18.04.2013
Hymenaea courbaril var. stilbocarpa (Jatobá)
Ticiane Rossi (trossi@esalq.usp.br)
Engenheira Florestal, Mestranda em Recursos Florestais na Esalq/USP
Taxonomia
Divisão: Magnoliophyta (Angiospermae)
Classe: Magnoliopsida (Dicotiledonae)
Ordem: Fabales
Família: Caesalpiniaceae (Caesalpinioideae, Leguminosae)
Espécie: Hymenaea courbaril Linnaeus var. stilbocarpa (Hayne) Y. T. Lee & Langenheim, J. Arnold. Arbor. 55(3): 448, 1974.
Sinonímia botânica: Hymenaea confertifolia Hayne; Hymenaea stilbocarpaHayne
Nomes comuns: jatobá, jutaí, jutaí-açu, jutaí-bravo, jutaí-grande, jataí, jataí-açu, jataí-grande, jataí-peba, cuapinol, guapinol, locust, kawanari, rode, lokus, algarrobo, jatahy.
Descrição
Fonte: http://www.apropani.org.br
O jatobá pode alcançar 40 m de altura e 2 m de diâmetro com fuste cilíndrico, normalmente reto. A copa é ampla e a casca apresenta 10 mm de espessura, é cinza clara, praticamente lisa, exceto na base onde é mais grossa e gretada.
As folhas são compostas, coriáceas, apresentando 2 folíolos, oblongo-lanceolados e oblíquos, por folha, de bases desiguais, com 6 a 14 cm de comprimento e 3 a 5 cm de largura.
As flores têm 8 cm de largura, são brancas, dispostas em corimbos terminais.
Os frutos são indeiscentes, oblongos, duros, pardo-escuros, medindo em geral de 8 a 15 cm de comprimento por 3 a 5 cm de largura, apresentando endocarpo carnoso, farináceo, comestível, amarelo-claro e adocicado, contendo 3 a 6 sementes sem endosperma.
A semente é grande, globosa a oval, de coloração parda-escura.
Aspectos reprodutivos e Fenologia
Hymenaea courbaril var. stilbocarpa é uma planta hermafrodita e alógama, cuja polinização é realizada pelos morcegos e dispersão por mamíferos. Os polinizadores, os morcegos e beija-flores, promovem a dispersão do pólen em distâncias de até 7 km. A dispersão dos frutos é realizada por mamíferos, tais como a anta, veado, queixada e macaco-prego.
O jatobá floresce durante a estação seca, entre março e maio, e frutifica depois de 3 a 4 meses, entre agosto a outubro.
Aspectos ecológicos
O jatobá pertence ao grupo sucessional secundária tardia a clímax exigente à luz, sendo característico de interior de floresta primária. É característico de Floresta Estacional Semidecidual e Decidual, Floresta Ombrófila Densa (Floresta Atlântica) e nos encraves vegetacionais nas serras da região Nordeste.
É uma espécie rara (menos de 1 árvore por ha) com distribuição irregular. A abundância de jatobá está diminuindo por causa da extração de madeira.
Área de ocorrência
A espécie Hymenaea courbaril var. stilbocarpa ocorre naturalmente na Argentina, Bolívia, Paraguai e Brasil, nas regiões Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste e no estado do Paraná. Ocorre em quase todas as regiões de matas pluviais a matas secas.
Clima e Solos
Naturalmente, o jatobá ocorre em área com estação seca inexistente até 6 meses e temperatura média entre 20 e 30ºC.Os solos são profundos, arenosos, bem drenados, podendo ser encontrado também em solos argilosos, com pH de ácido a neutro. Não se desenvolve bem em solos inundáveis.
Produtos e Utilizações
Madeira
No mercado, o jatobá é comercializado junto a outras espécies do mesmo gênero Hymenaea que são conhecidas pelos mesmos nomes vulgares, apresentam características morfológicas muito semelhantes e são utilizadas comercialmente sem distinção.
A madeira de Hymenaea courbaril var. stilbocarpa é de excelente qualidade, muito pesada (0,7 a 0,89 g/cm³) e muito dura ao corte. A coloração do cerne é variável, de castanho-rosa-claro a castanho-avermelhado e alburno diferenciado, branco amarelado. Apresenta textura média uniforme, grã regular a irregular, superfície pouco lustrosa e ligeiramente áspera, com cheiro e gosto característicos. A secagem ao ar apresenta poucas deformações, no entanto, se a secagem no secador é demasiadamente rápida, ocorre a formação de rachaduras e empenamentos.
É de difícil trababilhidade, agüenta bem pregos e parafusos, pode ser colada e seu acabamento é satisfatório. É naturalmente muito resistente a podridão de fungos e cupins. O cerne não é tratável a soluções de preservantes, pois é pouco permeável.
A madeira, por ser muito pesada e de propriedades mecânicas altas, pode ser usada para acabamentos internos, como vigas, caibros, ripas, tacos e assoalhos, cabos de ferramentas, construções externas, como dormentes e cruzetas, esquadrias, folhas faqueadas decorativas e movelaria em geral.
