O consumo moderado de café não interfere na absorção do cálcio e não causa osteoporose
Prof. Dr. Darcy Roberto Lima, MD, PhD
Diversas pesquisas examinaram a relação entre o consumo de cafeína e fraturas do quadril e detectaram que o risco de fratura do quadril apresenta uma modesta relação com o consumo de doses elevadas de cafeína, superiores a cinco xícaras diárias. Mas comentam que o consumo de cafeína esta geralmente associado a outras substâncias, esta relação pode ser indireta e precisa de maiores esclarecimentos para confirmar esta suposição. Outras pesquisas concluíram que não existe relação entre o consumo de cálcio, leite fósforo, proteínas, vitamina C e cafeína e fraturas do quadril. Adicionalmente concluíram que exercícios recreacionais na infância e adolescência parecem ajudar a proteger contra este tipo de fratura.
Um grande número de estudos em mulheres no período pós-menopausa para avaliar a incidência de osteoporose através de um controle da densidade óssea e sua relação com o consumo de cálcio, cafeína e tabaco já foi realizado. Os autores concluíram que a menopausa está associada a uma diminuição da densidade óssea e osteoporose, que pode ser agravada pelo tabagismo, pois este diminui a absorção de cálcio. O consumo moderado de cafeína não possui relação com o problema. Outros autores estudaram a relação entre o consumo de cafeína e a incidência de osteoporose em diversas clínicas especializadas nos Estados Unidos e detectaram que não existe relação entre o consumo moderado de cafeína e uma maior incidência de osteoporose. Recomendam que o consumo exagerado de cafeína deve ser evitado apenas por pessoas idosas e que existe uma relação entre o consumo de cafeína e de tabaco e álcool.
Outras pesquisas mostram que não existe relação entre o consumo de cafeína, osteoporose e fratura do quadril e que apenas o consumo de doses acima de 450 mg diários de cafeína pode influir na ocorrência de osteoporose apenas nas mulheres que consomem uma quantidade inferior a 800 mg de cálcio na dieta. Não existe influência na densidade óssea ou osteoporose nas mulheres que consomem café com pelo menos um copo de leite ao dia e apenas o consumo de cinco xícaras ou mais de café sem um consumo diário de leite pode estar relacionado a uma maior incidência de osteoporose em pessoas idosas ou mulheres pós-menopausa.
O climatério é aquele período da vida da mulher em que ocorre a falta de ovulação, deficiência da secreção de hormônios esteróides e uma série de mudanças regressivas dos caracteres femininos, representando a transição do período reprodutivo (menacme) ao não-reprodutivo (senectude). A menopausa é a última menstruação, que se constitui numa etapa dentro do climatério. As etapas do climatério podem ser dividas em pré, peri e pós-menopausa. A pré-menopausa é o período do final da menacme até a menopausa, a peri-menopausa é o período de um a dois anos que precede a menopausa e a pós-menopausa compreende o período entre a data do último catamênio e a senectude. O tratamento da menopausa é uma prática comum e crescente em clínica médica e estima-se que existam mais de 30 milhões de mulheres na menopausa nos Estados Unidos e mais de 20 milhões no Brasil.
O termo menopausa se refere à cessação da menstruação, tanto como parte normal da idade quanto como conseqüência da remoção cirúrgica de ambos os ovários. Fisiologicamente, um complexo de sintomas precede a cessação do fluxo menstrual e as ovulações tornam-se cada vez mais escassas antes de se estabelecer a menopausa. Uma série de alterações fisiológicas ocorrem por um a três anos, como sensações de calor, sudorese noturna, secura vaginal e dispareunia. Esta última é referida apenas com uma pergunta direta e objetiva pelo médico e resulta de vaginite atrófica devido à deficiência de estrógenos.
A idade média da ocorrência da menopausa na civilização ocidental é em torno dos 51 anos, embora exista grande variação individual. Nos casos de menopausa prematura, esta ocorre antes dos 40 anos de idade, decorrente de um padrão genético ou devido a fenômenos auto-imunes. A menopausa tardia ocorre após os 52 anos de idade. A menopausa cirúrgica devido a ooforectomia bilateral é comum e pode causar uma sintomatologia mais intensa e desagradável, devido à súbita queda no nível dos hormônios sexuais circulantes. Não há evidências de que a menopausa possa ser antecipada ou retardada em conseqüência de distúrbios emocionais ou alterações da personalidade, embora sua ocorrência geralmente se correlacione com eventos importantes na vida da mulher, como divórcio, crises de identidade ou solidão devido ao casamento de filhos adultos. Isso aumenta a sobrecarga emocional e causa grande desgaste psicológico para a mulher na menopausa.
