Texto: Priscilla Borges , iG Brasília | 16/08/2012
Amêndoa do baru: fruto típico do Cerrado brasileiro pode
ajudar na luta contra doenças crônicas
Uma castanha escondida dentro de um fruto do Cerrado pouco
conhecido pelos brasileiros – o baru – pode ser uma grande aliada no combate a
doenças crônicas e degenerativas.
Repleta de compostos com alto poder antioxidante, a castanha
(ou amêndoa) do baru se mostrou, em pesquisa realizada pela Universidade de
Brasília (UnB), eficaz para prevenir doenças como cardiopatias, aterosclerose, câncer, diabetes, Alzheimer e
até mesmo o envelhecimento precoce.
Essas enfermidades estão diretamente ligadas ao estresse
oxidativo das células. Um aumento excessivo na produção de radicais livres
prejudica a estrutura das moléculas de DNA, carboidratos, lipídios e proteínas.
Sem conseguir controlar esses radicais livres, as lesões celulares podem levar
o corpo a desenvolver doenças.
“O estresse oxidativo é o maior responsável pelas doenças
crônicas. Descobrimos que os princípios bioativos presentes na amêndoa do baru
funcionam como protetores, por conta de suas ações anti-inflamatórias,
antivirais, anticarcinogênicas e antimicrobianas”, explica Miriam Rejane
Bonilla Lemos, a responsável pelo estudo. A pesquisadora ressalta que as
propriedades nutricionais do baru já haviam sido estudadas, mas não as
farmacológicas.
Os óleos da amêndoa do baru são tão ricos em ômega 3, 6 e 9
com ácidos graxos insaturados (81%) quanto os peixes, recomendados para quem
quer uma dieta saudável.
Além disso, a amêndoa é rica em vitamina E, que também tem função antioxidante e ajuda
na imunidade do corpo, e compostos fenólicos (como ácidos gálicos, cafeicos e
elágicos) que têm ações anti-inflamatórias e antivirais.
“O baru faz parte de um patrimônio genético riquíssimo sob o
ponto de vista medicinal, porém pouco estudado. É também um grito de alerta
contra a destruição do Cerrado”, comenta Miriam.
A pesquisa
Mirian deu continuidade a um estudo iniciado pelo grupo de
pesquisa da professora Egle Machado Siqueira, durante o doutorado no Programa
de Pós-Graduação em Ciências da Saúde da UnB, sobre 18 frutos do Cerrado. Nos
testes feitos para avaliar os potenciais nutricional e físico-químico dos
alimentos, o baru foi o que mais se destacou, porque é rico em minerais, ferro
e zinco. A partir daí, a pesquisadora iniciou outra etapa do estudo, dessa vez
com ratos.
Dividindo os animais (todos submetidos a estresse oxidativo)
em dois grupos, Mirian deu ração à base de amêndoas de baru, que contêm
compostos antioxidantes, para apenas um grupo de animais. O que os
pesquisadores perceberam é que os que tinham ingerido o alimento tiveram seus
órgãos (fígado,coração e
baço) protegidos das ações do estresse, responsável por inúmeras doenças. O
outro grupo, que recebeu uma alimentação comum, apresentava sinais de lesões
nesses órgãos.
Depois disso, Mirian decidiu ir para a Universidade Federal
de Pelotas (UFPel), onde fez graduação e trabalha, para concluir as análises
sobre as substâncias do baru ao lado do co-orientador Rui Carlos Zambiazi, do
Laboratório de Cromatografia. As conclusões do estudo levaram à publicação de
artigo científico na revista Food Research International-Elsevier. A atividade
antioxidante da amêndoa do baru foi comprovada em laboratório.
Agora, os estudos vão continuar no pós-doutorado. O poder de
cura e prevenção de doenças de cada um dos fitoquímicos do baru será analisado. Câncer e doenças infectocontagiosas como a aids estão na mira da pesquisadora.
“Existem estudos em pacientes soropositivos que mostram que
os ácidos gálico e elágico (encontrados no baru) podem inibir a ação do agente
agressor do HIV quando ligado ao receptor CD4, interferindo nos sintomas e
melhorando o quadro desses pacientes sob o ponto de vista imunológico”,
explica.
Como usar
Formada em veterinária e mestre em engenharia e ciência de
alimentos, Mirian evita “prescrever” o baru como medicamento. Apesar de
resultados promissores, ela explica que os dados são preliminares. Miriam
lembra, no entanto, que as amêndoas podem fazer parte de uma dieta saudável.
“Estudos têm mostrado que comer entre 50g e 100g de amêndoas
de baru diariamente garante a ingestão de minerais, vitaminas e proteínas
importantíssimas para o organismo. Com essa quantidade, agora sabemos que
estamos garantindo compostos fitoquímicos importantes no combate a doenças”,
diz.
A pesquisadora ressalta, no entanto, que a amêndoa do baru
tem um alto valor energético (cerca de 600 kcal em 100g). Por isso, é importante
não abusar. Além disso, para que todo o potencial nutricional e farmacológico
do baru seja aproveitado, é preciso torrar ou cozinhar a castanha – ela não
pode ser ingerida crua.
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