Outros Usos
A madeira do jatobá é principal produto, no entanto é necessário avaliar que essa árvore apresenta a possibilidade de gerar diversos outros usos, que valorizam e agregam valor à árvore viva. Abaixo estão descritas as partes, os produtos e benefícios obtidos de acordo com a literatura consultada.
Casca: é usada em medicina popular para fazer chá contra gripe, bronquite, cistite, catarro no peito, diarreia, vermes, fraqueza, cólicas, infecções na bexiga, para ajudar na digestão e no tratamento de câncer de próstata.
Resina: normalmente é encontrada no pé da árvore, proveniente dos ataques de insetos no tronco. A resina pode ser mastigada para aliviar as dores no estômago e flatulência, queimada para fazer inalação no caso de resfriados e dores de cabeça e ainda, pode ser utilizada como verniz vegetal. Não obstante, estudos avaliaram a presença de diterpenos, que comprovaram atividade antimicrobiana contra Gram positivas.
Sementes: produz uma goma solúvel em água, menos viscosa do que a goma de Cyamopsis tetragonolobus (goma guar). O polissacarídeo presente na goma das sementes contém galactose, glicose, xilose e arabinose, sendo inclusive foco de uma patente disponível no site:http://www.freepatentsonline.com/5488105.html. O potencial dos polissacarídeos das sementes de jatobá foi avaliado como estabilizante na fabricação de sorvetes, juntamente com a goma de Acacia glomerosa e Enterolobium cyclocarpum, obtendo bons resultados.
Folha: o extrato hidrocetônico de folhas de jatobá mostrou ser rico em flavonoides e foram detectadas atividades antifúngica e anticolinesterásico.
Fruto: a parte farinácea do fruto é utilizada na alimentação humana e animal. Foi avaliada a fabricação de biscoitos com essa farinha utilizando trigo e açúcar mascavo, obtendo-se maior aceitação pelos consumidores entre os produtos testados.
Árvore inteira: Sugerida no paisagismo e no reflorestamento para recuperação ambiental, por ser um atrativo para a fauna silvestre e ser uma espécie potencial para fitorremediação em solos contaminados por metais pesados.
Sementes e Produção de mudas
Fonte: LORENZI, 2000
A colheita dos frutos pode ser realizada diretamente da árvore, ou quando os frutos maduros iniciarem queda expontânea, durante o mês de setembro. Em seguida, as sementes devem ser extraídas do fruto, de forma manual, e separada da polpa farinácea, através de lavagem em água corrente.
O número de sementes por quilo é de 250 e as sementes apresentam dormência do tegumento, sendo que os tratamentos de superação de dormência podem ser: escarificação com ácido sulfúrico concentrado por 25 min; escarificação com hidróxido de sódio (concentração de 23,5 Molar) por 20 min; imersão em água por 24 h e escarificação mecânica com lixa. A taxa de germinação para estes tratamentos varia entre 90 a 100 %, iniciando aos 15 até os 21 dias depois da germinação.
A viabilidade de armazenamento das sementes de jatobé é curta, não ultrapassando 4 meses. No entanto, após 6 meses de armazenamento em câmara fria, a taxa de germinação (com escarificação mecânica) varia entre 21% e 68%, com emergência assincrônica.
Para a produção de mudas de jatobá, poderá ser recomendada uma mistura de substratos contendo solo, areia e esterco em sacos de polietileno 15x20 cm e a pleno sol. A semeadura é realizada diretamente no saco plástico ou semeadura direta no campo.
As mudas apresentam porte adequado para plantio cerca de 3 meses após a semeadura. Recomenda-se que, antes do plantio, as mudas passem no viveiro por um período de déficit hídrico até o aparecimento de murcha foliar.
Foto: Fernando Talagiba
Silvicultura
O crescimento do jatobá, em plantios homogêneos, pode ser considerado como lento a moderado, considerado semi-heliófila, tolerando sombra apenas na fase juvenil. Apresenta ramificação simpodial, com tronco curto, sem definição de dominância apical, com a formação de várias bifurcações e, por sua desrama natural ser deficiente e necessita podas periódicas para apresentar fuste definido.
Fonte: TONINI e ARCO-VERDE, 2004.
Um espaçamento inicial sugerido é de 3 x 3 m, com um desbaste realizado aos 12 ou aos 14 anos, deixando-se 77 árvores/ha no corte final (a adoção de espaçamentos amplos não tem criado maiores problemas devido a não haver formação de galhos epicórnicos).
O incremento do jatobá é de até 10 m3/ha/ano, sendo a rotação é estimada para gerar produtos serrados e laminados, entre 30 e 60 anos. O comportamento silvicultural desta espécie tem sido melhor em plantio misto do que em plantio puro.
Conservação genética
O jatobá corre risco de extinção e consta na lista de espécies prioritárias pelo instituto florestal de São Paulo, para conservação genética “ex situ”.
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