quinta-feira, 14 de novembro de 2013

A Importância da Ciência em Prol da Inclusão Social

Diversas discussões relacionadas a conflitos raciais e políticas afirmativas (ex., cotas raciais e médicos negros cubanos) evidencia que essa é uma questão prioritária. 


As políticas afirmativas, que favorecem a população negra e outros grupos marginalizados, foram amplamente discutidas e sua legitimidade foi unanimemente reconhecida pelo Supremo Tribunal Federal.

Os argumentos aqui apresentados estão longe de trazer à pauta a questão das cotas na universidade. Todavia, reconhecemos o valor dessa discussão que, dentre outros, possibilita expor sentimentos, frustrações, mitos, desejos e o necessário reconhecimento das desigualdades sociais.

Desejamos uma universidade que desenvolva competências e que se destaque internacionalmente, mas também, que reflita as demandas sociais, expressas por meio da constituição, nos objetivos fundamentais da nossa república: erradicação da pobreza e da marginalização. Além disso, o Brasil assumiu internacionalmente o compromisso com a prevalência dos direitos humanos, a autodeterminação dos povos e o repúdio ao terrorismo e ao racismo. 

Assim, a ciência também deve ser claramente permeável a essas questões e agregar diferentes grupos sociais e étnicos. Garantindo que todos os brasileiros tenham o direito de usufruir dos seus resultados e exercer essa profissão.

Infelizmente, a falsa ideia de “raças inferiores”, presente no imaginário popular, tem causado diversos prejuízos, como o processo de invisibilidade e a dificuldade de ascensão social de pessoas de cor negra e outros grupos segregados historicamente. 

Os cientistas e professores precisam olhar para dentro dos seus laboratórios e salas de aula e observar qual é a proporção de alunos negros, pardos, indígenas ou pertencentes a famílias de baixa renda nos centros de pesquisa. 

É também importante olhar para os funcionários da limpeza, lanchonetes e guaritas das universidades e refletir sobre as dificuldades que essas pessoas ou seus filhos enfrentam para chegar a uma pós-graduação, e como será possível romper esse ciclo de exclusão. 

Os cientistas são agentes públicos e possuem lugar de destaque na sociedade. Desta forma, são importantes na promoção do bem-estar social e no combate às injustiças. Não devemos duvidar do alcance e do impacto da ciência sobre a opinião pública, ao demonstrar explicitamente repulsa por qualquer forma de preconceito e exclusão. 

Precisamos ser incansáveis em promover a fraternidade entre os diferentes nos espaços institucionais. A ciência deve ativamente mostrar-se aberta e atenta aos grupos mais vulneráveis, gerando oportunidades de participação e experiências de diálogo franco. 

A universidade pública é um espaço privilegiado na formação de mentes e líderes, portanto, é necessário reconhecer não apenas o mérito científico, mas também sua função social. De fato, segundo as palavras do jurista Oscar Vilhena Vieira:

“Uma Universidade que não integra todos os grupos sociais dificilmente produzirá conhecimento que atenda aos excluídos, reforçando apenas a hierarquias e desigualdades que tem marcado nossa sociedade desde o início de nossa história”.

Texto de Julino A.R. Soares e E. A. Carlini
UNIFESP, Depto. de Medicina Preventiva, Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário