Publicado em 2/abril/2015
Pesquisa com a participação do Instituto de Biociências (IB) da USP com 250 criadores de abelhas sem ferrão aponta as práticas de manejo mais adequadas para ampliar produtividade e os rendimentos da produção de mel e de colônias. Com base nas entrevistas com os produtores, o trabalho indica os procedimentos mais eficientes, como a multiplicação de colônias, a coleta não invasiva e a pasteurização do mel. A ideia dos pesquisadores é difundir as informações obtidas no estudo por meio de atividades de extensão e cursos técnicos de criação de abelhas. O estudo é descrito em artigo publicado na revista PlOs One.
Pesquisa com a participação do IB envolveu 250 criadores de abelhas sem ferrão
O pós-doutorando Rodolfo Jaffé, do Laboratório de Abelhas do Departamento de Ecologia do IB, que integrou o trabalho de pesquisa, afirma que a criação de abelhas nativas sem ferrão é uma prática comum em todo o Brasil e em países tropicais. “No entanto, a maioria dos criadores ainda utiliza práticas rudimentares de manejo”. Os pesquisadores envolvidos no trabalho distribuíram um questionário entre 250 criadores em 20 Estados brasileiros. “A variedade de espécies criadas é grande, são utilizados diversos tipos de caixa para acomodar as colônias, alguns criadores fazem controle de pragas e há desde criações comerciais até pessoas que criam abelhas por hobby”.
O estudo relacionou as práticas de manejo com a produtividade, para identificar os procedimentos que mais ampliam os rendimentos da criação. “Uma prática importante é a inspeção regular das colônias e a alimentação das abelhas. Na estação seca, por exemplo, os produtores que alimentaram as colônias com xarope ou mel diluído conseguiram melhores resultados”, diz o professor. “Existem criadores que apenas obtém as colônias de abelhas na natureza, entretanto o ideal seria ensinar esses produtores a multiplicarem suas colônias, de modo a incrementar o tamanho do plantel”.
Segundo Jaffé, a pesquisa aponta práticas de colheita e preservação do mel que melhoram os resultados da produção. “Entre elas estão a coleta com seringa, que é menos invasiva, e a conservação do mel por meio da pasteurização”, destaca. O controle da infestação por pragas também influi na otimização da produção de mel. “Por fim, a experiência do produtor e sua rede de contatos com outros criadores foi um preditivo importante das melhores práticas de manejo, pois auxilia na multiplicação de colônias e na troca de conhecimentos que são transferidos para a criação”.
Rendimento
O levantamento também contabilizou a quantidade de mel produzida por ano e o rendimento com as vendas do produto. “A maior parte dos criadores vende cerca de 20 litros por ano, embora alguns consigam vender mais de 200 litros”, relata o professor. Em geral, a venda do mel é não é a única fonte de ingresso de renda do produtor, sendo uma atividade secundária. “O rendimento normalmente atinge R$ 2 mil, embora alguns consigam obter até R$ 15 mil com mel e outros produtos das abelhas sem ferrão”.
Entre os produtores entrevistados para o estudo, as espécies de abelhas mais criadas são a jataí (Tetragonisca angustula) e a mandaçaia (Melipona quadrifasciata (Lepeletier)). “Elas são mais comuns no Sudeste brasileiro, região em que se concentra a maior parte dos criadores pesquisados”, aponta Jaffé. “As espécies que predominam entre os criadores variam conforme a região. No Nordeste, por exemplo, são a jandaíra (Melipona subnitida duke) e uruçu (Melipona scutellaris)”.
De acordo com o professor, os resultados da pesquisa servirão para desenvolver uma metodologia que avalie as práticas de manejo de abelhas mais efetivas. “Algumas dessas práticas já foram identificadas e a ideia é compartilhar essas informações com entidades formuladoras de políticas públicas e com os criadores”, planeja. “As conclusões do estudo também serão utilizadas na criação de programas de extensão e cursos técnicos de meliponicultura, de modo a otimizar essa atividade”.
O levantamento teve a colaboração de pesquisadores da Universidade de Texas, nos Estados Unidos, Universidade Federal Rural do Semi-Árido (Ufersa), no Rio Grande do Norte, Universidade Federal do Recôncavo Baiano (UFRB), Universidade Federal do Ceará (UFC), Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Também colaborou com o trabalho o Núcleo de Apoio a Pesquisa em Biodiversidade e Computação (NAP BioComp) da USP, sediado na Escola Politécnica (Poli) da USP, por intermédio da professora Vera Lúcia Imperatriz-Fonseca, do IB. A pesquisa faz parte do projeto de pós-doutorado do professor Rodolfo Jaffé, que contou com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
Foto: Foto: R. Jaffé
Mais informações: (11) 3091 7533; email r.jaffe@ib.usp.br, com Rodolfo Jaffé
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