terça-feira, 8 de abril de 2014

É mesmo necessária a utilização de tantos animais na experimentação de produtos, artigo de Rafael Ducas

No dia 23 de Janeiro de 2014, São Paulo tornou-se o primeiro estado Brasileiro a proibir o uso de animais para avaliação de segurança de cosmético. Fruto também da movimentação feita por ativistas frente ao Instituto Royal. (Brasil, 2014).

Como conhecimento, não apenas cosméticos e produtos de beleza, usa-se animais para avaliação de segurança humana, mas também medicamentos e agrotóxicos.

Agrotóxicos são considerados extremamente relevantes no modelo de desenvolvimento na agricultura no País. Colocando o Brasil o maior consumidor de produtos agrotóxicos no mundo. Em decorrência da significativa importância, tanto em relação ao uso e toxicidade. (Ministério do Meio Ambiente, 2014)

Na avaliação de segurança de um único agrotóxico usa-se em torno de 10 mil animais ao fim de obter informação como: mutagenicidade, carcinogenicidade, efeitos na reprodução, irritação e corrosão dérmica – ocular, DL50 e toxicidade inalatória.

A pergunta que não quer calar: é necessário mesmo o uso de tantos animais para obtenção de informações para a humanidade? A resposta é clara e objetiva. Não!

No mundo todo, existem agências reguladoras para a substituição de uso de animais na experimentação de produtos. Atualmente, alguns modelos de métodos alternativos ao uso de animais são validados e aprovados por diretrizes como OECD (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) e centros internacionais que coordenam e avaliam métodos com intuito de substituir testes em animais, ECVAM (Centro Europeu de Validação de Métodos Alternativos). E por que o Brasil não usam então esses testes para esses tipos de avaliação? Essa resposta já é um pouco complicada. A ciência coloca os parâmetros que já foram seguidos em outros países. O problema é que a regulação dos agrotóxicos está subordinada a um conjunto de interesses políticos e econômicos.

No dia 2 de Abril de 2014, Brasília-DF, a ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) junto ao RENAMA (Rede Nacional de Métodos Alternativos), CONCEA (Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal), BraCVAM (Centro Brasileiro de Validação de Métodos Alternativos) e SBMALT (Sociedade Brasileira de Métodos Alternativos á Experimentação Animal) realizaram um Workshop Internacional com o objetivo de discutir maneiras de implementar esses métodos as grandes empresas produtoras de agrotóxicos, e também, solicitar um posicionamento da ANVISA frente ao grande e desnecessário uso de animais em testes.

(ANVISA, 2014): A falta de conhecimento e medo pela mudança faz com que nós tenhamos um pé atrás frente aos métodos alternativos.

É mais fácil usar um animal e observar o que acontece com ele, do que padronizar, implementar e aplicar um método in vitro.

A sociedade brasileira precisa ter conhecimento sobre tais interesses políticos e econômicos ao uso indevido de tantos animais para pesquisa. Solução a academia científica tem. Interesses governamentais não.

“a questão não é se os animais raciocinam ou se eles podem falar, mas se eles sofrem“. Marchall Hall

Rafael Ducas é Farmacêutico
Mestrando em Toxicologia Universidade Federal de Goiás
Ênfase em pesquisa de métodos alternativos a uso de animais a experimentação

EcoDebate, 07/04/2014

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