Sucena Shkrada Resk/ICV
A tecnologia social do “círculo das bananeiras” se transformou em uma experiência prática para cerca de 20 agricultores familiares da comunidade Santa Clara, do Projeto do Assentamento (PA) Nova Cotriguaçu, no município de Cotriguaçu, região noroeste de Mato Grosso, Amazônia, no dia 10 de março. O grupo teve acesso pela primeira vez ao aprendizado com base em princípios agroecológicos e de saneamento ambiental, durante oficina realizada pelo Instituto Centro de Vida (ICV). O exercício contou com a divisão de tarefas entre os participantes e com uma boa dose de força nos braços. Determinado, o grupo conseguiu concluir o trabalho em aproximadamente cinco horas, e agora segue a uma próxima de etapa, que é de manutenção.
A iniciativa é de fácil implementação e exige poucos instrumentos, como enxadas e pás. Para a formação do círculo, foi aberto na terra um buraco com um metro e meio de diâmetro e um metro de profundidade, onde foram colocadas matérias orgânicas, como pedaços pequenos de madeira reaproveitada (com no máximo 40 centímetros de comprimento) galhos, folhas secas e palha onde cairão as águas cinzas provenientes da pia da cozinha comunitária, que chegam lá, por meio de um cano.
Com esse reaproveitamento, serão irrigadas quatro bananeiras, cujas mudas foram plantadas no entorno deste buraco, que servirão como filtro, neste processo. Para completar, os agricultores familiares fizeram um murundu (barreira feita com terra), apropriado para evitar transbordo de água no círculo, nas épocas de chuva. Em volta desta área, também plantaram outras espécies, entre elas, de batata doce, inhame e taioba.
“Neste processo de decomposição, as matérias orgânicas vão disponibilizar nutrientes captados pelas raízes das bananeiras. Elas são postas de forma desorganizada nos buracos para que os espaços entre elas sejam preenchidos pela água”, explica o educador de práticas sustentáveis do ICV, João Gilberto Peixoto Milanez, que ministrou a oficina.
O agricultor familiar Admilson Conte Nascimento, 42 anos, afirmou que um ponto que chamou sua atenção é que o toco da bananeira plantada deve ser colocada sem raiz, que crescerá posteriormente. “Quero fazer um círculo de bananeira também no meu sítio”, disse.
Mais um aspecto positivo desta tecnologia social, segundo Suzanne Scaglia, educadora de práticas sustentáveis do ICV, é que por meio da chamada “evapotranspiração”, uma bananeira adulta é capaz de levar para a atmosfera diariamente até 200 litros de água.
A oficina integra as atividades do Projeto Noroeste: território sustentável, desenvolvido pelo ICV e parceiros, com apoio do Fundo Vale. O principal objetivo do projeto é fortalecer e consolidar o noroeste de Mato Grosso como um território florestal, por meio do incentivo e da disseminação de soluções produtivas sustentáveis e com boa governança social e ambiental.
Publicado no Portal EcoDebate, 30/03/2015
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