Inserida em sistemas agroflorestais a palmácea imobiliza carbono e melhora a fertilidade do solo.
Sistemas agroflorestais (SAFs) integrados com dendezeiros possuem alta capacidade de armazenar carbono e aumentar a quantidade de nutrientes no solo. Esses foram os primeiros resultados de um estudo conduzido pela Embrapa, em parceria com universidades e iniciativa privada, publicado na Revista Agroforestry Systems.
A pesquisa, realizada no município de Tomé-Açu, nordeste paraense, avalia o impacto de sistemas agroflorestais com o dendezeiro (palma de óleo) sobre o ciclo de carbono e nutrientes no solo. E o alto grau de acúmulo de carbono sugere que o sistemadendezeiro é eficiente para armazenar no solo o carbono que vem da biomassa triturada no preparo de área e da adubação orgânica.
Um dos principais resultados do trabalho é que a mudança de uso da terra resultou em um aumento no estoque de carbono no solo. “Geralmente quando você cultiva uma área que já foi de floresta, há uma perda de carbono no solo, mas neste caso, ele aumentou”, explica o pesquisador Steel Vasconcelos, da Embrapa Amazônia Oriental e um dos coordenadores do trabalho.
Em praticamente todas as análises, os solos com SAF e dendê – chamado de “dendê biodiverso” – apresentaram mais carbono que os solos com SAF tradicional (sem dendezeiro) e floresta secundária. O SAF mais diversificado com dendê acumulou 28% a mais carbono no solo que o SAF tradicional e 23% a mais que a floresta secundária. E o SAF menos diversificado, mas também com dendê, acumulou 34% a mais que o SAF tradicional e 29% a mais que a floresta secundária.
O pesquisador conta que foram avaliados estoques de carbono e nutrientes do soloem SAFs com plantios jovens de dendê, de cerca de dois anos e meio com preparo de área sem a utilização do fogo, baseado em técnica de corte e trituração da floresta secundária, com deposição do material triturado sobre o solo. Esses sistemas foramcomparados a uma área remanescente da floresta secundária de dez anos e a um SAFs tradicional de nove anos de idade.
No geral, os resultados são otimistas para o “dendê biodiverso”, segundo o pequisador. Os SAFs com dendê mostraram níveis mais elevados de pH do solo e de nutrientes, como fósforo, potássio, cálcio e magnésio. Assim como concentrações menores de alumínio no solo em relação à área de regeneração florestal, por exemplo.
O próximo passo do trabalho é verificar a permanência dessa substância no solo – carbono – com o passar dos anos e o amadurecimento do sistema. Sabe-se que a dinâmica de entrada e saída de carbono e nutrientes no solo muda com o tempo de vida dos plantios. No futuro, o benefício ao planeta pode resultar em renda extra ao inserir o dendê integrado a SAFs no mercado de créditos de carbono, por exemplo.
Expansão – Embora o Brasil ocupe apenas o nono lugar na produção mundial de óleo de dendê e palmiste, é um dos países com o maior potencial para expandir a área agrícola dessa cultura, pois possui solo e condições climáticas locais adequadas. O cultivo do dendezeiro encontra-se em plena expansão na Amazônia, especialmente no estado do Pará, que é responsável por 90% da produção nacional dessa oleaginosa.
De acordo com levantamento da Embrapa, dos 60 mil hectares plantados no Pará em 2008, a área da dendeicultura saltou para 162 mil hectares, em 2014, com destaque aos municípios de Tomé-Açu, Moju, Acará, Tailândia e Concórdia do Pará, no nordeste paraense.
Para a pesquisa, a combinação da dendeicultura aos Sistemas Agroflorestais tem potencial sustentável de expansão da atividade na região. “Os SAFs, além de apropriados às características da agricultura familiar na Amazônia, são alternativa sustentável à predominância do modelo da monocultura do dendê”, ressalta o pesquisador Osvaldo Kato, da Embrapa Amazônia Oriental.
Por Ana Laura Lima (MTB 1268, PA), Embrapa Amazônia Oriental.
Publicado no Portal EcoDebate, 18/03/2015
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