Fernando Pivetti - fernando.pivetti@usp.br
Publicado em 26/agosto/2013
Um estudo da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP fez um levantamento sobre a ligação entre as práticas de promoção de saúde e o contexto escolar. No projeto, verificou-se que o tema saúde é muito abordado nas atividades escolares, de modo que ícones e símbolos conhecidos da área de saúde puderam ser identificados nos desenhos e discursos dos alunos.
Desenhos representavam ícones da medicina e do planejamento sanitário
A tese de doutorado do médico Eduardo Alexander Júlio César Fonseca Lucas trabalhou com crianças em idade escolar, buscando identificar um diálogo entre o ambiente da sala de aula e as políticas de saúde. “Na pesquisa, fomos instigados a compreender e explorar melhor o universo dos sentimentos dos escolares pesquisados, a partir do desenho infantil e dos significados emergidos destes”, afirma Lucas.
Durante o processo de pesquisa, foi realizada uma abordagem qualitativa do tipo etnográfica. Essa abordagem procurava investigar a cultura escolar buscando compreender os significados emergentes das produções simbólicas representadas pelos desenhos e relatos das crianças sobre o tema saúde. Como ferramentas de coleta de dados foram utilizadas a observação do cenário pesquisado (no caso a escola), a coleta de narrativas feitas a partir da interação do pesquisador com a comunidade escolar e os desenhos elaborados pelas crianças acrescidos dos relatos das crianças acerca dos desenhos.
O pesquisador destaca que a produção obtida a partir dos desenhos elaborados a mão livre pelos escolares pesquisados serviu também como indicador de avaliação da qualidade do atendimento prestado e do desenvolvimento dos projetos. “Surpreendentemente, emergiram dos desenhos temas importantes relacionados a vários aspectos da saúde humana, tais como: ecologia e meio ambiente; violência doméstica, fome e miséria; entre outros” ressalta.
Em relação ao conteúdo dos desenhos, Lucas destaca a reprodução de símbolos médico-sanitários muito comuns tanto do modelo biomédico e higienista como da cultura escolar. “As produções simbólicas retrataram com riqueza de detalhes, criatividade e imaginação de espaços sociais, como hospitais e postos de saúde, recursos materiais utilizados nos atendimentos, como seringas e estetoscópios, procedimentos, como aplicação de injeção, e os atores sociais do meio, como médicos e professores”.
Entraves e ações sociais
Segundo o médico, os resultados desse estudo evidenciaram o papel importante da participação social na promoção da saúde pública dentro das escolas. Ele afirma que nos últimos anos observa-se uma série de “limitações cotidianas enfrentadas na realidade da comunidade escolar como a articulação entre universidade, escola e serviços de saúde, o envolvimento pleno de alguns professores e funcionários da escola para compartilhar o espaço pedagógico com atividades de promoção da saúde, a pouca inserção da família no cotidiano dos seus filhos na escola e a falta de aproximação com a comunidade escolar”, tendo em vista os conflitos e a violência presentes no cotidiano de algumas escolas localizadas em áreas de risco.
Fazer da escola um espaço dinâmico de movimento social que visa a junção de ações de diversos setores, como saúde e segurança pública, e outras ações vinculadas ao poder público é uma das principais ideias defendidas pelo pesquisador. “Ações como essas trariam para a comunidade escolar os subsídios necessários à diminuição das desigualdades sociais então existentes”, frisa.
Imagens cedidas pelo pesquisador.
Mais informações: eduardoalexander@gmail.com, com Eduardo Alexander
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