Créditos de carbono, parceria com o Google, fotos e vídeos online e delimitação de terras por GPS para identificar desmatamentos ilegais. Ao ler estes assuntos, logo pensamos em empresas de tecnologia ligadas ao meio ambiente. Na verdade, todas essas ideias vieram do índio Almir Narayamoga Surui, líder da tribo Paiter-Surui.
Os Paiter-Surui vivem na reserva indígena Sete de Setembro, localizada em uma região de fronteira, ao norte do município de Cacoal (RO) até o município de Aripuanã (MT), região norte do Brasil. A tribo, que tinha cerca de 5 mil integrantes na década de 70, quando teve seu primeiro contato com o mundo externo, foi quase dizimada ao longo dos anos, sobrando pouco mais de 200 membros nos dias atuais.
“Meu povo tem 44 anos de contato com sociedade não indígena. Isso trouxe problemas de redução da população. Além disso, sofremos com a invasão de colonos e madeireiros. Fui atrás de uma solução”, afirma Surui.
Almir Surui, considerado um dos 100 líderes mais criativos no mundo dos negócios em 2011 pela revista americana Fast Company, transformou esse contato com o mundo externo em solução para manter viva a identidade do seu povo. Em 2007, fechou uma parceria com o Google e levou tecnologia à tribo.
O primeiro contato com a empresa contou com a ajuda da ONG Equipe de Conservação da Amazônia (Ecam). Intermediado pela Ecam, Surui foi à sede do Google, nos Estados Unidos, com o intuito de mostrar ao mundo sua luta pela conservação da floresta e da sua cultura. A empresa acatou a ideia. Membros da aldeia foram treinados para utilizar a internet como ferramenta de diversas denúncias. Os índios passaram a valorizar a história dos anciãos e resguardar, em vídeos e fotos on-line, as suas tradições.
Com a exposição, começaram as parcerias com outras entidades. Os Paiter-Surui construíram o plano “50 anos”, que orienta a vida da comunidade e o uso sustentável dos recursos naturais da reserva. Os jovens aprenderam legislação ambiental, uso de GPS e de câmeras fotográficas, cartografia e técnicas de abordagem, preservando seus costumes e suas áreas para as próximas gerações. A tribo também foi pioneira na venda de créditos de carbono – Redução de Emissões por Desmatamento (REDD) -, com uso do mecanismo de recompensa financeira pelo não desflorestamento. Os recursos levantados, por volta de 1,2 milhão de reais, servem para manter o plano ativo.
Índio Almir Surui, líder da tribo Paiter-Surui, em visita à sede da ONU. (Fotos: paiter.org / transforme.is)
Apoio e ameaças
Surui afirma viver pressionado por fazendeiros que visam as terras da reserva. “Fui avisado de que tinham contratado um pistoleiro para me matar”, alega. Desde maio de 2012, o líder indígena vive sob escolta da Força Nacional na região de Cacoal, com apoio da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República. “Eu fiz uma denuncia na OEA – Organização Estados Americanos, solicitando apoio e intervenção, buscando uma forma de proteger a vida da minha família e do povo Paiter-Surui”.
Surui ressalta o apoio de várias lideranças, entre elas a ex-senadora e Porta-Voz da Rede Sustentabilidade, Marina Silva, e do presidente do Grupo de Trabalhos da Amazônia (GTA), Rubens Gomes. “Nos últimos anos tenho recebido apoio do GTA, na pessoa de Rubens Gomes, e da Marina Silva. Ela solicitou minha proteção às autoridades estaduais, nacionais e internacionais”, explica.
Em 2013, alinhado com os ideais da #Rede, o líder dos Paiter-Surui entrou para o partido. “Entrei pra Rede Sustentabilidade pelo convite da Marina Silva. Aceitei porque vi na proposta da #Rede uma grande oportunidade de mudança, um novo instrumento político na forma de fazer o Brasil”, diz Surui.
A luta persiste. Almir Surui afirma que ainda existe um longo caminho a percorrer. “Desistir nunca, persistir sempre. Eu sou líder do Povo Paiter-Surui, tenho que lutar pelos direitos e uso sustentável da nossa floresta. Não estou fazendo mal a ninguém, só quero contribuir para o nosso futuro”, finaliza.
Fonte: Rede Sustentabilidade
Data: 26.12.2013
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