terça-feira, 7 de abril de 2015

O que é comida de verdade?

Postado por Malagueta News por Mônica Lobo - Segunda-feira, 06 de Abril de 2015 

Fonte: http://goo.gl/0DMCQc 

A cozinheira e empreendedora social Regina Tchelly foi uma das convidadas do evento Conhecer e comer: caminhos para redescobrir a comida de verdade – Perspectivas do Guia Alimentar para a População Brasileira. O evento aconteceu no dia 24 de março, no Centro de Ciências da Matemática e da Natureza (CCMN), no campus Ilha do Fundão, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). A organização e realização é do Programa de História das Ciências e das Técnicas e Epistemologia (HCTE/) e o Instituto de Nutrição Josué de Castro (INJC). A cobertura jornalística para o site Malagueta foi feita por um time de seis colaboradoras de diferentes áreas de atuação, mas tendo a alimentação como interesse em comum. As colaboradoras participaram do curso de Jornalismo Gastronômico, na Faculdades Integradas Helio Alonso (Facha). A primeira matéria da série de coberturas é sobre o bate-papo Todos podem cozinhar, com Regina Tchelly, do projeto Favela Orgânica. 

Delicie-se.
A paraibana-carioca fundadora do Favela Orgânica, sempre quis ser “a cozinheira do amor”. Ela é irreverente e cativante, guardando em si os mais genuínos ingredientes dos quais é feito o povo brasileiro: alegria, garra e empenho para superar limites socialmente impostos. E, acima de tudo, uma mulher brasileira arretada e empreendedora. Tão orgânica quanto os alimentos com os quais prepara suas delícias culinárias.Regina Tchelly é uma “delícia de pessoa”, como ela mesma se auto-define com muita propriedade e humor. Mulher de fibra e de raiz, realiza seu trabalho com simplicidade e, sobretudo, com amor. Em sua apresentação, ela nos lembrou do melhor da nossa condição humana quando nos convidou a esfregar nossas mãos e aquecer nossos corações. Ela afirmou que não há como cozinhar com mãos frias. É verdade, pura verdade. Desde o início ela nos chamou a atenção para as nossas mãos, nos conduzindo na reflexão de utilizá-las como recurso de resgate da prática da culinária para alimentar o mundo com comida de verdade e afeto. 

Chegando ao Rio de Janeiro em 2001, Regina contou que se incomodava com o disperdício de alimentos na comunidade onde morava e nas feiras livres, pois na Paraíba ela aprendeu a utilizar sempre o máximo dos alimentos. Durante os 11 anos trabalhando como empregada doméstica na cidade maravilhosa, Tchelly aprendeu muito e ampliou seus conhecimentos sobre a prática culinária. Depois resolveu colocar a mão na massa em voo solo, que logo foi arrebatando muitos colaboradores e parceiros mundo afora, como suas palestras pela Europa à convite do presidente e fundador do Slow Food, Carlo Petrini.

O tempero dessa mulher brilhante nas relações humanas é a convicção de que a vida é simples e orgânica. Então, esse é o caminho sugerido por ela para contornarmos essa realidade atual de excesso de peso na população, consumo aumentado de produtos alimentícios ultraprocessados e redução de consumo de alimentos in natura. “O que é alimento?” e “O que é comida?”, foram duas perguntas direcionadas à plateia, de relevância inquestionável para a realidade atual e para as discussões que aconteceram durante todo o evento evento “Conhecer e comer” que teve como fio condutor as reflexões sobre o que é comida de verdade.Tudo começou quando Regina decidiu ministrar aulas de aproveitamento integral dos alimentos para seus vizinhos na comunidade da Babilônia e Chapéu Mangueira, na zona sul do Rio de Janeiro. Assim nasceu o projeto Favela Orgânica coordenado por ela, sinalizando que o “alimento é para unir as pessoas e não para separar as pessoas”, como afirmou em sua apresentação. As práticas de culinária, o aproveitamento total dos alimentos, o cultivo de hortas orgânicas e as relações de afeto decorrentes destas interações são destaques do trabalho desenvolvido por Regina. 

Em sua fala entusiasmada, Regina chamou justa atenção de profissionais de Nutrição que não sabem cozinhar e dos profissionais da Gastronomia que não buscam conhecer a origem dos alimentos que manipulam para a produção de seus pratos. Ela disse sem rodeios:”isso é uma pouca vergonha!”. E de fato essas duas situações são bastante contraditórias se nos basearmos num dos princípios do guia alimentar brasileiro que afirma que todos devem se apropriar das práticas culinárias em todo o seu rico processo, desde o conhecimento sobre o plantio do alimento até a sua preparação enquanto comida. Cozinhar é de primordial importância, seja para os profissionais da área de Nutrição e Gastronomia ou para qualquer cidadão desse país que deseje cultivar hábitos alimentares que favorecem a saúde individual e coletiva, as relações afetivas mediadas pelas refeições e que também incentivam processos socialmente justos e sustentáveis.

Regina Tchelly termina nos provocando com uma interessante questão: é mais fácil buscar um alimento saudável e produzido num contexto de justiça social ou curar uma doença decorrente de alimentação inadequada à saúde? A pista encontra-se na cozinha!

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