quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Especialista propõe menos consumo em vez do "crescimento disfarçado de sustentabilidade"

Data: 04.11.2013

A sustentabilidade pode ser usada como um mito perigoso para alimentar o consumo desenfreado. A opinião é de Christopher Barnatt, professor associado na Nottingham University Business School, no Reino Unido. Em artigo publicado no domingo, 27 de outubro, no Guardian Sustainable Business, o também autor do livro Sete maneiras de consertar o mundo sugeriu que a busca de crescimento constante não pode ser sustentável e que, em vez disso, devemos desconstruir nossa sociedade de consumo para uma transição voltada a "consumir menos e com mais valor".

"Infelizmente, agora, a sustentabilidade tornou-se uma obsessão da moda. Talvez a única coisa que a maioria dos políticos, economistas e muitos empresários anseiam ainda mais é o crescimento econômico constante, que é vendido por meio do conceito absurdo de crescimento econômico sustentável", apontou Barnatt. Segundo ele é impossível viver de forma sustentável, pois a vida é um "processo físico de consumo". "Podemos escolher alternativas mais sustentáveis, esse é um objetivo louvável, mas o que querem fazer é espalhar a propaganda de que há um meio de continuar vivendo como fazemos agora, mas de uma forma sustentável", criticou.

O professor lembrou que a humanidade ultrapassa cada vez mais cedo os limites ecológicos anuais do planeta (em 2013 foi no dia 20 de agosto), o que significa que consome mais recursos naturais do que a Terra pode suportar. "A não ser que mudanças drásticas sejam feitas, dentro de 20 anos a oferta mundial de petróleo, água potável, alimentos e muitos minerais deixará de atender a demanda. No entanto, mesmo neste contexto, acredito que devemos deixar a nossa obsessão perigosa com a 'sustentabilidade'" , sugeriu Barnatt.
Barnatt é professor associado na Nottingham University Business School, no Reino Unido

“Qualquer sugestão de que é possível continuar a viver de forma sustentável, como fazemos hoje, deve ser considerada perigosa”
Christopher Barnatt, professor associado na Nottingham University Business School

Para embasar seus argumentos, o professor citou os exemplos da reciclagem e da energia renovável. Segundo ele, hoje vende-se a ideia de que o consumismo em massa pode continuar ininterruptamente, pois tudo que jogamos fora é "magicamente" reciclado. "Reutilizar os produtos em vez de jogá-los nos aterros é uma boa ideia, mas, infelizmente, faltam tecnologias para transformá-los em novas matérias-primas. A solução é consumir menos", defendeu.

Menos consumo

Sobre energia, Barnatt observou que mesmo as fontes renováveis implicam, em algum momento, na emissão de gases-estufa, além de possuir vida útil limitada. "As turbinas eólicas, por exemplo, exigem torres, geradores e velas a serem construídas , enquanto as células solares fotovoltaicas não se concretizam fora do ar."

"Devemos nos concentrar em desconstruir nossa sociedade de consumo e promover uma transição para um mundo em que haja menos consumimos de coisas e mais valor das coisas. A obsessão com a descartabilidade em massa deve ser quebrada e a prática de reparar os produtos com defeito precisa retornar", advertiu o professor, que também lembrou da importância do consumo local, em contraposição as longas distâncias que envolvem grandes transportes.

Rever conceitos

"Por décadas, a maioria dos economistas pregou os benefícios da globalização, ignorando o seu impacto terrível sobre o meio ambiente e as gerações futuras. Eu não estou sugerindo que todas as formas de comércio global devem cessar, mas não podemos continuar desperdiçando um sétimo dos recursos do planeta no transporte", ressaltou.

"Nós poderíamos comprar alimentos e roupas em uma base muito mais local. A maioria dos economistas pode dizer que isso é uma mentira. Mas devemos realmente continuar a confiar naqueles que ainda pregam os benefícios da sociedade de consumo e a necessidade de crescimento econômico constante?", questionou Barnatt.

Para Christopher Barnatt, vivemos em um planeta pequeno, cujo envelope de recursos já foi significativamente ultrapassado. "Qualquer sugestão de que é possível continuar a viver de forma sustentável, como fazemos hoje, deve ser considerada perigosa. Mesmo se pudéssemos explorar os recursos das estrelas nunca poderíamos construir um mundo que seja sustentável. Rotular nossos esforços como tal, e envenenar as nossas mentes com a loucura do conceito atual de sustentabilidade é um exercício que devemos questionar seriamente", concluiu.

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