Júlio Bernardes - jubern@usp.br
Publicado em 2/janeiro/2014
Pesquisa da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP analisou a relação entre o ambiente alimentar e das práticas alimentares com o consumo de frutas e hortaliças em gestantes. No total, 282 gestantes atendidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) de Ribeirão Preto (interior de São Paulo) foram avaliadas pela nutricionista Daniela Zuccolotto. A média de consumo de frutas e hortaliças foi de 207 gramas (g) por dia, abaixo da recomendação da Organização Mundial de Saúde (OMS) para a população em geral, que é de 400 g.
Média diária de consumo de frutas e hortaliças entre gestantes é de 207 gramas
“Em relação ao ambiente alimentar, a pesquisa verificou se a percepção da gestante em relação à distância de sua residência até o mercadinho, supermercado, varejão ou feira livre, lanchonete, padaria loja de conveniência e restaurantes mais próximos de sua casa apresentava relação com maior consumo de frutas e hortaliças”, diz Daniela. “Além disso, questionamos sobre a percepção em relação a qualidade e variedade de frutas e hortaliças no local onde ela adquiria esses alimentos (boa ou ruim), se apresentava relação com maior consumo desses alimentos”. Foi questionado também se a gestante possuía horta em casa para ver se as que possuíam apresentavam maior consumo de frutas e hortaliças. Nenhuma dessas questões apresentou associação com maior consumo de frutas e hortaliças entre as gestantes estudadas.
No que diz respeito às práticas alimentares, foi questionado o número de refeições que a gestante fazia por dia, se ela fazia refeições no trabalho, na casa de amigos ou parentes, restaurantes do tipo self service e lanchonetes, o meio de transporte utilizado para ir fazer compras, se ela tinha o hábito de comprar alimentos em supermercados, mercearias, varejão ou feira livre, lanchonetes, padarias, lojas de conveniência ou vendedores ambulantes. “Elas também foram perguntadas se costumavam comprar frutas e hortaliças para consumir em casa e com qual freqüência, se frutas e hortaliças fossem mais baratos se ela consumiria mais, se ela considerava que consumia quantidade suficiente desses alimentos e se ela costumava ganhar frutas e hortaliças de vizinhos ou parentes”.
As gestantes que reportaram fazer quatro ou mais refeições ao dia apresentaram maior chance de consumir uma maior quantidade de frutas e hortaliças quando comparadas àquelas que relataram menos refeições ao dia, independente de idade, escolaridade e classe econômica. “As gestantes que consideraram que consumiam frutas e hortaliças suficientes também apresentaram maior chance de consumir uma maior quantidade de frutas e hortaliças quando comparadas àquelas que não consideravam, independente de idade, escolaridade e classe econômica”, aponta a nutricionista.
Abaixo do recomendado
A OMS recomenda o consumo de 400 g por dia ou mais de frutas e hortaliças para a população em geral. Não há uma recomendação específica para gestantes. “No presente estudo, a estimativa média de consumo de frutas e hortaliças foi de 207 g entre as gestantes avaliadas”, aponta Daniela. “Apenas 10% delas consumiam a quantidade recomendada pela OMS. A mediana de consumo, que foi utilizada como o desfecho de interesse, foi de 158 g”.
Embora a pesquisa tenha avaliado o consumo de frutas, verduras e legumes, de modo geral, pode-se observar um consumo elevado de alimentos fritos, salgadinhos tipo chips, refrigerantes e bolachas entre as gestantes avaliadas. “O consumo elevado de alimentos gordurosos é muito preocupante, uma vez que podem levar a um ganho de peso excessivo durante a gestação causando sérias complicações tanto para mãe quanto para o bebê”, ressalta a nutricionista.
De acordo com Daniela, os estudos mostram que a gestação é um período permeado por muitas crenças, prescrições e proibições. “Na maioria das sociedades, as mulheres quando engravidam alteram a sua dieta, pois acreditam que as prescrições e proibições durante esse período visam proteger mãe e filho, e, se caso não forem seguidas, podem apresentar sérias conseqüências para o bebê”, conta. “Essas modificações na dieta são baseadas em saberes diversos, provenientes da cultura familiar, da cultura de gênero e da cultura biomédica. Assim, os cuidados que a gestante realiza, os quais, na maioria das vezes, são provenientes de orientações biomédicas, direcionam-se para o bem-estar fetal”.
A nutricionista também observa que em todas as sociedades, os aspectos culturais são sempre valorizados. “Geralmente ouve-se, por exemplo, desde o início do período gravídico, que a mulher precisa ‘comer por dois’ ou então que o companheiro precisa atender os desejos alimentares da gestante para que o bebê não apresente marcas ao nascer e até mesmo deformidades corporais”, afirma. “As crenças alimentares durante a gestação têm como objetivo principal proteger a saúde da mulher e do bebê. Além do que, a mulher passa para um espaço provisório que a encaminha para um novo status social, o de mãe”.
Daniela afirma que uma alimentação adequada durante a gestação é fundamental para que a gestante consiga suprir as suas necessidades de energia e nutrientes, que estão aumentadas, e para que ela tenha um ganho de peso adequado neste período, evitando complicações futuras. “É importante que a gestante esteja consciente disto e que o profissional de saúde saiba orientá-la e motivá-la a ter hábitos alimentares saudáveis nesse período”, conclui. A pesquisa foi orientada pela professora Daniela Saes Sartorelli, da FMRP.
Foto: Marcos Santos / USP Imagens
Mais informações: email danyzc@hotmail.com, com Daniela Zuccolotto
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