Em artigo publicado na revista Science, professor da UFG afirma que ações antrópicas na Floresta Amazônica são responsáveis pelo aumento na taxa de extinção de espécies
Texto: Anamaria Rodrigues | Foto: Weber Félix | Gráfico: P. Huey/Science
Não é de hoje que o impacto ambiental causado na Floresta Amazônica pelas ações humanas (chamadas de antrópicas) é motivo de preocupação. Perda de hábitat, mudanças climáticas e a presença de espécies invasoras são o resultado do desmatamento na região. Recentemente um novo alerta foi dado: segundo o artigo publicado por pesquisadores britânicos em julho deste ano na revista Science, até 2050 a Floresta Amazônica perderá grande parte de seu habitat.
Os pesquisadores desenvolveram uma forma de prever, em longo prazo, o impacto causado pelo desmatamento sobre as espécies de mamíferos, anfíbios e répteis da região. Segundo a pesquisa, a Amazônia perderá, em média, cerca de nove espécies de vertebrados, estando outras 16 espécies correndo risco de extinção até 2050.
Professor Thiago Rangel foi convidado pela revista Science para comentar a pesquisa inglesa que prevê a longo prazo o impacto causado pelo desmatamento sobre as espécies de animais
Há aproximadamente dois anos como revisor da revista Science, o professor do Departamento de Ecologia do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da UFG, Thiago Rangel, foi também convidado pela primeira vez a escrever um artigo comentando os efeitos das conclusões do estudo publicado na situação atual do Brasil.
Thiago Rangel explica que extinções acontecem "naturalmente", sem intervenção humana. Isto ocorre porque existe a chamada “taxa de extinção de fundo”. Porém, estudos mostram que a ação humana tende a aumentar essa taxa. Em seu artigo o professor considera que certas ações antrópicas na Floresta Amazônica possam ter aumentado em 100% a taxa de extinção de espécies na região. Mas ele deixa claro que a extinção não ocorre de uma hora para a outra. Ela pode ocorrer várias gerações depois de uma primeira intervenção humana. E foi com base nesse aspecto que os pesquisadores britânicos procuraram descobrir quantas espécies estão a caminho da extinção. De acordo com eles, essas espécies já estariam condenadas por intervenções feitas no passado. É o que os pesquisadores denominam de “débito de extinção”.
Para Thiago Rangel, é possível contornar esse “débito de extinção”. A diminuição do desmatamento ajudaria a baixar a taxa dessa “dívida”, mas não seria suficiente para preservar a biodiversidade. A solução definitiva seria a restauração das florestas. E, apesar de apresentarem de início uma variedade menor de espécies nativas, “gradualmente as florestas restauradas ou regeneradas recuperam a riqueza de espécies, composição e funções dos ecossistemas vitais, reduzindo a dívida de extinção e mitigando a perda de espécies locais”, afirma Rangel em seu artigo.
Gráfico mostra relação entre área degradada e extinção de espécies
Preço a pagar – Em busca de desenvolvimento econômico, o governo federal começou a investir em obras de infraestrutura na região, entre as quais está a instalação de 22 grandes hidrelétricas na Bacia Amazônica. Segundo Thiago Rangel, a construção de hidrelétricas afeta inicialmente organismos terrestres, na medida da área desmatada/alagada. Passa a afetar também organismos aquáticos, à medida que gera barreiras para a dispersão de espécies ao longo do rio. “Sem dúvida o impacto é muito significativo, e certamente contribuirá para o desaparecimento de espécies nas regiões onde as hidrelétricas forem construídas”, afirma Rangel.
Mas até que ponto é justificável a população pagar tão caro pelo desenvolvimento econômico? Para Thiago Rangel, se esse investimento em infraestrutura tivesse a capacidade de desenvolver economicamente a região, de forma que esse desenvolvimento resultasse em qualidade de vida para a população, o preço seria aceitável. Porém, ele afirma que não existe uma demanda real de energia elétrica na região amazônica nem hoje e nem para os próximos 20 anos. As hidrelétricas que estão sendo construídas têm como principal objetivo atender poucas indústrias, como mineração e metalurgia, estas com grande potencial destrutivo.
Essas indústrias exploram minérios (como a bauxita, do qual é extraído o alumínio) que demandam uma grande quantidade de energia elétrica para serem produzidos e geram também resíduos tóxicos como resultado da produção. “No final, a energia necessária para produção é mais cara do que o próprio minério bruto e ainda ficamos com o resíduo da produção. Essa exploração mineral mecanizada também gera poucos empregos. Dessa forma, são poucas as pessoas diretamente beneficiadas por essa forma de infraestrutura bancada por recursos federais”, explica Thiago Rangel.
Link:
Nenhum comentário:
Postar um comentário