À medida que a população mundial aumenta e as fronteiras agrícolas se expandem para os habitats tropicais nativos, pesquisadores estão trabalhando arduamente para entender os impactos nas florestas tropicais e na biodiversidade global. Mas um impacto óbvio foi pouco estudado nessas fronteiras agrícolas: pesticidas. Contudo, um novo estudo publicado no periódico Philosophical Transactions of The Royal Society B procura colocar uma luz no fim do túnel.
A reportagem é de Adam Andru, publicada pelo portal Mongabay, e reproduzida poramazonia.org.br, 22-08-2013
Mudanças intensivas na terra em muitas partes da Amazônia brasileira estão expondo grandes números de espécies a pesticidas com impactos desconhecidos, de acordo com Luis Schiesari, da Universidade de São Paulo, e sua equipe de pesquisadores.
“Pesticidas são produtos deliberadamente criados para reduzir o crescimento, desenvolvimento, reprodução e sobrevivência de organismos, e, portanto, têm uma gama potencialmente grande de efeitos letais e subletais de preocupação”, falou Schiesari ao mongabay.com.
Regiões de florestas tropicais como a Amazônia não apenas têm mais espécies a serem perdidas em termos absolutos, mas também contêm mais espécies sensíveis, vulneráveis e endêmicas que provavelmente são ameaçadas tanto pelo uso de pesticidas como pela expansão de terras agrícolas.
O uso excessivo de pesticidas é predominantemente, mas não inteiramente, atribuído a pequenos produtores agrícolas cuja principal renda é baseada na produção total e na qualidade da produção agrícola, de acordo com os pesquisadores. Por outro lado, fazendas corporativas estão sob o olhar público e são mais propensas a obedecer a regulamentações estabelecidas por organizações governamentais.
O uso excessivo de pesticidas pode muito bem ser um produto de níveis de educação limitados ou baixos em relação a produtos químicos.
“Acredito que qualquer educação, suporte técnico ou transferência de tecnologia que ajudasse pequenos agricultores a aumentar a produção e a renda, minimizar perdas e proteger a saúde seria bem-vindo”, disse Schiesari.
“O uso apropriado de pesticidas pode contribuir para qualquer desses tópicos, e é uma das práticas mais tecnicamente desafiadoras de manejo de terras: por exemplo, grãos de feijão são, sozinhos, responsáveis por 400 formulações de pesticidas que contêm 137 ingredientes ativos no Brasil. Decidir qual deles usar, quando, como e quanto é um desafio técnico considerável.”
Schiezari e seu grupo também argumentam que onde o alcance e o controle governamental são limitados, a pressão de mercado pode ser direta ou indiretamente importante na conservação da biodiversidade. Entretanto, isso pode ser enganador.
Por exemplo, quando analisada uma plantação em grande escala de soja onde as regulamentações são altas, houve uma tendência de diminuição gradual na toxidade total dos mamíferos e humanos e uma tendência crescente na toxidade de espécies de água doce.
Pesticidas selecionados criados especificamente para proteger mamíferos não garantem a proteção de organismos aquáticos, segundo a pesquisa de Schiesari. Além disso, “uma das primeiras e mais penetrantes mudanças nos sistemas de água doce que acompanha a conversão de terras é o represamento. Produtores constroem pequenas barragens para conceder acesso ao gado para a água, para gerar energia hidrelétrica e para armazenar reservas com peixes.”
Como no caso da expansão agrícola para florestas tropicais onde a terra é abundante, prontamente apropriada e barata, é comum que os incentivos econômicos compensem a conservação e a saúde geral das espécies circundantes.
Pequenos produtores agrícolas, por exemplo, fazem seu salário baseados na quantidade de rendimento de suas terras de fronteira. Essa ênfase na quantidade em relação à qualidade da estrutura agrícola leva ao ocasional uso excessivo de pesticidas para assegurar a integridade da colheita, assim como o desejo de expandir a propriedade em florestas tropicais intocadas.
A infiltração de habitats tropicais para as terras agrícolas fronteiriças é prejudicial para a biodiversidade e integridade da Amazônia brasileira, especialmente quando o uso de pesticidas não é regulamentado e há falta de manejo de terra.
“Há uma necessidade ampla de mitigação do risco de pesticidas em todas as escalas de produção. Isso só pode ser atingido através do compartilhamento de responsabilidades e o envolvimento de uma grande diversidade de interessados”, declarou Schiesari no relatório de sua pesquisa.
Melhores práticas de manejo de terra e regulamentações são necessárias se buscamos práticas mais sustentáveis de agricultura que incluem proteções para biodiversidade, de acordo com o estudo. Mas isso não é apenas um trabalho para governos.
“Consumidores podem ter um efeito significativo na conservação da biodiversidade em cenários agrícolas ao comprarem comida de produtores que manejam terra de formas ambientalmente responsáveis – tanto de sistemas de produção convencionais quanto orgânicos”, observou Schiesari.
Citação: Schiesari L, Waichman A, Brock T, Adams C, Grillitsch B. 2013 Pesticide use and biodiversity conservation in the Amazonian agricultural frontier. PhilTrans R Soc B 368: 20120378.
(Ecodebate, 26/082013) publicado pela IHU On-line, parceira estratégica do EcoDebate na socialização da informação.
[IHU On-line é publicada pelo Instituto Humanitas Unisinos - IHU, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos, em São Leopoldo, RS.]
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