para tratar cada um dos males citados (foram 82) e checaram seus respectivos preços na cidade mais próxima. Descobriram que o hábito (ou a necessidade) de utilizar as plantas em vez de medicamentos convencionais resulta em uma economia de US$ 5,40 a US$ 7,90 anuais por pessoa. Há famílias que no ano deixam de gastar entre US$ 30,20 e US$ 44,30, o que lá equivale a até 63% da renda familiar anual.

Como parte da análise, a equipe comparou os preços que os americanos pagariam se comprassem os equivalentes farmacêuticos dos remédios que, em Madagascar, saem direto da floresta. O resultado da conta: cada americano gastaria entre US$ 100,60 e US$ 287,40 anuais. Se preferisse a alternativa natural, diminuiria entre 22% e 63% seus gastos com saúde. “Creio que essas conclusões demonstram o tremendo valor de uma floresta intacta, tanto de uma perspectiva monetária quanto de saúde”, afirma Golden. “As florestas não são valiosas apenas para estocar gás carbônico”, defende.

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