02 e 04.04.2012
Parte I
Alho, aroeira, juá, barbatimão. Romã, cajueiro, hortelã, malva… Se fosse para fazer a relação completa, a lista das plantas medicinais amigas da saúde bucal passaria de 500 espécies. “Só no Nordeste, já foram identificadas mais de 260, com 19 indicações diferentes em odontologia”, conta o professor Fábio Correia Sampaio, coordenador do Grupo de Estudos de Fitoterapia aplicada à Odontologia (Gefao), da Universidade Federal da Paraíba. “As plantas mais usadas são as conhecidas pelas atividades analgésica, cicatrizante e anti-inflamatória”, completa o pesquisador, que em 2009 publicou, junto com os colegas do Gefao, um levantamento sobre o uso de plantas medicinais para tratar problemas bucais em João Pessoa.
Parte II
Alho, aroeira, juá, barbatimão. Romã, cajueiro, hortelã, malva… Se fosse para fazer a relação completa, a lista das plantas medicinais amigas da saúde bucal passaria de 500 espécies. “Só no Nordeste, já foram identificadas mais de 260, com 19 indicações diferentes em odontologia”, conta o professor Fábio Correia Sampaio, coordenador do Grupo de Estudos de Fitoterapia aplicada à Odontologia (Gefao), da Universidade Federal da Paraíba. “As plantas mais usadas são as conhecidas pelas atividades analgésica, cicatrizante e anti-inflamatória”, completa o pesquisador, que em 2009 publicou, junto com os colegas do Gefao, um levantamento sobre o uso de plantas medicinais para tratar problemas bucais em João Pessoa.
Na pesquisa, das várias espécies citadas pelos paraibanos, a
romã (Punica granatum) foi, de longe, a mais lembrada. A fruta é também uma das
espécies mais investigadas na área acadêmica da odontologia. Na literatura
científica, não faltam estudos in vitro comprovando que ela é capaz de eliminar
diversas linhagens de bactérias e, assim, prevenir a formação do biofilme
dental, a famosa placa bacteriana. “Se não for tratado, o biofilme pode
progredir para gengivite e até perda dos dentes e óssea”, explica a
microbiologista Paula Cristina Aníbal, que, há quase uma década, estuda a romã
na Faculdade de Odontologia de Piracicaba, ligada à Universidade de Campinas
(Unicamp). O interesse principal de Paula na fruta é o seu potencial
antimicrobiano no combate aos fungos do gênero Candida, que está implicado no
surgimento da candidíase oral, o popular “sapinho”. Em 2010, Paula descobriu,
em sua pesquisa de doutorado, que também nessa frente a romã é boa de briga.
“Os extratos da P. granatum promovem alterações nas células dos fungos, como
má-formação da parede celular, inibição do crescimento e agregação celular”,
explica.
Tudo bem que a romã pode se destacar na boca do povo e nos
microscópios dos cientistas, mas quem ainda reina absoluto nos consultórios é o
cravo-da-índia (Eugenia caryophyllata). Suas propriedades antissépticas,
aromáticas, analgésicas, cicatrizantes e antifúngicas são conhecidas,
literalmente, há séculos. Em 1728, o francês Pierre Fauchard, considerado o pai
da odontologia moderna, já indicava o óleo do cravo para o tratamento da dor de
dente e da cárie dentária. Seu princípio ativo mais importante, o eugenol, é
usado em restaurações desde o final do século 19. É ele, aliás, o responsável
pelo cheiro típico dos consultórios de dentista. “O óleo de cravo, embebido em
pelota de algodão, pode ser aplicado diretamente no dente cariado dolorido”,
diz Rogério Cavalcante, de Rio Branco (AC), cirurgião dentista habilitado em
Fitoterapia pelo Conselho Federal de Odontologia (CFO).
E tem mais: “O chá pode ser usado contra a dor e também para
halitose, estomatite e gengivites”, afirma Cavalcante. Autor dos livros As
Plantas na Odontologia (Edição do autor, 265 págs.) e Plantas da Amazônia na
Saúde Bucal (Edição do autor, 76 págs.), o cirurgião defende que o
cravo-da-índia seja adotado como símbolo universal da odontologia. “Ele é a
planta mais largamente empregada pelos dentistas do mundo inteiro”, justifica.
Em seu consultório em Curitiba, a dentista Beatriz de
Bittencourt Grotzner, também habilitada em fitoterapia, receita outras plantas.
Uma delas é a zedoária (Curcuma zedoaria), cujo extrato trata inflamações nas
gengivas. “Ela tem ação antibacteriana, antifúngica e analgésica, mas seu uso é
contraindicado para grávidas e mães que estão amamentando”, conta Beatriz, que
ainda receita bochechos com chá verde (Camelia sinensis). “Ele inibe o
crescimento da Streptococcus mutans, uma das bactérias causadoras da
cárie, além de ter ação anti-inflamatória e antioxidante”, completa.
Beatriz também lança mão, com frequência, do extrato de
própolis. “Ele é coadjuvante no tratamento das enfermidades gengivais,
estomatites, aftas, úlceras bucais, candidíase bucal, boca seca e halitose”,
lista. Tanta versatilidade deve-se às atividades antimicrobiana, antifúngica,
anti-inflamatória e cicatrizante da substância. Ou seja, tudo o que nosso
sorriso mais precisa.
