terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Plantas regionais podem assumir papel principal na mesa do amazônida

(Foto: Divulgação/Musa)

18/02/2013 - Em uma era em que a saúde e o bem-estar são postos como prioridade, a boa alimentação é pré-requisito para uma vida saudável. O consumo de frutas, verduras e hortaliças, portanto, é visto como essencial. Apesar do isolamento geográfico encarecer os alimentos que não são nativos da Amazônia, a população ainda desconhece o potencial das plantas alimentícias regionais.

O pesquisador Valderly Kinupp é um dos poucos pesquisadores que estudam as chamadas Plantas Alimentícias Não Convencionais (Panc), termo criado pelo próprio estudioso, que é vinculado ao Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas (Ifam). A categoria, que inclue hortaliças e frutas, é comum na região amazônica.

De acordo com estudos, ainda em desenvolvimento feitos por Kinupp, a Amazônia possui cerca de 2 mil espécies cujas flores, frutos, folhas e raízes são subutilizados na alimentação. O levantamento ainda não foi fechado por conta da megabiodiversidade da região.

As Panc tem potencial alimentar, mas são negligenciadas, segundo Kinupp. “Não se faz pesquisa sobre elas e raríssimas vezes chegam aos comércios. Em Manaus, só 32 frutíferas são encontradas nas feiras, além de castanhas”, explicou o pesquisador. “Infelizmente, a população desconhece essas espécies. As hortaliças são chamadas simplesmente de ‘mato’ e as frutas não são consumidas”, completou.

Por conta da “globalização alimentar”, ressalta o especialista, se dá preferência a alface, couve, rúcula em vez de hortaliças amazônicas como bertálhas, espinafre-da-amazônia e urtigas. "As pessoas nunca ouviram falar em certas frutas regionais, como pajurá, apuruí, sapota e sorva, que são frutas saborosas mas não são consumidas. Quem não vai à feira ou não é curioso, não prova", disse Kinupp. Além do desconhecimento das espécies, outro agravante é o preço, que é alto, já que os produtos são resultado de extrativismo ou de pequenos agricultores.

Segundo o pesquisador, no Brasil, ao longo da colonização, as espécies nativas foram trocadas por espécies estrangeiras. "Nossa alimentação não é autóctone (nativo). A agrobiodiversidade é toda estrangeira, como o milho vindo do México, a batata dos Andes e o arroz da Ásia", exemplificou.

Políticas Públicas

Para divulgar as Plantas Alimentícias Não Convencionais, Kinupp faz distribuição informal de sementes e mudas para feirantes. Na Feira do Coroado, alguns agricultores já aderiram a espécies como o Cubio, que pode ser utilizado para fazer geleias; e o feijão-de-asa, um substituto da ervilha e da vagem.

O pesquisador acredita que faltam políticas públicas para divulgar e levantar interesse nas Panc. “É preciso estimular agricultores e extrativistas a trabalharem com as Plantas Alimentícias da região”, sugeriu. Cultivar Panc representa vantagens para os agricultores. Por serem espécies que produzem suas sementes, os produtores ficariam independendes da indústria de sementes.

O estudioso explicou ainda que as espécies cultivadas pelos agricultores não são adaptadas ao solo de baixa fertilidade, e clima da região amazônica. Plantar na região é possível somente com muito adubo. Por conta disso, as plantas ficam suscetíveis a doenças e ataque de bactérias, fungos e insetos. "O combate, feito com agrotóxicos, prejudica a saúde de quem consome", alertou Kinupp.

Para a população ter acesso as Plantas Alimentícias, Kinupp destacou que o primeiro passo é estimular o mercado. “Os agricultores podem cobrar dos órgãos de extensão agrícola, como a Secretaria de Produção Rural do Amazonas (Sepror), que incentivem as Panc com mudas e sementes. Já os consumidores, devem frequentar as feiras, buscar as espécies nativas e experimentar”, disse.

Gastronomia

As Plantas Alimentícias Não Convencionais chamam a atenção na alta gastronomia, que busca exotismo nas receitas. Porém, o segmento também esbarra na falta das espécies no mercado. "Acredito que é um nicho a ser explorado, já que muitos turistas chegam à Amazônia com o propósito de experimentar alimentos da região", finalizou o pesquisador.

Data: 18.02.2013
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