Os americanos, através do radar, entraram em contato com a lua ,
o que não deixa de ser emocionante. Mas o fato mais importante da semana
aconteceu com o meu pé de milho.
Aconteceu que no meu quintal, em um monte de terra trazido pelo jardineiro,
nasceu alguma coisa que podia ser um pé de capim - mas descobri que era um pé
de milho. Transplantei-o para o exíguo canteiro na frente da casa. Secaram as
pequenas folhas, pensei que fosse morrer. Mas ele reagiu. Quando estava do
tamanho de um palmo veio um amigo e declarou desdenhosamente que na verdade
aquilo era capim. Quando estava com dois palmos veio outro amigo e afirmou que
era cana.
Sou um ignorante, um pobre homem da cidade. Mas eu tinha razão. Ele cresceu,
está com dois metros, lança as suas folhas além do muro - e é um esplêndido pé
de milho. Já viu o leitor um pé de milho? Eu nunca tinha visto. Tinha visto
centenas de milharais - mas é diferente. Um pé de milho sozinho, em um
canteiro, espremido, junto do portão, numa esquina de rua - não é um número
numa lavoura, é um ser vivo e independente. Suas raízes roxas se agarram no
chão e suas folhas longas e verdes nunca estão imóveis. Detesto comparações
surrealistas - mas na glória de seu crescimento, tal como o vi em uma noite de
luar, o pé de milho parecia um cavalo empinado, as crinas ao vento - e em outra
madrugada parecia um galo cantando.
Anteontem aconteceu o que era inevitável, mas que nos encantou como se fosse
inesperado: meu pé de milho pendoou. Há muitas flores belas no mundo, e a flor
de milho não será a mais linda. Mas aquele pendão firme, vertical, beijado pelo
vento do mar, veio enriquecer nosso canteirinho vulgar com uma força e uma
alegria que fazem bem. É alguma coisa de vivo que se afirma com ímpeto e
certeza. Meu pé de milho é um belo gesto da terra. E eu não sou mais um
medíocre homem que vive atrás de uma chata máquina de escrever: sou um rico
lavrador.
Um pé de milho (1945)
Acabei de assistir um filme “Com Mérito” e leio uma maravilha dessas, ganhei o dia!
ResponderExcluirOlha, para uma pessoa escrever um poema assim, é porque está em um patamar de conhecimento e respeito, com tudo o que exite em volta dele.
Excelente escolha, professor Furlan!
Lembrei de um poema, em que o próprio milho fala de si mesmo, de Cora Coralina Oração do Milho.
ResponderExcluirhttp://www.youtube.com/watch?v=BDLzRVXhymg