24/10/2014
Estimular atividades de educação em ciências no Brasil é o principal objetivo do Programa ABC na Educação Científica, que completou seu décimo ano em 2014. O evento anual foi realizado entre 9 e 11 de outubro, na Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC) em Ilhéus, na Bahia. Desenvolvido pela Academia Brasileira de Ciências (ABC) e instituições parceiras, este é o mais antigo programa brasileiro, em execução contínua, que tem como foco a promoção e o fortalecimento do ensino de ciências no país.
Ciências em Serrinha
Durante o evento, a coordenadora pedagógica do Centro de Educação Científica de Serrinha, na Bahia, Joseane Souza palestrou sobre o ensino de ciências que acontece desde 2010 na instituição.
O Centro de Educação Científica de Serrinha (CECS) é baseado no conceito do Instituto Internacional de Neurociências de Natal (RN), sendo pioneiro em formação científica no interior da Bahia. O projeto tem apoio do neurocientista e Acadêmico Miguel Nicolelis e visa promover a inclusão social, pela via da fundamentação científica e da ampliação da cidadania. Veja sua apresentação no vídeo intitulado "Flores nos Cactos de Serrinha".
O CECS atua em horários complementares à escola regular, atendendo os alunos s quatro vezes por semana. Um dia é reservado para os professores fazerem avaliação e planejamento. Uma vez por mês, os educadores do CECS recebem os professores da rede pública para orientar o ensino de ciências nas escolas da região.
De acordo com Joseane, o Centro recebe alunos do ensino fundamental II da rede pública, com idades entre 10 a 18 anos. Grande parte desses jovens mora na zona rural, na região do Sisal, e tem pais não alfabetizados. "Nosso projeto não é de iniciação científica, mas sim de educação científica. Os conteúdos não são um fim, mas são um meio para a ampliação da cidadania e do conhecimento em ciência", explicou a professsora.
O projeto de educação científica é baseado em oficinas que envolvem ciência, tecnologia, química, história, robótica, biologia, meio ambiente, arte e comunicação. Os conceitos trabalhados nas oficinas resultam em "engenhocas" produzidas pelos alunos, em projetos individuais e grupais, vinculados à solução de problemas dos seus contextos sociais.
As "engenhocas" e trabalhos realizados durante as oficinas são apresentados para os pais dos alunos e visitantes na Mostra de Trabalho, realizadas no final de cada semestre. Na Mostra, os professores supervisionam os alunos, que apresentam aos visitantes os resultados de suas atividades.
"As Mostras de Trabalho e a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia fazem parte dos nossos rituais. Nelas os alunos assumem papéis diferenciados, que se relacionam à organização e manutenção dos espaços e equipamentos, a recepção dos visitantes, a monitoria das oficinas e laboratórios, e a coordenação de propostas interativas com o público visitante. A proposta do programa de educação científica é que os jovens entendam o ambiente em que vivem e se apropriem dos conhecimentos passados pelo projeto", declarou Souza.
A palestrante seguinte foi a representante do Departamento de Ciências Humanas da Universidade Estadual da Bahia (UNEB), Patricia Maria Mitsuka, que apresentou o trabalho que está desenvolvendo na universidade. O projeto de pesquisa de ecologia aquática, idealizado pelo grupo de pesquisa em ecologia do semiárido, é voltado para ciência, educação e cidadania.
Mitsuka conta que o interesse em desenvolver um trabalho voltado para a educação científica veio de casa."Meu filho de apenas cinco anos começou a me fazer questionamentos que me inspiraram a desenvolver o projeto de educação científica por investigação. Depois de uma enxurrada de perguntas que me deixaram sem resposta, fiquei pensando: 'Como é que eu vou explicar isso? ' O instinto materno falou forte. ", contou Mitsuka.
Associado com a pesquisa de levantamento da riqueza de espécies em reservatórios e demais ambientes localizados na região Sudoeste do Estado da Bahia, o projeto de educação científica tem a proposta de trabalhar educação ambiental com crianças de 3 a 10 anos - fase em que a curiosidade está mais aguçada. "O projeto ainda está em desenvolvimento. Mas o objetivo é, através das pesquisas, instigar a curiosidade e o senso crítico das descobertas nas crianças. Ou seja, ensinar ciência através da investigação", revelou Mitsuka.
Formando professores de física na UFBA
O professor José Fernando Moura Rocha apresentou a proposta do Instituto de Física da Universidade Federal da Bahia (UFBA), voltada para o curso de formação de professores. Ele relatou que o curso noturno de licenciatura em física da UFBA surgiu como resposta ao processo de esvaziamento por que passava o curso diurno de física, em meados da década de 1990.
"Com a diminuição do número de alunos matriculados e pela redução do número de alunos concluintes, resolvemos mudar a grade curricular e oferecer o curso em outro turno. Percebemos que a maior parte dos alunos trabalhava e por isso não se dedicava ao curso", contou Rocha.
A nova matriz curricular trouxe várias inovações importantes, entre as quais a criação de quatro novas disciplinas, denominadas físicas básicas. Essas matérias são oferecidas paralelamente às tradicionais físicas gerais e experimentais. "Essa mudança foi relevante. Provocou questionamentos sobre as opções que oferecíamos aos alunos, de modo a garantir o espaço para discutir os processos de construção do conhecimento científico", comentou Rocha.
Segundo Rocha, o curso noturno de licenciatura da UFBA foi um projeto bem sucedido. Muitas das inovações incluídas na sua estrutura curricular, apesar de polêmicas, mostraram-se plenamente acertadas. O currículo envolve 41% de conteúdos de física, 23% de conteúdo de educação, além de matemática, computação, química, filosofia, estudos de meio ambiente e outros conteúdos de opção dos alunos. "O novo curso revelou-se uma proposta original, aplicável também ao currículo do bacharelado", afirmou.
(Layssa Soares para NABC)
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