A principal característica do período são as irregularidades dos ciclos menstruais, podendo haver menorragia devido à falta de ovulação e hiperplasia endometrial por ação estrogênica na ausência de progesterona. À medida que a menopausa se aproxima ocorre um aumento das gonadotrofinas, principalmente do FSH, que tem uma elevação mais precoce e maior que o LH. A seguir os ciclos são mais prolongados, tornam-se mais escassos até a completa supressão da menstruação, num período de um a três anos. Qualquer sangramento após este período impõe rigorosa investigação para possível aspiração ou curetagem endometrial, pela possibilidade de câncer de endométrio.
Os fogachos - sensação de calor no tronco e face, com sudorese - ocorrem na grande maioria das mulheres (80%) como conseqüência da diminuição dos hormônios ovarianos e aumento da liberação do hormônio liberador da gonadotrofina (GnRH). Este atua nas áreas adjacentes da iminência média do hipotálamo, onde é produzido, interferindo em áreas que regulam a temperatura, originando os fogachos, que são mais intensos no final do dia, no verão, após a ingestão de bebidas alcoólicas ou comidas quentes e em períodos de grande tensão. Quando os fogachos ocorrem à noite, causam importante sudorese e insônia, o que determina grande fadiga à mulher no dia seguinte.
A mucosa vaginal, com a diminuição dos níveis de estrógeno, torna-se pálida, com menor diâmetro e com menor lubrificação, o que comumente é responsável por dispareunia. A atividade sexual regular, com o uso de lubrificantes como cremes de estrógeno ou testosterona, ou o uso de estrógenos via oral, alivia e previne a dor causada pela relação sexual. A insuficiência estrogênica se reflete na uretra e na bexiga e em mulheres idosas a uretra se converte em estrutura rígida com epitélio delgado e friável. A diminuição da pressão intra-uretral devido a falta de estrogênio favorece o aparecimento de incontinência urinária de esforço. A micção fica difícil, com polaciúria, disúria, retenção e sensação de micção iminente (síndrome uretral). Há maior incidência de coronariopatia aterosclerótica.
A osteoporose ocorre como complicação tardia da menopausa com dores articulares, achatamento das vértebras, cifose, fraturas ósseas (vértebras, costela e colo de fêmur). O uso prolongado de estrógenos protege a mulher de problemas cardíacos, por diminuir o colesterol LDL e aumentar o HDL, além de prevenir a osteoporose, os fogachos e a dispareunia. Seu uso, entretanto, aumenta o risco de câncer de mama, de endométrio (adicionar progestágeno), de litíase biliar e favorece o crescimento de miomas uterinos. Por esse motivo, apenas o médico deve efetuar uma avaliação periódica em toda mulher pós-menopausa em uso crônico de estrógenos pela via sistêmica, através de hormonioterapia de substiuição, de reposição ou suplementação, pois o climatério ocorre devido insuficiência hormonal.
A terapêutica hormonal deve ser individualizada e administrada conforme a fase em que se encontra a paciente, na pré, peri ou pós-menopausa. Pesquisas recentes (HERS e WHI) constataram que o uso de estrogênios conjugados eqüinos na dose de 0,625 mg e acetato de medroxiprogesterona na dose de 2,5 mg aumenta o risco de fenômenos tromboembólicos, o risco relativo de doença coronariana, de acidente vascular cerebral, de calculose biliar e de câncer de mama embora ocorra diminuição no risco de câncer de cólon e de fraturas osteoporóticas de fêmur e coluna. Na atualidade a tendência é o uso de baixas doses de hormônios com efeito suficiente para abolir os sintomas climatéricos, melhorar a atrofia urogenital e prevenir a perda óssea.
REFERÊNCIAS:
1 - Lima, D. R. Cuidado!!! O popular café e a poderosa mulher... podem fazer bem à saúde. Petrópolis: Medikka Ed. Científica, 2001. 111 p.
2 - Lima, D. R. Manual de Farmacologia Clínica, Terapêutica e Toxicologia. Rio de Janeiro: Medsi Ed. Científica, 2003. 3 Volumes, 3.456 p.
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