Romanzeira (Punica
granatum)
As propriedades antimicrobianas são atribuídas aos
taninos, substâncias concentradas principalmente na casca do caule e do
fruto. É dotada ainda de poderes anti-inflamatórios e antibacterianos, além
de conter substâncias capazes de estancar hemorragias. O suco é usado contra
úlceras na boca. Já as flores entram em ação no tratamento das gengivas,
prevenindo a perda dentária. Em experimentos, o extrato da casca de romã
mostrou-se tão eficaz no combate à placa bacteriana quanto a clorexidina,
composto muito usado em antissépticos bucais e assepsias pré-cirúrgicas.
Malva (Malva
sylvestris)
Possui propriedades anti-inflamatórias, antibacterianas,
antimicrobianas, antifúngicas e cicatrizantes. A infusão ou tintura das
folhas secas, flores e raízes ajuda a tratar gengivites e dor de dente. “Pode
ser utilizada sob a forma de bochecho para inflamações na boca, mas em doses
excessivas pode ter efeito laxativo”, alerta a dentista Beatriz de
Bittencourt Grotzner.
Juá (Zizyphys
joazeiro)
Tem ação antimicrobiana e antisséptica. Seu pó pode ser
usado como creme dental, pois desestabiliza o biofilme (a placa bacteriana),
ajudando em sua remoção.
Aroeira (Schinus
terenithiofolius)
Possui ação antimicrobiana, anti-inflamatória e
antiulcerogênica, sendo utilizada como antisséptico e no tratamento de
estomatites. Além disso, apresenta atividade bactericida e antifúngica. Sua
tintura pode ser usada para esterilizar escovas dentais contaminadas com a
bactéria Streptococcus mutans, a principal causadora da cárie.
Cajueiro-roxo (Anacardium
occidentale)
Essa árvore tipicamente nordestina é rica em taninos, que
lhe conferem poderes anti-inflamatórios e anti-hemorrágicos. Tem ação
antisséptica, antifúngica e antiviral. O chá da casca da árvore combate
feridas, estomatites, aftas, cáries e queimaduras bucais. O óleo é indicado
para dor de dente.
Hortelã (Mentha
spicata)
A ação antimicrobiana dessa erva acaba de ser comprovada
pela cirurgiã dentista Iza Teixeira Alves Peixoto, em sua tese de doutorado
na Faculdade de Odontologia de Piracicaba. Ela descobriu que o óleo essencial
da hortelã combate o fungo causador do “sapinho”. E o melhor é que a Mentha
não afetou o metabolismo das células epiteliais, agindo apenas no fungo. O
estudo é importante porque várias pesquisas já demonstraram que a eficácia
dos agentes antifúngicos usados atualmente, como o fluconazol, vem diminuindo
devido à resistência microbiana.
Açaí: da tigela para o dentista
Gostoso e energético, o açaí (Euterpe oleracea) agora virou “evidenciador de placa bacteriana”
– aquele corante que aponta a aglomeração de bactérias no esmalte dos dentes.
A dentista Danielle Emmi, da Universidade Federal do Pará (UFPA), foi quem
teve o insight para desenvolver o corante natural, ao observar que a fruta
deixa a boca e os dentes coloridos de vermelho. Obra da antocianina, a mesma
substância que dá cor às uvas rubras.
Ao testar um concentrado do corante de
açaí, a pesquisadora confirmou a suspeita e ainda teve uma boa surpresa. “O
açaí consegue detectar as áreas comprometidas já a partir do momento em que o
biofilme começa a se formar, algo que os corantes hoje disponíveis no mercado
não fazem”, diz Danielle. “A eficácia do corante natural chegou a ser 90%
superior à dos corantes sintéticos em uso hoje.”
O concentrado, que está patenteado, foi desenvolvido para
consultórios, mas, segundo Danielle, nada impede que ele entre na composição
de produtos acessíveis à população. “É possível desenvolver produtos baratos,
como enxaguantes e pastas de dentes.” Aí, bastará um bochecho na frente do espelho
para flagar a placa. Danielle segue apostando na biodiversidade da Amazônia e
agora investiga outras espécies, como a castanha-do-pará, o bacuri, a pupunha
e o tucumã. “Eles podem ter efeito protetor contra as cáries”, desconfia. Já
o uxi tem ação anti-inflamatória e potencial para inibir o crescimento das
bactérias formadoras da placa.
O poder da copaíba
Nativa da Amazônia, a copaíba (Copaifera langsdorffii) já
ganhou fama por sua ação antibacteriana e analgésica. Agora, o óleo dessa
árvore faz parte da composição de um cimento odontológico desenvolvido na
Universidade Federal do Amazonas (UFAM) e usado para preencher o canal
radicular – o espaço dentro do dente onde fica a polpa.
Quem já fez tratamento de canal sabe: é preciso tirar a
polpa, limpar e preencher o espaço vazio com uma massa. “Hoje, não existe um
produto que cumpra esse papel dentro dos padrões físicos e biológicos
ideais”, diz a professora Angela Garrido, que desenvolveu o novo cimento. “O
produto ideal não pode escoar ou se retrair, deve preencher o canal sem
falhas para não entrar umidade e ainda possuir atividade antimicrobiana, pois
fica em contato com as células do paciente”, esclarece. “O cimento à base do
óleo de copaíba cumpre tudo isso e ainda custará cinco vezes menos do que os
produtos tradicionais.”
Outra vantagem: o óleo natural não irrita os tecidos e não
causa inflamações, um efeito colateral comum dos cimentos já utilizados. O produto
foi patenteado e aguarda liberação da Agência Nacional de Vigilância
Sanitária para chegar ao mercado.
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