Estudo do Inpa com a planta pimenta-de-macaco pode render produtos em breve; conheça
MANAUS - Apesar dos esforços no combate e eliminação de doenças transmitidas por mosquitos, como dengue (Aedes aegypti) e malária (Anopheles darlingi), a comunidade científica mundial procura uma solução. Diversas alternativas são estudadas com esse propósito, uma delas há mais de 10 anos. Uma pesquisa com óleos essenciais da planta amazônica conhecida como pimenta-de-macaco (Piper aduncum) gerou formulações que agem como repelente e inseticida naturais no combate aos mosquitos transmissores de dengue e malária.
A pesquisadora Ana Cristina da Silva Pinto, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), trabalha no projeto desde 2002, quando cursou mestrado em química na Universidade Federal do Amazonas (Ufam). “Durante todo esse período de mestrado, doutorado e alguns anos da bolsa depois desenvolvi, pesquisei e preparei novos componentes com ação repelente e inseticida contra mosquitos adultos e larvas, para o desenvolvimento de formulações repelentes e inseticidas, já utilizando os derivados sintéticos obtidos a partir de uma substância natural isolada da pimenta-de-macaco”, explicou Ana.
O trabalho desenvolvido gerou formulações a base de uma substância chamada E-isodilapiol, que se destacou entre aproximadamente 15 substâncias pesquisadas, e do óleo essencial da pimenta-de-macaco, cultivada e coletada na Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária na Amazônia Ocidental (Embrapa), no Amazonas, pelo pesquisador Francisco Célio Maia Chaves. “Uma coisa é quando a substância está isolada, outra é quando está agindo com vários componentes. Então a ideia era verificar se na formulação junto com o óleo ela tem também esse feito de mortalidade nos mosquitos adultos”.
O resultado foi positivo. No total, Ana obteve seis formulações, ou produtos. “Quatro são para passar na pele, em formato de gel e emulsão. E dois são inseticidas de ambiente, na forma de spray”, conta a pesquisadora.
Patentes
De acordo com Ana, que é doutora em biotecnologia, as dosagens do derivado E-isodilapiol e do óleo para foram adicionados conforme padrões estabelecidos pela Organização Mundial de Saúde (OMS) para produtos inseticidas. A pesquisa com as fórmulas de inseticida e repelente já rendeu duas patentes à pesquisadora, mas a primeira surgiu de estudos com outra planta: a caapeba (Piper peltatum), onde uma substância isolada das raízes dessa planta teve atividade favorável contra o protozoário (Plasmodium falciparum) que provoca a malária. “A caapeba é uma erva daninha que não tem ação nenhuma de repelente. Mas das raízes, oito novas substâncias foram desenvolvidas a partir do produto natural e dessas uma se destacou no combate ao Plasmodium falciparum”.
Já a segunda patente, com a pimenta-de-macaco, foi solicitada em 2010 e aprovada em 2013. O documento oficial de aprovação será liberado em 2014.
Em setembro, a pesquisa ganhou a primeira edição do prêmio Ingredientes Vegetais Amazônicos, do programa Natura Campus, no valor de R$ 30 mil. Trinta ingredientes de pesquisadores de instituições públicas e privadas da Amazônia Legal estavam na disputa.
Mercado
Ana explica que no Inpa técnicos mantém um insetário, uma criação de insetos usada para avaliar o progresso das pesquisas e possíveis benefícios para a população. “A partir de janeiro [de 2014] faremos testes de tempo de repelência. O produto será aplicado na mão que será colocada na gaiola para avaliarmos o tempo que funciona com propriedade”. Apesar do processo estar em fase avançada, ela disse que ainda são necessários diversos outros testes e avaliações para que o produto chegue de fato ao consumidor. “Esse mesmo estudo que estou fazendo no Inpa é necessário ser refeito em laboratório credenciado pela Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária] para que uma empresa possa vender o produto futuramente”.
As próximas etapas para colocar o produto no mercado são verificar o tempo total de repelência efetiva, percentual de mortalidade dos mosquitos e a durabilidade do produto, a 'validade na prateleira'.
Vale lembrar que apesar dos esforços dos pesquisadores no combate às doenças, a população também pode contribuir com medidas de preveção ainda mais simples e conhecidas: tampar caixas d’água, verificar acúmulo de água em calhas e vasos, evitar formação de poças de água, usar repelentes, mosquiteiros e não se expor aos mosquitos em margens de rios e igarapés, onde se reproduzem com facilidade.
Veja dicas para eliminar locais de reprodução de mosquitos transmissores da dengue:
- Tampar depósitos de água: vedação de tampas em recipientes, como caixas d'água, tanques, tinas, poços e fossas impedem que mosquitos depositem seus ovos;
- Remover o lixo: acúmulo de lixo e detritos em volta das casas pode servir como excelente meio de coleta de água de chuva e criação de mosquitos;
- Controle químico: existem larvicidas seguros e fáceis de usar, que podem ser colocados nos recipientes de água para matar as larvas em desenvolvimento. Este método para controle doméstico da dengue em cidades grandes tem sido usado com sucesso por várias secretarias municipais de saúde e é realizado pelos agentes de controle da dengue.
- Limpar recipientes de água: não basta apenas trocar a água do vaso de planta ou usar um produto para esterilizar a água, como água sanitária. É preciso lavar as laterais e as bordas do recipiente com bucha, pois nesses locais os ovos eclodem e se transformam em larvas.
Data: 02.01.2014
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