quarta-feira, 6 de agosto de 2014

A cidade e as serralhas

Fatos & matos nas calçadas de São Paulo - I

Marcos Roberto Furlan

Se não olhar para o chão, você poderá escorregar como o personagem de Eça de Queiroz, no romance “A cidade e as Serras” [1]. Se bem que a causa do tombo do Jacinto de Tormes foi uma casca de laranja, um tanto raro de acontecer em São Paulo, mesmo com o desleixo de muita gente, ao jogar lixo na calçada. Mas também não perceberá as espécies que brotam espontaneamente, as quais insistem em trazer ares da zona rural, tentando a sua preservação, mesmo em local onde são consideradas indesejáveis. Não é nada fácil para elas, mas ainda sobrevivem! 

Mesmo nas calçadas do movimentado cruzamento entre a Ipiranga e a São João é possível acontecer a aparição de um desses “matinhos”. Mas assim que lançam seu pequeno caule entre as frestas da calçada, logo serão retirados como ambulantes irregulares, apesar de só venderem esperanças. Bem que poderia acontecer nos corações dos pedestres, de dar o merecido respeito para essas espécies.

Dentre as serralhas, a serralhinha se destaca com suas flores lilases, cuja inflorescência lembra um pincel, o que faz com que receba também o nome de pincel-de-estudante. Tenra, mas amarga. Rústica, mas sofredora com os ataques de pulgões. Posta-se, quase que escondida, nos cantos, nos locais ermos, e quase que encostada nas árvores urbanas. 

A serralha de flores amarelas, também tenra e rústica, é amarga e adorada pelos sugadores pulgões. E tem mais duas características em comum: são comestíveis e medicinais. As flores de ambas podem formar um belo arranjo, e a da serralhinha dura um bom tempo. 

A serralha frequentemente é confundida com o dente-de-leão, mas este último não possui caule, e deverá merecer um texto também. 

Nos links, algumas informações sobre as serralhas. 


Serralha - Sonchus oleraceus
Foto de Andreia Valente Tarsitano
Dente-de-leão - Taraxacum officinale
Foto de Andreia Valente Tarsitano
Serralhinha - Emilia sonchifolia

[1] O Eça de Queiroz, no começo do século XX, como já prevendo o futuro, escreveu o romance A cidade e as Serras como crítica à “civilização” e elogio à natureza.

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