segunda-feira, 16 de março de 2015

Cientistas desenvolvem produto nanotecnológico a partir de dejetos de vaca

24/02/2015

Uma colaboração entre pesquisadores do Instituto de Química da Universidade de Brasília (UnB) e da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) permitiu o desenvolvimento de um produto nanotecnológico a partir de uma fonte inusitada e barata: o estrume de vaca, que é rico em celulose.

Brenno Neto (IQ-UnB), membro afiliado da ABC, explica que, devido ao elevado conteúdo de celulose, o estrume de vaca pode ser facilmente transformado em um material muito pequeno (na escala de nanômetros) e tipicamente não tóxico, constituído basicamente por átomos de carbono, chamado C-Dots (carbon nanodots, do inglês). Os C-dots têm inúmeras aplicações tecnológicas por emitirem uma luz intensa por fluorescência e por serem materiais muito estáveis. Além de serem facilmente obtidos através de diferentes fontes de carbono tais como fios de cabelo, pão e, agora, por estrume de vaca. 

No estudo recentemente publicado pelos pesquisadores da UnB na revista Chemistry - A European Journal, uma das mais prestigiosas da área de química e da interface da química com a biologia, os pesquisadores fizeram uma modificação química bastante simples nos C-Dots (ver imagem ilustrativa) adequando-os para sua utilização em estudos de células vivas tumorais. Desta forma, foi possível a visualização seletiva de nucléolos, uma estrutura nuclear bastante importante e de difícil visualização. 
Imagem ilustrativa de células de câncer de mama (do tipo MCF-7) com o C-Dots fluorescentes (verde) produzidos a partir de estrume de vaca

José Corrêa (IB-UnB), um dos coordenadores do projeto, explica que o desenvolvimento deste novo material permitirá a realização de estudos de dinâmicas celulares com um material mais barato, mais seletivo e de manuseio muito mais simples do que a utilização de anticorpos. 

Para Marcelo Zohio Rodrigues (IQ-UnB), idealizador da síntese de C-Dots usando estrume de vaca, o potencial do material vai muito além da aplicação em biologia molecular e celular. Novos sensores e dispositivos eletrônicos emissores de luz já estão sendo testados com o material produzido pela colaboração dos grupos. Os novos materiais poderão ser utilizados em células solares fotovoltaicas e em tantos outros dispositivos com uma durabilidade e uma eficiência até então não alcançados. 

O trabalho dos pesquisadores brasileiros pode ser visto completo publicado na revista Chemistry - A European Journal (DOI: 10.1002/chem.201406330). Clique aqui para acessar.

O membro afiliado da ABC, um jovem pesquisador, ainda fez um pequeno desabafo. Nos últimos anos, o seu grupo de pesquisa vem produzindo uma ciência com excelente qualidade, formando muitos graduados, mestres e doutores; e publicando apenas em revistas tradicionais e mundialmente reconhecidas em suas áreas de atuação. Além disso, o seu grupo vem recebendo diversos reconhecimentos nacionais e internacionais. Entretanto, nos últimos três anos, o seu laboratório recebeu apenas R$ 15 mil de financiamento. 

"A utilização de estrume de vaca foi muito devido à escassez de recursos que nosso laboratório vem enfrentando", conta Brenno Neto. Ele agradeceu a todos os colaboradores e estudantes envolvidos, lembrando-os que "até com estrume de vaca é possível se fazer ciência". "É preciso ter perseverança, força de vontade e bons colaboradores!", diz o cientista. 

(Brenno Neto, com Ascom ABC)
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