postado por Débora Castilho em Terça-feira, 23 de Junho de 2015
Hoje o [Pensando EAN] traz trechos de um artigo cientifico escrito por Rosa Wanda Diez Garcia. No texto a autora discute sobre a comensalidade contemporânea, focalizando particularmente o impacto nas mudanças alimentares urbanas, fundamentando-se em autores das Ciências Sociais que discutem a globalização. No artigo, Rosa Wanda, faz também uma abordagem sobre o processo pelo qual alimentos e serviços são desterritorializados e alcançam um caráter global. O artigo visa contribuir para o estudo sobre as mudanças alimentares e analisar outras dimensões, além das nutricionais, do que se denomina dieta afluente.
Segue alguns trechos do artigo:
“Em decorrência de novas demandas geradas pelo modo de vida urbano, ao comensal foi imposta a necessidade de reequacionar sua vida segundo as condições das quais dispõe, como tempo, recursos financeiros, locais disponíveis para se alimentar, local e periodicidade das compras, e outras. As soluções são capitalizadas pela indústria e comércio, apresentando alternativas adaptadas às condições urbanas e delineando novas modalidades no modo de comer, o que certamente contribui para mudanças no consumo alimentar.
Produto deste modus vivendi urbano, a comensalidade contemporânea se caracteriza pela escassez de tempo para o preparo e consumo de alimentos; pela presença de produtos gerados com novas técnicas de conservação e de preparo, que agregam tempo e trabalho; pelo vasto leque de itens alimentares; pelos deslocamentos das refeições de casa para estabelecimentos que comercializam alimentos – restaurantes, lanchonetes, vendedores ambulantes, padarias, entre outros; pela crescente oferta de preparações e utensílios transportáveis; pela oferta de produtos provenientes de várias partes do mundo; pelo arsenal publicitário associado aos alimentos; pela flexibilização de horários para comer agregada à diversidade de alimentos; pela crescente individualização dos rituais alimentares.
A globalização atinge a indústria de alimentos, o setor agropecuário, a distribuição de alimentos em redes de mercados de grande superfície e em cadeias de lanchonetes e restaurantes. A difusão da ciência nos meios de comunicação e o uso do discurso científico na publicidade de alimentos também exercem seu papel no cenário das mudanças alimentares.
A estandardização de certas instâncias das práticas e do comportamento alimentar facilitam as mudanças na alimentação que vão sendo incorporadas como parte do modo de vida, como conseqüência deste. Pressionadas pelo poder aquisitivo, pela publicidade e praticidade, as práticas alimentares vão se tornando permeáveis a mudanças, representadas pela incorporação de novos alimentos, formas de preparo, compra e consumo.
Para Dória (2002) a nossa culinária, composta pelas culturas indígenas e pelas heranças negra e ocidental ibérica, são por analogia, três línguas diferentes, três sistemas culinários irredutíveis uns aos outros e ainda desconhecemos de fato nosso repertório culinário dos últimos 500 anos por falta de interesse das elites dominantes, cujos olhares sempre se voltaram para a Europa e, mais recentemente, para os Estados Unidos, em uma perspectiva de imitação, reservando desprezo pelo nativo. Ao instigar uma gastronomia sustentada na criação e redescoberta dos sabores brasileiros, o autor coloca como desafio renovar a culinária de uma estrutura formada por sistemas culinários distintos. Este suposto caráter permeável da nossa cultura resultaria, pois, em uma capacidade de importar novas práticas e gostos, de gerar novas demandas, de assumir prontamente mudanças no modo de vida e de abandonar aqueles costumes e práticas que poderiam conformar uma identidade própria. Sejam quais forem as explicações para as mudanças sofridas nas práticas alimentares, é certo que elas engendram um novo padrão alimentar.
Se por um lado tal processo de globalização amplia a diversidade alimentar, por outro também a reduz, uma vez que circula um mesmo leque de opções alimentares próprias da globalização. As mudanças na alimentação devem ser entendidas no contexto sociocultural da urbanidade em seus determinantes objetivos e subjetivos. Como as diferentes culturas e, particularmente a nossa irão absorver em seu cotidiano alimentar essa diversidade de padrões (patterns)? Como eles se acomodarão e quais mudanças podem ser provocadas no repertório culinário de referência são questões que merecem ser investigadas para melhor se delinear a comensalidade contemporânea e assim aprofundar o conhecimento sobre os seus determinantes.”
O texto de Rosa Wanda traz reflexões que se alinham à ideia central do Novo Guia Alimentar para a População Brasileira. As recomendações propostas nos 10 passos para Alimentação Saudável valorizam alimentos regionais e locais, incentivando a redução de consumo de alimentos ultraprocessados (e globais), a importância de preparar seu próprio alimento, assim como comer com regularidade e atenção, em ambientes apropriados e, sempre que possível, com companhia.
Já parou para refletir sobre a influência da globalização na sua alimentação e na do Brasil?
Leia o artigo na íntegra aqui!
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