quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Grupo Tapa aposta no treinamento dos atores e na pesquisa dos melhores textos


GUILHERME CONTE | Edição 204 - Fevereiro de 2013

© MARCELO PIOVAN/GRUPO TAPA
Órfãos (2012), com Renaldo Taunay, Isabela Lemos e Marcelo Pacífico
Um teatro de excelência: grandes textos, nas mãos de atores excepcionalmente treinados, em uma cena construída com atenção ao detalhe. Esta é a maneira de trabalhar do Grupo Tapa – Teatro Amador Produções Artísticas, fundado no Rio de Janeiro em 1979 e paulistano desde 1986.
“O que mais me interessa no teatro, o que o difere de qualquer arte, é a presença viva. São os atores. Algo que acontece na frente do público com a qualidade de uma partida de futebol.” A afirmação de Eduardo Tolentino de Araújo, que dirige o grupo desde sua criação (com uma peça de sua autoria, o infantil Apenas um conto de fadas), revela mais do que poderia se supor inicialmente.
Essa aposta na necessidade do treinamento profundo e constante e na falta de concessões trouxe, antes de tudo, um reconhecimento a toda uma carreira de criação de teatro de alto nível. Os anos 1980 viram marcantes montagens como Viúva, porém honesta (1983), de Nelson Rodrigues, O Tempo e os conways, de

J. B. Priestley (1985), e o início do projeto Festival de Teatro Brasileiro.

© GRUPO TAPA/DIVULGAÇÃO
Eduardo Tolentino fala com equipe: no Tapa desde o início

A pesquisa e divulgação de grandes textos de autores nacionais foi sempre uma missão incorporada pelo grupo, prestando um inestimável serviço ao público com grandes montagens de Nelson Rodrigues, Martins Pena, Jorge Andrade, Machado de Assis, Artur e Aluísio de Azevedo, Plínio Marcos e João Cabral de Melo Neto, entre tantos outros. Espetáculos como Vestido de noiva, de Nelson Rodrigues (1994), eCorpo a corpo, de Oduvaldo Vianna Filho (1995), fazem parte da história das grandes montagens do teatro brasileiro.
Além de manter um regime constante de novos espetáculos e remontagens do repertório, o Tapa tem cursos regulares de teatro, em sua sede na Barra Funda, ministrados por seus integrantes. Para Maria Silvia Betti, professora de pós-graduação em letras da Universidade de São Paulo, levar em conta o aspecto da formação é fundamental para se compreender a importância do grupo. “O Tapa cumpre um papel formador que diz respeito não só ao estudo e à prática do ofício, o fazer teatral, mas também ao desenvolvimento de um pensamento crítico”, afirma. “É algo que as escolas de teatro não têm podido dar mais e que também acabam não se configurando dentro da formação universitária ou escolar comum, por todos os motivos fartamente conhecidos.”
Para ela, o Tapa “tem uma história que diz respeito a tudo o que de mais importante aconteceu pensando o teatro como encenação e dramaturgia desde o final dos anos 1970 até o presente”. Fato ainda mais notável quando se leva em conta que esta longevidade, sem perda de qualidade, se configura sem apoios ou recursos públicos, o que faz do grupo um ponto de referência não só na criação artística, mas também para aqueles que desejam fazer do ofício do teatro sua profissão.
© CLAUDINEI NAKASONE/GRUPO TAPA
De um ou de nenhum (2012), com Daniel Volpi, Natália Moço e Bruno Barchesi
Clara Carvalho, Zécarlos Machado, Denise Weinberg, Brian Penido Ross, Guilherme Sant’Anna, Sandra Corveloni, André Garolli, Fernando Paz, Sérgio Matropasqua, entre tantos outros, formam a lista de atores que fizeram e ainda fazem grandes trabalhos dentro e fora do Tapa, sempre marcado pelo convívio de diferentes gerações. Não é diferente hoje, em que uma nova geração, com jovens como Isabella Lemos, Marcelo Pacífico e Renato Caldas em espetáculos como Órfãos, de Dennis Kelly, e De Um ou de nenhum, de Luigi Pirandello (ambos de 2012 e ainda em cartaz).
Fazer esta arte sem concessões, pautada pela excelência e forjada no encontro com o outro, dentro e fora da cena, situa o Tapa em uma linha de frente de resistência do teatro como fonte de reflexão e pensamento crítico. “Quando eu comecei a assistir a espetáculos, tinha-se muito mais pretensão de domínio do ofício”, afirma Tolentino. “O teatro é a renovação da repetição. Você superar o fastio, o cansaço, e encontrar o novo. É isso que te permite entrar em camadas mais profundas, nas sutilezas.” É o teatro como artesanato.

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