domingo, 25 de outubro de 2015

Tecnologia salva ave com dificuldade de se alimentar

Por Da Redação - agenusp@usp.br
Publicado em 24/setembro/2015

Ivete Fortunato, da Assessoria de Imprensa da FMVZ
imprensa.fmvz@usp.br

Pesquisador da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) da USP conseguiu devolver a um tucano-de-bico-verde (Ramphastos dicolurus) a capacidade de se alimentar normalmente, ao fixar no bico do animal uma prótese feita a partir de uma impressora 3D.
Após a fixação da prótese, o tucano passou a se alimentar normalmente

A ave apresentava uma deformidade no bico superior que dificultava a sua alimentação. No final de agosto, em procedimento coordenado pelo doutorando Roberto Fecchio, do Departamento de Cirurgia da FMVZ, a prótese 3D foi fixada com resina no bico afetado do tucano. Poucas horas após o procedimento, o animal já estava se alimentando normalmente. A ave foi apreendida pela Polícia Florestal no início de 2013 e encaminhada ao Centro de Pesquisa, Triagem e Reabilitação de Animais Selvagens (CPTRAS) da FMVZ.

O processo todo envolveu a moldagem do bico com gesso dentário, confecção de réplica em 3D, a partir da qual foi feita a simulação da prótese e em seguida a sua “impressão” 3D. Segundo Fecchio, “o material utilizado foi o ácido polilático (PLA), um polímero derivado do milho”. Com a prótese pronta e o animal preparado, continua ele, “realizei a cirurgia, fixando a prótese com resinas odontológicas especiais e o resultado foi satisfatório”. Fecchio começou a utilizar esta técnica este ano e já comemora seu terceiro caso de sucesso.

Isolamento

Segundo o professor Ricardo José Garcia Pereira, Coordenador do CPTRAS, “O tucano desperdiçava alimento, pois não conseguia manipular direito os diferentes itens de sua dieta e precisava ficar isolado para não ter de concorrer com outras aves em condições normais. A deformidade também era empecilho na sua destinação para outras instituições”, conta. “Com o bico reconstruído a ave ainda está em fase de adaptação, mas já é possível observar melhora em seu comportamento alimentar.”

Outra grande vantagem, segundo Pereira, é que isso melhora suas possibilidades de encaminhamento para zoológicos ou criadores legalizados. Para o docente, “a utilização das impressoras 3D para a confecção de próteses de bico oferece uma grande vantagem em relação ao modo artesanal, pois torna mais acessível a fabricação de moldes particularizados.”
Imagens em 3D do processo de modelagem. A utilização das impressoras 3D para a confecção de próteses de bico oferece vantagem em relação ao modo artesanal

Segundo o professor Marco Antonio Gioso, orientador de Fecchio, a técnica de próteses de bico com o uso de resina é utilizada na FMVZ há 15 anos. Vários tipos vêm sendo utilizados na reconstrução também de carapaças de tartaruga, cascos de cavalo e em todas as partes dos animais que têm queratina. “As próteses são presas na parte avariada com o uso de cola cirúrgica, ou mesmo cola instantânea. Também podem ser presas fisicamente com grampos ou fios de aço”, descreve. O resultado da junção da peça é um desafio, explica ele, “pois depende da adaptação do animal e da resistência da área reconstruída. “A eficácia da utilização de impressora 3D na confecção de moldes ou peças é relativamente nova e os resultados precisam ser estudados”, pondera.

O CPTRAS

O CPTRAS, que foi vinculado à FMVZ em 2013 e está localizado em Cubatão/SP. No momento abriga 35 animais entre araras, tucanos e passarinhos; a maioria provenientes de apreensões. Segundo Pereira, é comum os animais chegarem debilitados ou com algumas lesões. “Os que chegam por apreensão geralmente se encontram malnutridos, estressados, machucados e com plumagem danificada em decorrência da superlotação nos cativeiros clandestinos. Já os animais resgatados chegam com lesões graves como mutilações, fraturas e problemas neurológicos, devido a atropelamentos, ou com queimaduras causadas por acidentes na rede elétrica.

Ao chegar ao CPTRAS os animais são avaliados quanto às suas condições físicas e chances de destinação para programas de reabilitação/reintrodução ou permanência. Também são vermifugados, recebem alimentação, tratamentos (quando necessários) e ficam em locais apropriados para auxiliar na sua recuperação. Os animais recuperados são destinados a instituições públicas, como zoológicos, ou privadas, como mantenedores de fauna licenciados. No caso de animais ameaçados de extinção, exemplares viáveis são encaminhados a projetos de reintrodução na natureza. O coordenador do Centro espera que agora o tucano recuperado seja destinado a algum zoológico ou criador.

Fotos: cedidas pelo pesquisador

Mais informações: rfecchio@usp.br

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