Foto: Cidade Aberta
Resultado de acordo em torno de dívidas de IPTU, a Prefeitura Municipal de São Paulo entrou em posse da conhecida Chácara do Jockey, área de grande extensão, 150 mil metros quadrados, incrustada em área urbana consolidada, bairro de Vila Sônia, Zona Oeste de São Paulo, estendendo-se da Av. Francisco Morato à Av. Eliseu Resende.
Várias são as ideias já lançadas para o aproveitamento público dessa grande gleba, todas certamente meritórias, mas, considerando a premente necessidade da capital paulista implantar dispositivos que permitam à cidade reter grande parte de suas águas de chuva e melhorar sua tão deteriorada qualidade ambiental urbana, a oportunidade de implantar nessa área um grande bosque florestado se impõe como objetivo destacadamente prioritário.
É sabido que a principal causa de nossas enchentes está na impermeabilização geral do espaço urbano, com o que praticamente todas as águas de chuva são lançadas rápida e diretamente sobre um sistema de drenagens que não lhes consegue dar a devida vazão. Uma área florestada é capaz de reter perto de 100% das águas de chuva que recebe, enquanto uma área urbanizada, ao contrário, lança mais de 85% desse volume sobre o sistema de drenagem urbana.
Considerando a área em questão plenamente florestada e uma pesada chuva de 40mm, estaríamos propiciando a retenção de algo em torno de 6 mil metros cúbicos, ou seja, deixando de sobrecarregar o sistema de drenagem com algo próximo a esse volume. Além de ter propiciado a infiltração de boa parte dessas águas.
Claro, um ou outro bosque florestado não resolverá o problema das enchentes, mas a disseminação desse e de outros dispositivos urbanos de retenção de águas de chuva, como calçadas, valetas e pisos drenantes, reservatórios domésticos e empresariais, poços de infiltração, etc., o que envolve a adoção de uma outra cultura hidrológica pela cidade, começaria a fazer a diferença.
Além desse aspecto mais hidráulico, os bosques florestados atendem as funções urbanas de regulação climática, redução da poluição atmosférica, recarga de aquíferos, proteção de solos contra a erosão, proteção de margens e mananciais, abrigo e alimentação da fauna urbana, lazer, embelezamento da paisagem urbana, educação e aproximação física e espiritual dos cidadãos com a Natureza.
Esperamos que o Prefeito Haddad se sensibilize por essa proposta e, ao decidir-se pela Floresta Atlântica da Chácara do Jockey, presenteie a população paulista com uma espetacular nova área florestada e sinalize para todo o país a adoção de uma nova cultura ambiental e hidrológica para os espaços urbanos.
Álvaro Rodrigues dos Santos (santosalvaro@uol.com.br)
Geólogo formado pela Universidade de São Paulo; ex-diretor de Planejamento e Gestão do IPT; autor dos livros “Geologia de Engenharia: Conceitos, Método e Prática”, “A Grande Barreira da Serra do Mar”, “Cubatão” e “Diálogos Geológicos” e “Enchentes e Deslizamentos: Causas e Soluções”, “Manual Básico para Elaboração e Uso da Carta Geotécnica”, consultor em Geologia de Engenharia, Geotecnia e Meio Ambiente. É Colaborador e Articulista do Portal EcoDebate.
Artigo enviado pelo Autor e publicado pelo Portal EcoDebate, 27/04/2015
"Uma floresta atlântica na Chácara do Jockey, artigo de Álvaro Rodrigues dos Santos," in Portal EcoDebate, 28/04/2015, http://www.ecodebate.com.br/2015/04/28/uma-floresta-atlantica-na-chacara-do-jockey-artigo-de-alvaro-rodrigues-dos-santos/.
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