Redução de chuva no nordeste, aumento de chuva no Sul e Sudeste e menos vazão de rios no Centro-Oeste são algumas das projeções do primeiro relatório produzido pelo Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas. Os resultados e conclusões dos cenários projetados foram apresentados nessa terça-feira (5), durante audiência pública na Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural da Câmara dos Deputados.
O pesquisador da Embrapa Informática Agropecuária (Campinas, SP) Eduardo Assad participou da audiência apresentando os impactos das mudanças do clima na agricultura. Segundo ele, os estudos constataram que houve um aumento na frequência de fenômenos extremos no Brasil, ou seja, vários dias do ano com temperaturas muito elevadas, outros com temperaturas muito baixas e chuvas intensas. Mas, segundo o pesquisador, de maneira generalizada, o Brasil não está apresentando sinais de redução de temperatura. “Culturas como soja, milho, café e trigo seriam as mais afetadas com o aumento da temperatura. Já as pastagens e a cana-de-açúcar seriam beneficiadas”, exemplificou.
De acordo com Assad, as populações mais pobres vão sofrer mais com as consequências do aquecimento global. A seca que deverá se intensificar no Nordeste é um dos principais problemas da região que hoje já afeta cerca de 18 a 20 milhões de habitantes. “Precisamos investir em opções de culturas adaptadas à seca. Parte da solução, por exemplo, está no milho desenvolvido para o Nordeste com capacidade de adaptação ao clima da região. Por que não fazer testes com esse milho no Sul do país”, questionou.
Por esses motivos, é necessário, segundo Assad, investir em políticas públicas para resolver o problema. “Nós até estamos muito bem nessa área, porque já existem políticas públicas nesse sentido. Em 2010 foi implementado a política de baixa emissão de carbono que significa melhorar os pastos degradados, ampliar a integração lavoura-pecuária-floresta, fazer plantio direto correto, fixação biológica de nitrogênio, reflorestamento, uso de dejetos agrícolas para geração de metano e energia”, explicou Assad que, citou ainda, o fato de estrangeiros estarem vindo ao Brasil aprender mais sobre o assunto. Mas segundo ele, é preciso acelerar esse processo. “Será uma forma de mostrar que nós temos condições de ter a agricultura mais limpa do mundo e sem nenhum problema de barreira não-tarifária.”
Além de Eduardo Assad, outros convidados apresentaram resultados do relatório como o pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Gilvan Sampaio de Oliveira, a professora do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade de Brasília, Mercedes Bustamante, o professor da Universidade Federal de Pernambuco, Moacyr Araujo e o assessor técnico da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Nelson Ananias.
Visão contrária
O professor da Universidade Federal de Alagoas Luiz Carlos Molion também participou da audiência apresentando uma visão contrária dos demais participantes sobre as mudanças climáticas. Para ele, nos próximos 20 anos, haverá um resfriamento global. “O efeito estufa não controla o clima, quem faz isso é o sol. Os oceanos são os grandes responsáveis pela alteração do clima e dados comprovam que os eles estão resfriando ligeiramente”, afirmou. Molion disse ainda que reduzir as emissões de gases é inútil “Apesar de o CO2 ter sido colocado como vilão, ele é o gás da vida e não controla o clima global”, concluiu.
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